Até aqui temos falado muito na reforma íntima, na mudança interior de cada um que leva à elevação espiritual. O culminar deste processo pode ser chamado de despertar, renascer ou iluminação. O nome não importa, mas trata-se do momento onde o ser universal muda de “vida”: abandona a casca da vida material e vive, mesmo ainda dentro da matéria, a vida espiritual ou universal.


Afirmamos anteriormente que enquanto o ser quiser se elevar, não conseguirá tal intento. Quando a busca é direcionada pelo desejo individual o que se alcança é a realização de um “querer”, ou seja, uma individualização, pois enquanto o ser realiza apenas o que quer não consegue alcançar a universalidade, mas prende-se aos desejos individuais.


Para melhor transmitir este ensinamento também afirmamos: ninguém consegue a elevação espiritual, mas recebe de Deus a consciência da vida espiritual. A elevação espiritual não é o resultado de um “estudo profundo” (ciência), mas sim de um trabalho profícuo para Deus. Quando o ser universal encarnado ou não trabalha para Deus (O ama acima de todas as coisas) recebe do Pai essa consciência.
Se o pensamento é dado por Deus será Ele que dará o pensamento e a consciência de que aconteceu a elevação. Ela não pode ser oriunda de um raciocínio lógico, uma declaração individual de que o indivíduo conseguiu reformar-se.


A declaração da consciência do fim do processo de reforma íntima (despertar) não pode surgir de uma auto-análise das ações individuais, pois isto seria fruto de um julgamento individual. É preciso que Aquele que a tudo sabe e vê e possui a capacidade suprema de analisar as intenções dos atos espirituais decrete o resultado da busca, para que ela seja considerada realmente alcançada.


A análise individual, com valores presos ainda à dualidade, não alcança a visão “correta”, pois ainda prende-se a conceitos individuais. Quando um ser analisa os seus próprios atos dentro da sua própria lógica e declara para si mesmo que “chegou” ao reino do céu na verdade chegou ainda apenas à satisfação ou prazer. O resultado desta análise ainda é individualismo em ação.


A iluminação ou despertar, não é um raciocínio lógico, mas um sentimento. Ela ocorre quando o ser sente Deus dentro de si. É muito mais do que “eu acho” ou “eu sei” (padrões lógicos), mas um sentimento e este é Deus que dá a cada um de acordo com as suas obras e não o ser que “compreende” que chegou lá.


A diferença entre “achar” que chegou e realmente chegar é que a primeira é racional, fruto de um raciocínio, de uma análise, enquanto que a segunda derrama-se sobre o ser universal como uma “sensação”. Não há lógica, apenas sensação, sentimentos.


O ser que desperta não possui a consciência lógica deste despertar, mas “sente” alguma coisa diferente dentro de si mesmo. É alguma coisa incompreensível pela lógica humana, pois o ser aprisionado na auto-visão humana ainda não conhece esse sentimento do contato íntimo com a divindade.


Por isso é que a elevação espiritual não é conquistada, mas recebida. Ela chegará para cada um no momento que Deus der, não através de um raciocínio lógico, mas de um sentimento interno. Quando houver a consciência interna de algo que até então não era conhecido sentimentalmente, aconteceu o despertar.


Quando isto acontecer é a hora de manter o deslumbramento. Para isto o deslumbramento não pode ser compreendido logicamente, mas apenas sentido. Muitos seres que estão buscando a elevação já entraram em contato com este sentimento, mas tentaram compreende-lo e se perderam dentro de suas lógicas individuais.


O amor de Deus (o sentimento que confirma a elevação espiritual) não pode ser compreendido dentro da lógica racional, mas deve ser sentido pelo “coração”. Quando este momento chega, o ser deve entregar-se profundamente àquele “estado de espírito” e não tentar entende-lo logicamente.


A humanidade (seres em busca da elevação) não sabe o que é despertar, chegar a esta elevação. Todas as religiões ensinam que se deve fazer a reforma íntima, mas elas não explicam qual a atual posição do ser, o que é reformar-se e muito menos o que acontecerá quando conseguir realiza-la.


Por isto, todos estes fatores ficam à mercê da “imaginação” humana. Como ela é formada por “formas” conhecidas no planeta que se submetem às verdades de cada um, os seres imaginam ao seu bel prazer. O que se alcança no despertar, entretanto, é espiritual, bem como todo o processo de elevação. Por isto o espírito encarnado não consegue compreender o processo e a resultante dele. Quanto mais busca “entender” racionalmente a elevação espiritual, mais ele se aprofunda no materialismo.


