Participante: porque Cristo diz que eu não devo ter posses materiais?


Porque você não sabe amar a estas coisas. Na verdade, guiado pelo ego, o ser age possessivamente e egoisticamente na relação com os demais elementos do mundo – a relação pecaminosa que vimos antes…
O problema, no sentido espiritual, não são os elementos materiais, mas a forma como o ser se relaciona com qualquer coisa. Se o espírito relacionar-se com Deus, com os mestres ou mentores a partir de paixões humanas (possessivas) os objetivos da encarnação não serão alcançados do mesmo jeito.
Além do mais, Cristo não disse que o ser humanizado não pode ter coisas materiais – até por que ele tinha: o que ensinou é que o espírito não deve possuir aquilo que está sob sua guarda temporária. Disse também: não se pode desejar ter mais do que tem. Isso ele ensinou, mas não ter, não disse…
O Espírito da Verdade foi claro sobre o assunto: “É natural o desejo de possuir? Sim, mas quando o homem deseja possuir para si somente e para sua satisfação pessoal, o que há é egoísmo” (O Livro dos Espíritos – pergunta 883). Não há problema em ter, mas quando se tem e não se compartilha e, ainda por cima se quer mais, aí o egoísmo aparece e a elevação espiritual é abandonada.
Quer ver um exemplo? Você tem uma calça?


Participante: tenho…


Quer comprar outra, não importa o motivo?


Participante: quero…


Então, você não ama universalmente a calça que tem…
Ter uma determinada quantidade de calças não é problema: você pode ter cinquenta ou uma. O importante é não achar-se dono dela e, por isso, esperar que ela lhe satisfaça (por exemplo esteja sempre limpa) ou querer ter outra que já não esteja sob sua guarda.


Participante: então eu posso alcançar a Deus através de coisas materiais, como por exemplo o dinheiro?


Sim, desde que ame este elemento de uma forma universal e não possessiva. Quando isso acontecer você não desejará o do próximo e não possuirá como seu o que estiver sob sua guarda…
Se estes preceitos não estiverem preceitos não é amor, mas paixão. A paixão por qualquer elemento prende à materialidade, mas o amor universal por eles leva a Deus…


Participante: mas, se eu amar o dinheiro não amarei o próximo, porque irei querer ter o dinheiro?


É, vocês nem sabem o que é amor… Falou em amar, logo ligam este sentimento à possessão.
Se você amar universalmente o dinheiro amará o seu e o do próximo, sem precisar tê-lo. Além disso, poderá repartir o seu sem querer mantê-lo sob sua custódia. O amor universal ao dinheiro é aquele que não precisa da posse para ocorrer; a paixão é que necessita.
Vocês confundem amor universal com posse… Veja outro exemplo…
A esposa diz que ama seu marido, mas se esse se afasta (há uma separação do casal), ela diz que o amor acabou. Isso é amor ou paixão mundana?
Paixão, pois precisa da possessão sobre o marido (estar perto) para existir. Se fosse amor verdadeiro ele continuaria existindo, mesmo que o objeto dele se afastasse…
Amar o dinheiro universalmente é amá-lo na sua ausência ou na sua presença, o que está no seu ou no bolso do outro, sem condições ou desejos… Amar a todas as situações que envolvam o dinheiro incondicionalmente…


Participante: amar desta forma é o que vem sendo dito que é o amor que se deve ter com Deus…


Sim, e por isso disse que se pode alcançar a Deus através do amor incondicional a qualquer coisa…
O amor a Deus que Cristo ensina é a sensação de felicidade (bem-aventurança) que se sente na alegria ou na dor, na felicidade ou na tristeza, na saúde ou na doença, na riqueza ou na pobreza… Foi este mesmo sentido que eu dei acima ao amor ao dinheiro.
Levemos agora isso para o ensinamento presente de Paulo: aqueles que não têm a lei… Você, como cristão, deve buscar amar a Deus incondicionalmente, pois esta é a sua lei (ensinamento), mas aqueles que nem acreditem em Deus, se agirem com os elementos do mundo material nesta mesma incondicionalidade, terão cumprido a lei, sem nem ao menos conhecê-la.
Um ser humanizado não acredita em Deus: qual o problema, espiritualmente falando? Se, por vontade própria, ele se harmoniza com o Universo na carência e fartura, qual o problema?


Participante: mas, e a luta para manter o dinheiro que muitos fazem?


Continuo insistindo: não estou falando em possuir ou desejar, mas em amar incondicionalmente. Aqueles que lutam para manter o dinheiro, bem como aqueles que lutam para manter o prazer individual na sua relação com Deus (pede que o Pai faça o que ele quer), não estão amando, mas seguindo suas paixões materialistas.


