Texto baseado no comentário de Allan Kardec à questão 13 de O Livro dos Espíritos

Deus é eterno. Se tivesse tido princípio, teria saído do nada, ou, então, também teria sido criado por um ser anterior. É assim que, de degrau em degrau, remontamos ao infinito e à eternidade.

Deus é eterno. O que quer dizer isso? Que Ele não tem princípio nem fim.

É aquilo que já conversamos: para o ser humanizado tudo tem que começar em um determinado momento e tem que haver outro onde este algo acabará. Isto não se aplica ao Deus.

Sei que é difícil compreender o que quero dizer, pois faltam elementos para vocês compreenderem a eternidade de Deus, mas Ele é eterno. Esta é a sua primeira propriedade.

Além disso, Kardec afirma: se tivesse princípio, teria saído do nada ou de outro ser anterior. Este é um pensamento lógico, pois se Deus é a Causa Primária de todas as coisas, Ele não pode ter sido causado por nada.

Enfim, Deus é eterno (não teve início nem fim) porque não foi causado por nada.

É imutável. Se estivesse sujeito a mudanças, as leis que regem o Universo nenhuma estabilidade teriam.

Deus é imutável, ou seja, não passa por vicissitudes, mudanças, alternâncias. Deus é eterno e, além disso, imutável.

Sei que estes são valores incompreensíveis para as mentes humanas: como algo pode permanecer durante toda eternidade sem se mudar um milímetro, sem alterar nada? Apesar de incompreensível, estes são valores que precisam ser conscientizados por aqueles que buscam a elevação espiritual.

Isso porque ninguém promove a reforma íntima sem vivenciar na totalidade a ação da Causa Primária. Aquele que está preso nas múltiplas origens dos acontecimentos jamais conseguirá viver a Justiça e a Bondade que fazem parte da Perfeição.

Mas, para se viver a ação da Causa Primária é preciso se compreender a sua imutabilidade, pois se assim não fosse a Perfeição se alteraria. Se a Causa Primária não fosse imutável, no momento anterior à mudança ela não foi perfeita.

Vou dar um exemplo. Já houve tempo neste planeta que arrotar depois de comer era sinal de boa educação. Hoje é prova de falta de educação.

Foi Deus que mudou? Foi Ele que antes achava normal arrotar e hoje não? Não pode ter sido, pois se Ele mudasse o conceito sobre o arroto teria cometido uma injustiça no passado ou agora.

Precisamos compreender isso: arrotar não é certo nem errado. Sabe o que é arrotar? É arrotar… Nada além… Todo resto (bonito ou feio, higiênico ou não) é o que cada ser humanizado acha.

São os seres humanizados que chamam este ato perfeito causado pela Causa Primária de falta de educação, de falta de higiene, mas antes ele não era visto desse jeito. Sendo assim, não foi Deus quem mudou: foi a idéia sociedade sobre a coisa que mudou,. Isso ocorre porque os seres humanizados são mutáveis, mas Deus não.

Deus é imutável e por isso desde o início tudo é igual. A Causa Primária sempre causou o arroto da mesma forma, mas a sociedade, que é mutável, mudou os valores a respeito dele.

Mas, isso também não quer dizer que chegou à Verdade ou a Realidade, pois ainda não atingiu à Perfeição. Reformar-se não é mudar de errado para certo, mas atingir à Perfeição e isso ocorre quando se vivencia a ação da Causa Primária. 

É imaterial. Quer isto dizer que a sua natureza difere de tudo o que chamamos matéria. De outro modo, ele não seria imutável, porque estaria sujeito às transformações da matéria.

Este é outro conceito que o ser humanizado não consegue imaginar, pois também aplica a si mesmo a auto imagem de ser material…

Deus não possui materialidade alguma, não é constituído de nada que possa ser chamado de matéria. Mas, você também não é. Você, espírito, é imaterial…

Mas, você não consegue imaginar-se assim: pensa que é o corpo que veste. Por isso diz: minha mão, minha perna, meu espírito… Mais adiante vamos estudar que o espírito (você) é: uma centelha etérea, um brilho…

Portanto, quando queremos dar algum valor material a Deus, fugimos completamente à Realidade.

É único. Se muitos deuses houvesse, não haveria unidade de vistas, nem unidade de poder na ordenação do Universo.

