Quando falamos em viver, vocês acreditam que vivem a vida, mas isso é falso. Na verdade ninguém vive a vida, pois ela é vivida por ela mesma. O que você faz é vivenciar a vida. Vou explicar isso melhor.

Na verdade, é a primeira vez que estou separando viver a vida de vivenciar a vida. Sempre usei o termo viver e o vivenciar como sinônimos, mas hoje estou separando um do outro. Faço isso porque será preciso separar uma coisa da outra para compreender o que vamos falar.

Vivenciar a vida é ver um acontecimento acontecer. É saber que ele não tem um protagonista, mas sim a vida que o vive.

Viver a vida é imaginar que você está fazendo alguma coisa, que está participando do acontecimento. Quem vive a vida imagina que é ele que está vivendo os acontecimentos quando na verdade não existe ninguém vivendo nada. A própria vida é o que está acontecendo.

Mas, porque não existe ninguém vivendo a vida? Por causa dos objetivos da encarnação.

Como já estudamos seguidamente, quando o espírito escolhe para si determinado gênero de provação, gera uma espécie de destino (pergunta 851 de O Livro dos Espíritos):

“A fatalidade existe unicamente pela escolha que o Espírito fez, ao encarnar, desta ou daquela prova para sofrer. Escolhendo-a, instituiu para si uma espécie de destino, que é a consequência mesma da posição em que vem a achar-se colocado”.

Ora, se há um destino previamente estipulado para que o espírito possa viver as provações que pediu antes de encarnar, isso quer dizer que a vida precisa existir seguindo um trilho. Se deixássemos por conta do ser humano isso poderia não acontecer, pois como também ensina o Espírito da Verdade, depois de encarnado é outra a motivação que governa o espírito. Com esta nova motivação o ser certamente não iria querer o que pediu para viver antes da encarnação.

A partir desta compreensão sobre o desenrolar dos acontecimentos de uma vida e da ideia que ela é uma provação para o espírito, como está na pergunta 132 de O Livro dos Espíritos, podemos presumir que quando a vida acaba de viver alguma coisa expõe uma provação que está vinculada ao gênero de provas pedido antes da encarnação. Ou seja, sempre que ela vive escreve o cabeçalho de uma questão da prova do espírito e ao final da ação faz a pergunta que será respondida pelo ser universal.

Depois do cabeçalho da questão, como em toda prova humana, a vida apresenta múltiplas opções como possíveis respostas para que você escolha uma delas. Ou seja, a vida vive, cria um acontecimento e depois lhe propõe algumas reações ao que aconteceu como forma de vivenciar o que foi vivido.

Veja bem a palavra que estou usando: ela lhe propõe alguma coisa. Ela não determina como você terá que viver, mas propõe formas de viver para que você escolha qual vai vivenciar.

Participante: nós podemos não aceitar o que a vida propõe?

Claro…

Quantas vezes você já não acordou de bem consigo mesmo, tranquila e alguém faz algo que você não gosta. Neste momento lhe vêm à ideia de sofrer pelo que o outro fez, mas você não aceita este sofrimento. Diz para si mesma que está tão bem hoje que não compensa perder este estado de espírito por conta do que aconteceu.

Neste momento você reagiu não compactuando com o que a vida lhe propôs para sentir. Conviveu com o acontecimento que a vida viveu sem se deixar levar pela opção proposta por ela.

Participante: não foi a vida que viveu assim neste momento?

Não, ela lhe deu o acontecimento. Depois, lhe propôs sofrer pelo que aconteceu. Você, por estar se sentindo bem, decidiu não sofrer.

Participante: se fizermos isso vivenciamos o não sofrer. Mas, para isso é preciso estar ligado.

Sim, a necessidade de estar ligado para poder separar-se da vida é fundamental. Apesar de falar assim, repare que dei um exemplo onde você não está ligado nesta questão, mas mesmo assim fez. Ou seja, a opção pode acontecer mesmo que você não esteja ligado em si mesmo, mas isso ocorrerá esporadicamente. Se estiver ligado, pode fazer acontecer sempre.

Por isso insisto que a questão de estar ligado é necessária para a realização deste trabalho. Sem estar ligado a esta questão, normalmente você viverá o que a vida propõe. É preciso estar muito atento no momento em que a vida propõe uma reação a um acontecimento para que você possa não viver o que ela propõe.

Participante: o senhor está certo. Muitas vezes eu digo deixa para lá, mas em outras não consigo fazer isso…

Mas, o deixa para lá não tem que ocorrer no ato. Não se trata de reagir ou não fisicamente. Ele precisa acontecer com relação ao que a vida propõe que você sinta. O que precisa ser deixado de lado é o que ela propõe para sentir e não o que acontece.

Participante: o que o senhor quer dizer é que é possível nós termos um chilique daqueles fenomenais, rodar a baiana, ficar muito braba e atacar o outro e assim mesmo estar em paz?

Quem é que está tendo o chilique, rodando a baiana? A vida. Neste momento não há nada seu, não há nenhuma ação sua. Agora, depois que a vida rodar baiana, depois que tiver o chilique e brigar e gritar a vontade, ela vai lhe dizer: sofra, pois você sabe que não podia fazer isso e fez… Aí chegou a sua hora de agir. É neste momento que você precisa dizer a si mesmo que não foi você que fez a ação e que por isso, não precisa sofrer por conta do que aconteceu.

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