Participante: se o que penso ser é ilusório, de um ponto de vista mais absoluto, as outras pessoas, ou melhor, todos os outros seres também são imaginários, frutos de maya que estou vivenciando? Os ensinamentos na linha do Vedanta sempre proclamam o Eu como ser absoluto. Até que ponto existe a minha individualidade enquanto espírito distinto dos outros e de Deus? Até que ponto estou me relacionando de fato com outros seres e não comigo mesmo? Enfim, até que ponto o solipsismo existiria ou não?

Quem resolveu essa questão para nós foi uma pessoa quando tentou explicar o ensinamento que diz Deus Causa Primária, quando tentou explicar a predestinação da vida, o fato de tudo já estar escrito. Essa pessoa disse o seguinte: ao nível de Deus, tudo é sabido, tudo o que vai acontecer já está escrito. Ao nível do humano, tudo não está escrito, tudo acontece a cada momento.

Para responder a essa sua pergunta quero usar essa explicação. Vou dizer: ao nível de Deus, ou espiritual existe tudo. Ao nível humano, não existe nada.

Olhe para a tela do seu computador; ela não existe. Olhe para a letrinha que está na tela; ela não existe. Quer algo pior? Você está ouvindo a minha voz? Não! A minha voz não existe para você que é humano; o que existe é uma onda eletromagnética.

Já a nível universal, tudo existe. Mas, como as coisas existem? Como o que são na realidade. Existe, usando o último exemplo, a onda eletromagnética. Preste atenção: ao nível humano, existe a minha voz, porque você acha que ouve ela. Só que o que ouve é irreal, ilusório, pois o que está ouvindo mesmo é uma onda eletromagnética.

O que você precisa entender é isso: mesmo que ao nível espiritual as coisas existam de uma forma diferente, ao nível humano tudo o que você vivencia existe e é real, para você. Se alguém pisar no seu pé, vai doer e essa dor será real, por mais que acredite que tudo desse mundo é irreal. Se alguém bater no seu carro vai sentir raiva e ela é real e o carro amassado também.

Não entre naquilo que é criado por um processo racional afirmando que nada existe. Isso é falso. Se nada existe teria que haver um vazio, mas isso não pode existir por uma criação racional, pois a própria criação racional já é alguma coisa.

Portanto, esqueça tudo a esse respeito! Você sempre continuará vivendo as criações mentais como reais. Porquê? Porque o que sua razão cria é sua provação.

Você não pode simplesmente dizer que o pisão no seu pé não existe, porque esse acontecimento é a sua prova. O acontecimento é real, a dor é real, pois são essas criações mentais que vão como vai lidar com a dor e com quem pisou no seu pé. Se simplesmente disser que o pisão é ilusão, então não fez nada a respeito da sua prova. Não aproveitou aquela prova, aquela oportunidade.

Portanto, esqueça essa questão de que nada existe, pois essa ideia é apenas uma razão querendo acabar com a razão. Quando usa a ideia de nada existir para se libertar de alguma razão, está usando uma razão para se libertar de uma razão.

Participante: como saber o que é ilusão?

Tudo, tudo é ilusão, nada é real.

É o que disse antes: tudo que você é consciente, é racional, é ilusório; só o que não tem consciência de existir é que é real. Um exemplo: o espírito que está ao seu lado nesse momento.

Participante: resolver a coisa por negação.

Não estou falando em negação, mas em libertação.

Não se trata de negar a realidade. Não é negar isso ou aquilo, mas dizer o seguinte sobre o que a razão cria: ‘não sei’. Não sei não é negação, mas dizer: pode ser, pode não ser.

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