48. Ó Dhananjaya abraça essa forma de agir ou estabelece-te nessa yoga e renuncia ao apego. Sê indiferente ao sucesso e ao fracasso e assim comporta-te. Esta equanimidade é a própria Yoga.

O que é a própria yoga?


Participante: A equanimidade…


Que surge do que? Do desapego e da indiferença ao sucesso e ao fracasso… Ou seja, da não busca da fama individual…
O ser humanizado deixou de raciocinar e por isso convive com os seus conceitos como verdades puras, cristalinas. Mas, ao fazer isso, não entende que não está vivendo consigo mesmo, pois estes conceitos não são dele. Na verdade são conceitos que lhe são impostos, já que foram criados por sua mãe, seu pai, sua tia ou mulher, ou seja, foi a humanidade que os criou.
Quando o ser humanizado é pequeno a mãe o ensina a não andar descalço. De tanto ela repetir isto, ele toma como sua esta verdade e nunca mais anda descalço. Se andar, cria inconscientemente a culpa que pode se transformar em doença…
O ser humanizado trocou toda a arte de pensar, de escolher seu próprio caminho, pela busca da fama, ou seja, para mostrar ao mundo que ele conhece e segue as verdades do mundo… Este ser não anda calçado porque quer, mas para poder dizer que aprendeu a verdade que é aceita como certa pela humanidade…
É a isso que Krishna está se referindo neste trecho: a busca do elogio, da fama, do ser considerado humanamente certo. Por conseguinte, fala também do medo da crítica, ou seja, do medo de ser repreendido por não estar agindo corretamente.
Dentro do nosso exemplo, se o ser humanizado gosta ou não de andar descalço isso não tem importância, porque ele anda sempre calçado para provar que conhece as verdades do Universo e por medo de ser considerado alguém que destoa do mundo… Na verdade cada ser humanizado passou, por comodismo, por inação, não por maldade, a agir de acordo com as verdades que lhe foi dada, para buscar a fama…
Por isso Krishna falou anteriormente que o ser humanizado precisa voltar a raciocinar. A raciocinar espiritualmente (escolher sentimentos) e não deixar levar-se pelos gunas que dão características aos pensamentos…
O ser humanizado precisa voltar a discutir consigo mesmo. Será que ao criticar o próximo está amando-o? Será que se ao acusar o próximo está amando-o? Será que ao desejar uma coisa a ponto de sofrer se não consegue está amando mais a Deus do que a si mesmo?
Realizar estes questionamentos no seu mundo sentimental é o caminho da yoga, o caminho da elevação. Aqueles que entram neste caminho têm como prática voltar a raciocinar espiritualmente. Com isso o ser humanizado volta a realmente viver, pois hoje ele não vive: conta tempo, passa pela vida. Isso porque apenas repete conceitos sentimentais sem exercer o livre arbítrio, exercício esse que caracteriza o seu existir…
Salomão, o Sábio, dá um grande conselho neste sentido: será que você pode fazer alguma coisa que ninguém fez? Veja que tudo que um ser humanizado pode fazer, já foi feito por outro. Sendo assim, o ser não cria nada: apenas repete o que alguém já fez. É importante entender isso porque se a elevação é caracterizada por uma reforma íntima, é preciso reformar o nosso íntimo. Ninguém se reforma apenas repetindo o que todos fazem…
Se alguém bebe, o ser humanizado logo vibra na acusação chamando-o de alcoólatra… Acha que este conceito é ele que está criando, mas não vê que é apenas uma repetição do que o mundo, a sociedade, a humanidade acha. Será que se você vibrar dentro da sensação que acompanha a denominação de alguém como alcoólatra isso é sinal de amor? Ou amá-lo não seria dar a ele o direito de beber até morrer, se assim quisesse? Claro que sim, pois desta forma estaria utilizando o sentido de liberdade que está embutido no amor.
Para que você ame o outro deve conceder a ele a liberdade absoluta, ou seja, dar o direito dele fazer, estar e ser o que quiser. Esta forma de viver respeita o direito à individualidade que todos querem ter e que, por conseguinte, devem dar aos outros para amá-los segundo o Espírito da Verdade.


NOTA: Refere-se a uma pergunta de O Livro dos Espíritos onde o Espírito da Verdade afirma que a expressão máxima do amar é dar ao próximo o que deseja para si. Neste caso, se alguém quer ter o direito de não beber, deve dar ao outro o direito de fazê-lo.


O ser humanizado não tem nada a ver com a vida do outro, porque não a vive. Apesar disso, não consegue viver sem criticar a quem bebe, pois precisa mostrar que conhece as leis morais do planeta (beber não é certo) para poder assim, ser reconhecido como uma pessoa boa…
É isso que Krishna fala neste texto. Ele fala que, apesar da ação dos gunas que criará no pensamento o sentido de criticar o outro (ele é um bêbado, não presta), o verdadeiro yogue busca raciocinar do ponto de vista sentimental: eu amo essa pessoa?
Não estou falando de amor humano, daquele que tem condições para existir. Estou falando do amor universal, aquele que é incondicional. Quando o ser humanizado ama universalmente alguém, o acolhe em seu coração sem críticas, bêbado ou são…
O amor universal não tem dualismos: existe numa hora e não existe na outra. Por isso, não importa se a pessoa deixou de beber, está bebendo ou já está bêbado, ele existe…