“…a Doutrina Espírita ou o Espiritismo tem por princípio as relações do mundo material com os espíritos ou seres do mundo invisível.”

“… o espiritualismo é o oposto do materialismo: quem quer que acredite haver em si mesmo alguma coisa além da matéria é espiritualista; mas não se segue daí que creia na existência dos Espíritos ou em suas comunicações com o mundo visível.“

“Como especialidade “O Livro dos Espíritos” contém a Doutrina Espírita; como generalidade liga-se ao Espiritualismo, do qual apresenta uma das fases.

LIVRO DOS ESPÍRITOS – INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA – I – ESPIRITISMO E ESPIRITUALISMO – Allan Kardec

O que é o espiritualismo?

Na obra básica do espiritismo “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec definiu o espiritualismo como “quem crê haver em si outra coisa que a matéria” (Introdução I). Esta definição é demasiadamente genérica para encerrar o termo espiritualismo.

O espiritualismo entendido desta maneira é estático, pois o ser apenas acreditaria na existência dentro de si deste algo mais, mas nada faria com relação a isto. No Universo nada é estático, portanto, o espiritualismo não pode resumir-se apenas nesta crença, mas deve promover ações a partir deste conhecimento.

Assim como Allan Kardec definiu no mesmo livro os princípios do espiritismo como “as relações do mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível”, o espiritualismo deve também possuir princípios que lhe dê dinamismo. São estes princípios que tornam o espiritualismo diferente das demais crenças do universo.

Analisando-se à luz da definição morfológica do termo, o espiritualismo é a “doutrina cuja base é a prioridade do espírito com relação às condições materiais” (Mini Dicionário Aurélio – 3a. Edição). Juntando-se as duas informações, podemos definir o espiritualismo como “um conjunto de atitudes que prestigiem o algo mais que se acredita existir dentro de cada um e não pautar a existência na busca da satisfação exterior”.

O espiritualismo, portanto, não é apenas a crença da existência de algo superior à forma humana, mas a doutrina que acredita que a existência carnal deve ser vivida objetivando satisfazer este algo a mais. O espiritualismo deve, então, conter ensinamentos que auxiliem o ser humano a executar essa existência.

Transmitir os ensinamentos que auxiliem o ser humano a promover a reforma íntima que leve à plenitude de uma existência corporal com esta finalidade é a função das religiões. Todas elas possuem uma doutrina formada a partir de ensinamentos deixados por mestres enviados por Deus.

Se analisarmos bem de perto as informações que todos esses mestres trouxeram, veremos que sempre houve uma motivação em comum: alterar o sentido da vida carnal. Jesus nos falou que devemos amealhar bens no céu e não na Terra. Kardec nos disse que a vida material é apenas uma escala da elevação espiritual. Mohamed transmitiu os ensinamentos do Anjo Gabriel que nos avisam que devemos aceitar os desígnios de Deus para esta vida para merecermos o paraíso celeste. Sidarta Guautama ensinou como se viver no Nirvana, ou seja, no paraíso.

Além de falar desta outra existência todos os mestres transmitiram os ensinamentos necessários para que o ser humano, utilizando-se do seu livre arbítrio, pudesse pautar a sua vida carnal na busca da satisfação interior. Jesus nos falou do amor e de sua ação, Kardec lembrou a felicidade alcançada com a evolução espiritual, Mohamed nos disse que esta felicidade pode ser alcançada durante a existência carnal e Buda ensinou os mecanismos para isto.

Analisando-se a base dos ensinamentos dos mestres, podemos afirmar que todos eles eram espiritualistas, dentro da acepção que alcançamos. Portanto, para se criar uma doutrina que ensine ao ser humano que ele é algo mais do que a carne que o envolve e que o leve a viver a sua essência espiritual ainda encarnado, é necessário compreender os ensinamentos de todos os mestres da humanidade.

O espiritualismo não pode existir sem o ecumenismo, pois todos os mestres foram, antes de tudo, espiritualistas.

O espiritualismo utiliza os ensinamentos de cada um dos mestres da humanidade como “cadeiras curriculares” de um curso universitário. Para se formar em medicina, por exemplo, o ser humano necessita aprender biologia, anatomia e outras matérias. Para se tornar espiritualista, o ser deve compreender os ensinamentos trazidos por todos os mestres.

Assim, o espiritualista vê nos ensinamentos de Jesus o objetivo a ser alcançado durante a sua existência: a prática do amor. Aprende com Kardec como se processa o relacionamento dele com sua vida eterna enquanto obscurecido pelo “’véu do esquecimento”. Com Mohamed descobre que existe um Ser Universal que comanda todas as atividades terrestres visando o “bem” maior: o universal. Segue os ensinamentos deixados por Sidarta Guautama como técnicas para colocar a sua espiritualidade em ação na carne.

Mas, apenas este conhecimento não transforma o ser humano em ser universal: é preciso transformar o seu objetivo de vida material. Os ensinamentos dos mestres são instrumentos que por si só de nada valem ao ser: é necessária a prática para que se alcance a universalização.

Por isto o espiritualismo é mais do que simplesmente acreditar na existência do “algo mais” que existe além da matéria: é a aplicação dos ensinamentos de todos os mestres com o desejo único de ser alcançada a plenitude da existência espiritual.

É também neste ponto que o espiritualismo se difere das religiões existentes hoje no planeta. Enquanto elas criam doutrinas que levem o ser humano a, no mínimo, suportar seus infortúnios como forma de uma existência material mais amena, o espiritualismo ensina a passar por todos os acontecimentos com a real compreensão destes.

As religiões objetivam satisfazer momentaneamente o ser com a satisfação pessoal, o espiritualismo ensina a alcançar a verdadeira felicidade: a universal.

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