Não há alteração na vida material com a elevação espiritual, mas apenas mudanças espirituais. O ser despertado permanecerá na “carne”, vivenciando todos os fatos atuais da sociedade, mas a sua forma de “senti-los” se alterará.


Uma pessoa, por exemplo, que não goste de cigarro, mesmo quando despertar para a vida eterna poderá continuar não gostando de cigarro. Não há “mágicas” neste processo. Ela continuará vivendo em um mundo onde há cigarros, onde se fuma, mas, diferentemente de hoje, não mais sofrerá porque outros fumam, perto ou longe dela.


Hoje, além de não gostar, existe o sofrimento porque algumas pessoas fumam. Deste sofrimento nasce a acusação de que são “suicidas” inconscientes, que ferem o meio ambiente e todas as outras acusações que são alvo os fumantes. Estas se extinguem com o despertar.


O ser desperto, que promoveu a sua reforma íntima, não acusa ninguém de nada. Utilizando-se apenas do amor universal de Deus que agora “mora” dentro dele e livre do seu “querer” e “gostar” individual, dá a cada um o direito de fazer aquilo que quer. Não por motivos lógicos, mas simplesmente por amar ao próximo como a si mesmo.


Eliminada a acusação, eliminado o dualismo (bem e mal, certo e errado), o ser pode conviver pacífica e harmoniosamente como o todo: este é um ser elevado. Ele não compreende logicamente porque alguns fumam e outros não, mas ama a todos indistintamente (fumantes ou não), sem acusações.


Essa é a manutenção de Deus dentro de cada um. O ser elevado continua não gostando, não querendo fumar, mas coloca o “amor” em prática e dá a cada um o direito de fumar, se assim desejar. Esta forma de proceder o exime apenas do sofrimento e não do achar em si mesmo. Pode, inclusive, leva-lo a alertar o próximo sobre os malefícios que ele crê que advirão do fumar, mas acabará com a obrigatoriedade de que o próximo acate seus argumentos.


Quando se entra em contato com o ensinamento dos mestres orientais (Krishna, Buda e Lao-Tzu) que ensinam a combater o conceito, o ser humano busca elimina-los pelo raciocínio. Luta para manter a sua “santidade” combatendo a sua aversão ao fumo, mas desta forma, apenas cria mais um conceito, uma verdade: a de que ele próprio está errado.


Esta forma de viver, mesmo que se consiga combater o desejo individual de que todos parem de fumar, não leva à elevação, mas trata-se apenas de um novo conceito formado. Viver sem conceito é não fumar porque não quer, mas dar o direito a cada um de fumar o quanto quiser.


A reforma íntima, portanto, não é lutar contra o “não gostar”, mas sim eliminar o sofrimento que é alcançado porque não se gosta de algo. Só assim o ensinamento máximo de Jesus Cristo (amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo) será colocado em prática e, com isso, o despertar será alcançado.


Isto é alcançado através de um processo, de uma busca, que culmina no despertar, ou seja, na consciência que põe fim ao sofrimento pelos acontecimentos do mundo. O momento que isto ocorre, no entanto, não pode ser mensurado pelo ser humano, mas apenas o Pai, que acompanha de perto (onisciente e onipresente) o processo de cada um pode determinar o momento certo de cada um.


Aquele que declara estar perto ou longe do despertar, na verdade, ainda está muito perdido na sua busca. Aquele que busca a elevação espiritual não deve se importar com este fato, ou seja, buscar ver no horizonte o ponto de chegada, mas apenas caminhar, entregando-se a Deus e esperando que Ele, na Sua sublime compaixão que possui por Seus filhos, lhe dê a consciência amorosa.


Este momento chegará sem prévio aviso, sem sinais anteriores. Em um segundo o espírito nada sentirá e no próximo sentir-se-á banhado pelo “amor de Deus”. O despertar acontece em um segundo, sem avisos anteriores, sem preparação específica alguma e, muitas, vezes, sem um determinado motivo aparente que a justifique. Ele não ocorrerá por um motivo específico, mas será fruto de toda uma caminhada.


Verifiquemos o despertar daqueles que hoje são santificados e veremos se não é isto que ocorre.
Sidarta Guautama era um príncipe. Possuía dois castelos onde era isolado do mundo por seu pai para não ter conhecimento da realidade do mundo (sofrer) e assim viveu durante muitos anos. Um determinado dia uma consciência se abateu sobre ele ao ver um homem morto, um sofredor e um doente e a partir daí foi buscar respostas para a existência humana.


