Participante: pode explicar um pouco melhor? Em parte entendo o que o senhor está falando, mas quando no dia a dia presto atenção em mim mesmo, acabo vendo que já fiz o que não deveria fazer.

Agora a pouco você me disse algo que podemos usar para explicar melhor o que falei no início da conversa.

Quando perguntei como estava a sua vida, você disse que imaginava que tudo ia bem, até que em um determinado momento chutou o pau da barraca. Falou ainda que não gostou de ter feito isso, ou seja, sofreu por conta desse acontecimento. Sofreu porque imaginou que a sua vida estava caminhando para frente, no sentido de estabilizar a felicidade, mas acabou verificando que isso não era real.  

Usando esse exemplo, pergunto: é o andar para trás que causa sofrimento?

Participante: não. É o eu achar que já atingi um ponto na questão da melhoria íntima. Que já atingi o ponto de não me deixar levar por aquele sofrimento. Quando vejo que ainda ajo da mesma forma que antes sofro.

Isso é o que você acha que é a razão do sofrimento, mas não é verdade. O seu sofrimento por não ter reagido da forma que estabeleceu como certa não é a causa do seu sofrimento. Na verdade é consequência de alguma coisa.

Consequência do que? De algumas ideias suas… Para explicar o que estou falando, vou usar o exemplo que sempre uso: alguém lhe chamar de feio.

Se alguém lhe chama de feio e isso causa uma contrariedade, o que causou o desgosto não foi o que foi falado, mas sim o fato de que querer que os outros chame de bonita. Ou seja, o sofrimento não nasceu pelo que ouviu, mas sim por algo interno que foi afetado. Por causa disso houve uma reação sofrida ao que aconteceu.

O problema não está no fato de ser chamada de feia. O sofrimento oriundo do fato de alguém lhe chamar de feia é resultado de alguma coisa. É sobre esse algo que leva ao sofrer que vamos conversar muito forte hoje. Faremos isso para que possam cortar o mal pela raiz.

Se compreenderem o que vamos falar, pouco importa se alguém lhe chame de feia, de bonita ou de qualquer outro adjetivo, nada lhe afetará. Nada causará sofrimento.

Participante: acho que o que nos faz sofrer é a ofensa.

Até concordo, mas onde nasce o sentir-se ofendido? Será que é nas palavras que quem falou usou?

Não, a ofensa não existe pelo fato de ter sido qualificada de qualquer forma. Na verdade se inicia no anseio de ser chamada de bonita. Não havendo esse desejo, você não se ofenderia quando alguém chamar de feia.

É chegar a essa conclusão que estou chamando de mergulhar na vida. Fazer esse mergulho é entender que o desejo de ser chamada de bonita causa a contrariedade. Só que esse mergulho que acabamos de fazer ainda está muito no raso. Precisamos nos aprofundar muito mais para poder estancar a fonte do sofrimento.

Por isso, lhe pergunto: porque quer ser chamada de bonita?

Participante: acho que é porque ser tratada dessa forma traz uma sensação boa.

Isso.

Sim, um dos motivos pelo qual alguém sofre quando é contrariado é o fato de o que foi dito não traz uma sensação boa. Saiba que para todo ser humanizado existe internamente uma expectativa de viver o que acha que pode trazer felicidade, uma sensação boa. Quando não acontece, há uma reação interna de sofrimento.

Mas, tudo isso ainda está muito no raso. Por esse motivo oriento: não parem por aí. Quero que mergulhem no mar dos pensamentos e explorem o que há abaixo da formação mental que diz que deve esperar que os outros gerem sensações boas. Mergulhe abaixo do fato de querer ser chamada de bonita. Isso é preciso porque sempre há algo mais profundo que é usado para causar sofrimento.

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