Claro… Se existe uma Causa Primária ela tem que ser Única. Se isso não acontecesse (houvesse dois agindo primariamente sobre as coisas), um teria que mandar no outro e aí somente este seria o Deus.

Precisamos compreender que Deus é a apenas uma palavra. Como já foi estudado na pergunta 001 a única coisa que podemos conhecer de Deus é a sua ação como Causa Primária. Portanto, Ele é, para cada um, aquele/aquilo que causar primariamente as coisas do Universo, não importando o nome ou forma que se dê a Ele.

Aplicando-se, portanto, a propriedade da Unicidade à Causa Primária da ação dos elementos do Universo, tem que se compreender que tudo que existe é Uno. Com esta consciência formada, precisamos extinguir a dualidade (os pares de opostos que dizemos existir). E a primeira delas que precisamos extinguir são os valores bom e mau.

Depois que conhecemos e aplicamos na prática as propriedades de Deus, precisamos compreender que não existe algo que possa ser bom e outro que possa ser mal. Se isso fosse possível, não existiria a Imutabilidade da Causa Primária.

Além disso, se houvesse este par de opostos, um teria que ser a origem primeira das coisas, ou seja, teria que suplantar o outro. Se existisse um Deus e um diabo, por exemplo, um teria que mandar no outro e este, não importando o nome que se dê a Ele, seria o Deus, pois originaria primariamente as coisas. Se eles se alternassem como geradores primários da situação, a propriedade da imutabilidade não existiria.

Portanto, não pode haver o bom e o mal, Deus e o diabo, o espírito de luz e o obsessor. Quem quer que cause primariamente qualquer elemento do Universo precisa ter eternamente este poder e ele precisa ser exercido com a propriedade da imutabilidade.

Quem quer que ocupe esta função de uma forma Imutável e Eterna, portanto, é o Deus do Universo.

A partir desta definição de Deus, precisamos compreender que aquilo que os seres humanos chamam de mau é causado por Deus. Não como maldade, mas como resultado de uma análise perfeita (Inteligência Suprema) daquilo que cada um merece. Na realidade a maldade passa a existir somente quando a inteligência secundária (espírito) analisa o que a Primária causou e cria este atributo ao que foi causado. Originariamente a coisa (pessoa, objeto ou acontecimento) foi causada Perfeita, mas a inteligência secundária alterou o seu valor.

Mas, quantas coisas hoje você não gosta e amanhã passa a gostar? Será que você, uma inteligência secundária, que é mutável e temporária, é capaz para julgar a Causa Primária?

A Realidade, a Verdade, do Universo é eterna e imutável. Então, Deus é imutável, pois sempre fez aquilo que a sua propriedade inteligência determinou para cada coisa do Universo.

É onipotente. Ele o é, porque é único. Se não dispusesse do soberano poder, algo haveria mais poderoso ou tão poderoso quanto ele, que então não teria feito todas as coisas. As que não houvesse feito seria obra de outro deus.

Esta é uma frase interessante… O que quer dizer onipotente?

ONIPOTENTE. 1. Que pode tudo; que tem poder absoluto. (MINI DICIONÁRIO AURÉLIO)

“Que pode tudo”… Este é o valor da palavra onipotente que representa um atributo que a humanidade aplica ao Deus. Mas, apesar disso, vocês acusam o presidente da república de não acabar com a fome, de não construir moradias para os sem teto, de não promover a reforma agrária…

Será que o presidente da república tem mais potência do que Deus? Será que o Deus Onipotente não pode dar um prato de comida para quem tem fome sem autorização do presidente? Será que o Deus Onipotente, Causa Primária de todas as coisas, não pode construir uma casa para quem não tem e tem que esperar o presidente fazer? Será que o Deus Onipotente não pode invadir as terras e dividi-las entre quem não tem, apesar do presidente defender os latifúndios?

Ah não, Deus não se mete nisso’… Esta é a resposta que normalmente os seres humanizados dão a estas perguntas…

Como não se mete… Isso aqui é a casa Dele; o Universo é a casa de Deus… Isso aqui é Ele… Como Ele deixaria uma parte Dele agir sozinha e ainda por cima preservar a imutabilidade?