Participante: é que o senhor dá uns exemplos difíceis de compreender…


Para poder tirá-los da mesmice.
Sem estes exemplos vocês condenariam todos que tem dinheiro, mesmo sem saberem com que intencionalidade eles se relacionam com as coisas…
Estes exemplos são bons porque acabam com a ideia de que o externo dita o interno de cada pessoa. O que vale não é o que se tem ou faz, mas o interno de cada um (a forma como se relaciona com o ato) já que Cristo ensinou que Deus julga as intenções e não as ações.
Participante: mas, Cristo ensinou que temos que amar a Deus?
Disse isso para você que acredita em Deus, mas, e para quem não acredita, será que não há salvação? Mais: se é Deus que emana as compreensões que o ego gera, será que este ser não poderia queixar-se depois de ter sido injustiçado porque o Pai não o fez acreditar Nele?
Pense… Nada pode ser hermeticamente fechado: tudo tem um destinatário e o mesmo ensinamento não pode ser aplicado coletivamente… Olha o que falamos do julgamento no início deste trecho: “… não importa quem você seja – pode ser o mais sábio sobre qualquer assunto, saber tudo de algum tema – não tem o direito de julgar ninguém. Mas, por que não tem direito a isso? Porque quando você julga (analisa e gera uma avaliação) o outro está fazendo o que mesmo que ele faz”.
Como disse antes, Deus cria as verdades de cada um de acordo com sua provação. Se uma pessoa não acredita em Deus, eis aí uma compreensão, uma prova. A vitória nesta prova não é passar a acreditar, mas, mesmo fustigado por esta razão, viver incondicionalmente.
Para isso não precisa nem aprender os ensinamentos dos mestres: a lógica material serve.
Dinheiro foi feito para ser gasto, para gerar conforto, saúde, segurança: é isso que diz a lógica material. Quem segui-la, ou seja, despossuir a necessidade de manter o dinheiro sempre consigo, estará realizando a elevação espiritual.
A vida é cheia de altos e baixos; um dia se está por cima no outro por baixo. Compreendendo mais esta máxima material e vivendo-a com intensidade, saberá se trabalhar no momento que não tem dinheiro para tê-lo depois. Com isso eliminou o desejo e fez a elevação espiritual…
Agora disso tudo que disse retire a palavra dinheiro e coloque Deus… Não chegamos a todos os ensinamentos de Cristo sobre a forma de nos relacionar com o Pai?
Mas, os seres humanizados não aceitam o que estou dizendo porque partem da sua verdade para impor “certos”: “Cristo disse que tinha que amar a Deus, então nada substitui isso”. Ora, você está julgando o mundo, o certo e o errado, a partir de suas convicções e, por isso, não consegue entender o que estou dizendo.
O que eu e Paulo estamos querendo dizer é que ninguém está perdido… Não importa se o ser humanizado é religioso ou não e nem que doutrina siga: se realizar o trabalho necessário, conseguirá a elevação espiritual. Mas, vocês não compreendem isso porque se fixam na letra fira do ensinamento do mestre…
A questão entre o que eu estou falando (elevar-se através do amor ao dinheiro) e o que vocês estão dando como certo, é semântica: só uma troca de nomes. Na verdade eu mantive a essência do ensinamento e troquei o nome justamente para mostrar que estão apegados à letra fria dos ensinamentos.
Quer outra aplicação para isto que estou falando? A consciência que existe em alguns egos que os índios são selvagens e não podem elevar-se espiritualmente porque não possuem contato com os ensinamentos do homem branco. Estas verdades geraram, por exemplo, a necessidade da catequização. Mas quem disse isso, quem disse que é necessário que os silvícolas tenham que se adquirir a cultura do branco para poder se elevar?
Se o índio – que, aliás, tem muito mais chance do que o branco de se elevar por possuir menos conceitos sobre as coisas – vivenciar os ensinamentos de Cristo, mesmo que nunca tenha ouvido falar deste mestre, ele ascenderá ao reino do céu.
Isto se aplica à ideia que os cristãos fazem dos mulçumanos, dos hindus e dos próprios integrantes das seitas cristãs diferentes, como as desavenças entre católicos e protestantes. Se estes seres conseguirem vivenciar os acontecimentos de sua vida dentro da incondicionalidade – o que aliás é ensinamento todos os mestres e não só de Cristo – estarão amando a Deus e é isso que importa.
É isso que Paulo está dizendo: não precisa ser judeu para ser salvo… Não precisa ser cristão, religioso e nem mesmo acreditar em Deus para alcançar a elevação espiritual.
Na hora que os seres humanizados compreenderem esta realidade poderão aprender a conviver harmonicamente com o mundo em que vivem. O problema é que se apegam a letra fria de leis, que, aliás, são meras interpretações que eles mesmos fazem e com isso não conseguem viver bem nem com os outros nem com Deus.