Participante: Esta síndrome da aceitação pode ser de nós mesmos? Ou seja, eu preciso da minha própria aprovação? Eu, por exemplo, carrego a culpa de ser muito severa com minha filha. Exijo dela muito além do que na minha cabeça acho que devo exigir. Aí quando estouro com ela, ao me voltar para mim mesmo falo que não deveria ter agido daquela forma, que ela é uma criança e por isso eu não deveria ter exigido aquilo dela. Por isso acho que esta síndrome vai além da relação com o pai da minha filha, que também julga minha atitude. Eu, na minha concepção de mãe, acho que não deveria agir assim. Esta é a teoria. Mãe não age assim, se você age assim não é boa mãe. A partir desta crença quando converso comigo mesmo me condeno pela minha forma de reagir algumas vezes às atitudes de minha filha. Portanto, no meu ver, esta síndrome além de nos prender ao que os outros estão pensando, também tem a ver com uma auto-avaliação.
Perfeito. As pessoas nas quais você busca aprovação não estão no seu país, estado ou cidade. Você precisa sentir-se aceita por pessoas próximas: os seus amigos, os seus pais, os seus familiares…
Participante: eu sei que sou julgada por todos…
Falei daquele jeito justamente para ouvir o que você acabou de falar e com isso poder lhe passar mais um ensinamento.
Você não é julgada por ninguém: é a sua vida que cria a ideia de estar sendo julgada. É a sua vida que cria a ideia de que você está sendo julgada por seu marido, por sua mãe, pelos seus vizinhos. Quando a sua vida cria o acontecimento brigar com a sua filha, ela cria, também, a crítica que o seu marido faz a você. Com estas criações ela reforça a sua dependência da síndrome da aceitação.
Participante: quando eu me volto para mim fazendo um balanço do que aconteceu, fico me cobrando e procurando uma forma de não agir assim.
Isso não leva a lugar nenhum, já que quem cria a sua forma de agir é a vida e ela não se submete ao que você acha que deve fazer.
Na verdade, a única coisa que você pode fazer é não viver a emoção que a vida propõe. Mais nada. A ação será gerada pela vida e esta geração não está presa a nenhuma lógica, como já vimos. É por isso que quando a sua vida criar a ideia de descobrir uma forma como não agir de determinada forma, você deve eximir-se de entrar nesta discussão. Deixe a vida viver isso sozinha.
Quando no início de nossa conversa de hoje falei sobre controlar a vida, aquela pessoa ficou espantada com o que estava falando, pois até hoje sempre disse que a vida vive independente do controle do ser humano. Por isso, quando falo agora em controlar a vida, não estou me referindo em controlar o que acontece, mas sim em controlar o que a vida lhe propõe sentir.
Participante: esta questão de controlar o que acontece é interessante. Por mais que saiba que não devo fazer alguma coisa ou que tenho que agir de determinada forma, eu não consigo agir apenas dentro dos padrões que estabeleço.
Sim, isso é verdadeiro, mas não é você que não consegue: é a vida. É ela que diz que deveria agir de uma forma e também é ela que não age.
Porque a vida cria a ideia de se controlar, de que tem que mudar, de que deve agir de outra forma?
Participante: para nós acreditarmos nela.
Isso. Ela faz tudo isso para você assumir a culpa que ela propõe.
Olhe que vida mais estranha: ela cria a Idea de você ter que se controlar, cria ideia de que você está se controlando, mas também cria a ideia do descontrole apenas para que você aceite a culpa.
Participante: e nós nos relacionamos com todas estas proposições como se nós tivéssemos poder de controlar a vida.
Como se você tivesse o poder de administrar a vida. Administrar é uma palavra melhor do que controle para o que vocês querem fazer.
Administrar a vida é gerar acontecimentos na vida e isso vocês não têm capacidade de fazer. Se tivessem, com toda consciência de que têm de que algumas ações não devem ser feitas, não mais fariam. No entanto, acabam fazendo.
Com esta observação criamos um argumento para desqualificar a proposição de culpa que a vida cria. Quando ela disser que você deve sentir-se culpada por ter agido de forma diferente do que acha que deveria, use o seguinte argumento para desqualificar o que ela está dizendo: ‘está certo. Eu sei que não deveria agir desta forma, mas você criou a ação assim. Por que, então, vou sentir-me culpada’?
Participante: para isso preciso fazer uma análise consciente do que aconteceu.
Sim, mas para você só existe este momento para viver. O problema é que não vivem neste momento e querem viver em outros onde apenas a vida vive.