“O Espiritismo condena a eutanásia, por entender que não temos o direito de interromper uma vida, seja em que circunstância for. No entanto, com o avanço da tecnologia na medicina, temos hoje situações em que os médicos afirmam categoricamente que o paciente não tem mais condições de sobreviver sem as máquinas, até porque sua atividade sua cerebral está completamente zerada. Ou seja, esse paciente estaria tecnicamente morto, tendo sua atividade metabólica sustentada apenas por aparelhos. Pergunto, então, como podemos decidir, sem problemas de consciência, qual o momento certo para autorizar o desligamento dos aparelhos? Como saber com certeza que não estamos interrompendo uma prova ou uma expiação? Se optamos por não desligar em condição alguma, como ter certeza de que não estaríamos ocupando o lugar de alguém que precisa mais daquele leito do que uma pessoa que já está tecnicamente morta? Levando em consideração que diversas narrativas de EQM (experiência de quase morte) demonstram claramente que um espírito tecnicamente desencarnado pode retornar ao seu corpo e retomar sua vida física, gostaria de saber em que ponto estaríamos realmente cometendo eutanásia.”
A pergunta em pauta inicia-se com uma afirmação: “O Espiritismo condena…” O espiritismo como ciência, filosofia e religião baseada nos ensinamentos do Mestre Jesus Cristo não poderia “condenar” qualquer atitude, pois não foi este o ensinamento deixado por nosso Irmão Maior.
Os praticantes do espiritismo podem, por sua livre interpretação, condenarem atitudes, mas que não utilizem os ensinamentos maiores como tábuas de lei para avocar o direito de se colocarem na posição de juízes das atitudes alheias.
Todos os ensinamentos que compõem a doutrina espírita foram trazidos ao planeta Terra como auxiliares no desenvolvimento da fé ensinada por Jesus Cristo e, por este motivo, não podem feri-la. Se o Mestre não acusou aquela que quebrou a lei na célebre passagem do “atirar a primeira pedra”, o espiritismo como intérprete destes ensinamentos, também não poderia ser o primeiro a atirar a pedra.
Na verdade, esta informação como base doutrinária nada mais é do que a “visão” de alguns participantes que se julgam mais realistas do que a própria verdade e procuram, em nome de falsos louvores a Deus, exercer uma patrulha ideológica a atitudes, o que o próprio espiritismo veio para combater. Como filosofia e ciência, o espiritismo veio trazer informações técnicas para melhor explicar os ensinamentos de Jesus Cristo e não se contrapor a eles.
Ao afirmar que o Espiritismo condena a eutanásia, os espíritas fogem do próprio texto da Codificação Espírita.
O Livro dos Espíritos – Pergunta 853 a – Assim, qualquer que seja o perigo que nos ameace, não morreremos se a hora não é chegada? Não, tu não perecerás, e disso tens milhares de exemplos. Mas, quando é chegada a tua hora de partir, nada pode subtrair-te dela. Deus sabe, antecipadamente, de qual gênero de morte partirás daqui e, freqüentemente, teu Espírito o sabe também, porque isso lhe é revelado quando faz a escolha de tal ou tal existência.
Se a obra que fundamenta toda a ciência, filosofia e religião espírita afirma que o espírito na carne sempre desencarnará na hora prevista e de uma forma pré determinada, jamais poderá o homem alterar esta programação.
O simples fato de serem desligados os aparelhos que mantém a vida em situação artificial ou ainda “antecipar” o fim para minorar o sofrimento, não pode ser considerada uma fatalidade, mas nada mais do que o cumprimento dos planos traçados por Deus para aquele espírito. Como ensinado na resposta em epígrafe, não será o ato que determinará o fim da encarnação porque o ser humano jamais “morrerá antes da hora”, “e disso tens milhares de exemplos”.
Aquele que conseguir desencarnar por ato alheio (eutanásia) estará apenas cumprindo os desígnios do Pai para aquela encarnação. Portanto, respondendo ao resto da pergunta, aquele que estiver na situação da decisão de desligar ou não os aparelhos, não deve se preocupar se o que está fazendo é “certo” ou “errado”.
Para que o desígnio de Deus seja cumprido, terá o Pai que determinar o ato ou não. Esta comunicação de Deus com os espíritos se dá através da “intuição”, como também foi trazido à luz pelo próprio Espiritismo que a rejeita (perg. 525 e comentários) como direcionamento para os atos. Na prática, esta intuição se sente através dos sentimentos.
Portanto, respondendo à pergunta formulada, digo àqueles que estão vivenciando um caso onde devem tomar a decisão de desligar ou não aparelhos que mantenham a “vida” de um ser humano, que tomem esta decisão baseando-se no seu “coração”. Posteriormente, não se preocupem com o ato tomado, pois o aparelho só será desligado ou não, a morte só virá ou não, como conseqüência de uma programação anterior de Deus e nunca do ato praticado pelo homem.
Para aqueles que não se encontram neste dilema, mas que tomam conhecimento de fatos desta natureza, meu conselho é de que aprendam as verdades do universo e sigam os ensinamentos do Mestre e não sejam os primeiros a atirar a pedra.