“Que tem poder absoluto”… Deus é a Causa Primária de todas as coisas e por isso precisa ser Onipotente, ou seja, precisa poder tudo. Se Ele não puder tudo, não pode ser a Causa Primária, pois haveria coisas que não poderia causar…

Lógica… Estudo lógico… Análise lógica…

É preciso alcançar a lógica na aplicabilidade dos ensinamentos para que o conhecimento resulte em alguma coisa. De que adianta dizer que sabe que está escrito em O Livro dos Espíritos que Deus é Onipotente, mas na sua casa achar que Ele não manda? De que adianta dizer que sabe que Deus é Onipotente, mas imaginar que não pôde salvar as pobres das criancinhas na Rússia?

NOTA: Este estudo foi realizado em 2004. Neste caso, o amigo espiritual se referia a um acontecimento ocorrido na Rússia, onde terroristas invadiram uma escola e mataram dezenas de crianças.

É muito fácil… É muito fácil se virar para Deus, reconhecer a Sua Potência, quando Ele faz para nós individualmente, quando a Causa Primária satisfaz as paixões e desejos do ser humanizado. Mas a Verdade é uma só e precisa ser reconhecida em todo momento: tudo é causado primariamente por Deus por causa de Sua Onipotência. É preciso reconhecer a Causa Primária de Deus em todas as coisas e não apenas naquilo que nos satisfaz…

Se os terroristas mataram as criancinhas, na Verdade foi Deus quem fez. Foi Deus quem causou isso; foi Ele que por sua Potência fez acontecer; e fez porque, pela sua análise (Inteligência Suprema) aquilo era o perfeito que devia acontecer. Louvado seja Deus…

É soberanamente justo e bom. A sabedoria providencial das eis divinas se revela, assim nas mais pequeninas coisas, como nas maiores, e essa sabedoria não permite se duvide nem da justiça nem da bondade de Deus.

Ele é soberanamente justo e bom, ou seja, o resultado da sua análise é a aplicação da Justiça e do Amor. A Causa Primária vem embutida em Justiça e é oriunda do Amor de Deus por seus filhos.

Desta forma, podemos compreender que Deus é Onipotente, mas Ele não faz acontecer o que quer, o que tiver vontade… Ele só faz acontecer aquilo que resultou de uma análise através de um processo, que chamaremos de raciocínio por falta de conhecimento de outros elementos. O resultado desta análise é Perfeito, pois é fruto da Inteligência Suprema.

Por isso podemos dizer que Ele soube avaliar perfeitamente para dar a cada um de acordo com a sua obra. Ele soube avaliar perfeitamente todas as intenções de cada um e, a partir deste resultado, gerar o que cada um merecia e precisava…

Ele avaliou perfeitamente tudo e deu o resultado desta avaliação a cada um. Mas só que Ele não causa o resultado desta avaliação (merecimento) como castigo ou pena. Isto porque a Causa Primária vem embutida de amor.

Deus dá o justo, mas de uma forma amorosa. Isto é o máximo que vocês podem compreender, porque estão longe de entender o amor de Deus por seus filhos… Os seres humanizados ainda pensam neste amor como instrumento de satisfação de vontades, mas Deus, que conhece a Realidade, ama a cada um de acordo com a necessidade Real do espírito.

Agora que já vimos todos os atributos de Deus, precisamos começar a compreender a vida. Para isso, vou usar um exemplo… Você sai de carro vem outro e bate atrás.

Esta seria uma análise humana deste acontecimento: eu saí de carro e veio um motorista desatento, que não sabe dirigir, que não vale nada e bateu no meu carro. Mas este raciocínio, esta consciência sobre um acontecimento, não pode existir para aqueles que dizem que aceitam os ensinamentos do Espírito da Verdade como guia para a elevação espiritual.

Através de O Livro dos Espíritos sabemos que Deus é a Causa Primária e que, por isso, Ele age no pensamento dos seres humanos e comanda o “funcionamento” das coisas materiais para que o acontecimento desenrole-se como Ele julgar Perfeito. Sendo assim, o ser humanizado que acredita nestes ensinamentos precisa compreender que esta pessoa não deixou de frear o carro porque Deus não deu o pensamento a ele para isso e nem fez que os elementos do carro tivessem esta ação.