Não foi neste momento que ele despertou, mas foram precisos longos anos de busca para que um dia este despertar acontecesse sem se ser previamente anunciado. Ao buscar o ensinamento védico ele descobriu que o sacrifício e o isolamento das coisas materiais era o caminho e foi pratica-la, mas ainda não desperto.


Apenas em um dia, quando quase morto de fome por um jejum longo e insípido, que ouviu um pai conversando com seu filho. Ele dizia: “Quando você afinar as cordas de um instrumento, meu filho, não as deixe nem frouxa demais para que o som não saia fora de tom, nem as deixe muito apertadas, porque podem se romper”. Foi neste momento que Sidarta descobriu o “Caminho do Meio”.


Levantou-se, alimentou-se e meditou (entrou em contato com Deus) por mais quarenta dias e quarenta noites e recebeu do Pai toda a compreensão que o despertou. Todo este processo, como dissemos, levou longos anos e não aconteceu como mágica no primeiro instante que Sidarta decidiu buscar o despertar.
A mesma coisa aconteceu com todos aqueles que alcançaram a iluminação. Nunca houve mágica, mas um processo de busca que resultou em um determinado segundo no alcançar, no despertar. Alguns, já de posse da nova consciência, foram avaliar sua vida antes disso, como São Agostinho no seu livro “Confissões”, mas sem auto-acusações, apenas constatando que foi um caminho para a chegada ao clímax.


Todos os “santos”, até que receberam de Deus a consciência espiritual, tiveram uma vida não exemplar para os padrões que costuma se colocar para os pretendentes à elevação espiritual. Viveram como seres humanos, gozando os prazeres materiais, até que decidiram buscar outra vida. A partir daí nasceu uma caminhada que culmina em um momento específico quando houve o despertar.


Este ensinamento nos leva a refletir que para se realizar a elevação espiritual é preciso caminhar em direção a Deus, mas esperar o momento chegar sem desejos, inclusive o de alcança-lo. Este é o ensinamento máximo que pode levar o ser a reformar-se, a despertar, alcançar a iluminação ou a elevação espiritual, a bem-aventurança.


É preciso caminhar para chegar sem querer pegar atalhos que encurtem o caminho, que o momento fatalmente chegará, pois Deus não desampara ninguém. Todos que estiverem realmente buscando a Deus O encontrará. Agora, quem está buscando a sua própria satisfação, a realização dos seus desejos, só isto encontrará.


“Eu achei Deus. Olha que maravilhoso, estou me sentindo muito bem”. Esta é uma declaração de quem encontra a sua própria satisfação e não Deus, pois quem encontra o Pai não fala: apenas sente.
Como nos ensina Lao-Tzu, quem encontra Deus faz o “bem” naturalmente, sem consciência disto. A prática amorosa passa a fazer parte da “vida” do desperto de uma forma natural, ele se doa sem a consciência da doação. Ela não nasce de um desejo individual nem de uma “obrigação” religiosa para alcançar a iluminação.


Este é o estado do desperto, daquele que encontrou a Deus. Encontra-Lo é praticar a ação amorosa sem espera de recompensa alguma, inclusive o prazer: isto é ação sem intencionalidade. Esta é a vida daquele que alcançou a elevação espiritual, esta é a felicidade suprema que um ser pode achar. A felicidade de dar, de doar, de servir ao próximo.


Isto começa em um segundo e não aos poucos. A não espera de recompensas, sejam externas ou internas, pela prática do ato não vai sendo alcançada paulatinamente, mas acontece de um segundo para outro. Enquanto estiver no caminho, ainda esperará recompensas, nem que seja a própria elevação por parte de Deus.


Quando a intencionalidade é alcançada, nasce a luta para a manutenção deste estado de espírito. Não se trata ainda da vitória, mas da glória de Deus coroando uma caminhada. É preciso manter acesa aquela chama que agora passa a existir dentro de cada um.


O problema é que muita gente se entrega neste momento à indolência. Acredita que já chegou, que já descobriu o caminho e esquece-se de amar, ou seja, manter o amor de Deus dentro de si. Na verdade, este ser apodera-se de Deus, aprisionando-O somente para si.

Não existe caminho específico para Deus, pois o Pai é o próprio caminho para Ele. Aquele que pensar que descobriu o caminho para Deus, esquecendo-se de manter acesa a chama do amor dentro de si mesmo, encontrou apenas a si mesmo, a sua consciência material.