Mas, Deus não fez isso acontecer porque aquele homem estava desatento, porque não sabia dirigir ou porque não presta: fez porque este acontecimento foi criado como resultado perfeito de uma análise que Ele fez de sua forma de viver… Em outras palavras, carma…

NOTA: Se a resultante da análise divina é permeada pelo Amor, o carma não pode ter o mesmo valor que hoje aplicamos a ele: castigo, penalidade. Carma é a apenas a reação a um momento anterior, mas sem a conotação de castigo. Ele não é bom nem mau, mas sim justo.

Deus lhe deu este acontecimento como resultado da análise que foi realizada a partir da Justiça. Mas a intenção Dele ao aplicar o justo não é lhe punir, causar prejuízos… Ele fez isso pelo Amor que tem a você.

Na hora que bateram no seu carro Deus está perguntando: você ama mais o carro ou Eu? Você é capaz de oferecer a outra face? É capaz de perdoar este motorista?

O Amor existente na formação da Causa Primária dá a ela o sentido de ser uma geradora de uma nova oportunidade de elevação espiritual. Deus faz as coisas acontecerem – e para isso comanda todas as coisas (as propriedades da matéria e o pensamento humano) – visando dar a cada espírito uma nova oportunidade de praticar aquilo que veio fazer na encarnação: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

O Amor presente na Causa Primária pode ser comparado ao de um pai e uma mãe terrestre que sabem que o seu filho não quer ficar de castigo, mas o coloca assim mesmo para lhe dar uma oportunidade de refletir e se mudar para viver um futuro melhor.

Agora fechamos todo painel a respeito do conhecimento sobre Deus. Ele é a Causa Primária, mas não a exerce de uma forma arrogante (fazendo o que quer) e nem julga para obter uma condenação… O direito de Ele ser a Causa Primária existe porque ela é naturalmente exercida pela maior capacidade de análise do Universo, por aquele que é Imutável, Eterno e Onipotente e soberanamente Justo e Bom.

Então, fechamos tudo sobre Deus Causa Primária de todas as coisas que, aliás, é o primeiro assunto deste primeiro capítulo do primeiro livro: Deus e o Universo. Compreendemos Deus e sua ação no universo, Deus e sua presença no Universo, Deus e sua existência universal.

Agora acho que vocês podem entender a vida e o mundo em que vivem. Era tão simples entender… Estava tudo escrito em O Livro dos Espíritos há muitos anos…

Não inventamos uma palavra, um comentário. Simplesmente lemos o que está escrito. Mas, por que será que um ser humanizado não consegue compreender da mesma forma que vimos? Vocês saberiam me dizer?

Participante: Acredito que seja por questões de interpretação…

Sim este é o problema… Mas, saber isso ainda não responde a minha pergunta. Portanto, volto a fazê-la com outras palavras: por que a interpretação da maioria não alcança tudo o que interpretamos?

Vou responder com um texto do Espírito da Verdade neste capítulo: “O orgulho é que gera a incredulidade. O homem orgulhoso nada admite acima de si. Por isso é que ele se denomina a si mesmo de espírito forte” (Pergunta 009). Aí está porque as pessoas que lêem isso não encontram a interpretação que nós encontramos…

Os seres humanizados, não conseguem alcançar esta interpretação, esta Verdade, no mesmo texto que lemos, porque estão orgulhosas de ser, ter e estar humano. É esse orgulho de ser alguma coisa, de ter as coisas e de estar na humanidade (ser o homem) é que não deixa o ser humanizado compreender o Universo. Ele acha que nada existe acima dele; ele é o ser superior, o espírito forte.

A primeira coisa que temos que ter para estudar qualquer texto sagrado é a humildade. A humildade de não ser, de não ter, de não estar… Enquanto o ser humanizado quiser ler de cima para baixo – como superior, como o certo, como o conhecedor das Verdades – como se ele fosse a Causa Primária, o deus, o único, o eterno, o imutável, o onipotente, nada entenderá e criará um monte de verdades individualizadas e não poderá, então, conhecer as universais. Isto porque no Universo a Realidade é só uma: Deus é, Deus está, Deus tem…

É por isso que muitos leram e não chegaram às mesmas conclusões que estamos chegando hoje.

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