Movido por suas posses, paixões e desejos o ser humanizado romantiza a vida. Com isso imagina ser possível viver um conto de fadas onde todas as vontades são satisfeitas. Mas, isso é impossível…
Primeiro porque o Universo está em perfeito equilíbrio. Isso quer dizer que nada pode ser acrescentado a ele nem retirado dele. Sendo assim, quando um ser humanizado ganha alguma coisa, outro tem que perder aquilo. Se um ganhasse sem que outro perdesse, o Universo não mais seria estável e equilibrado.
Além do mais, se só um ganhasse e outros perdessem sempre, um desequilíbrio também aconteceria, pois um ser seria superior a outro. Como todos somos filhos de Deus e tratados igualmente pelo Pai, ninguém é protegido por Ele. Por isso em alguns momentos uns ganham e outros perdem e em outros momentos a situação se inverte.
O segundo aspecto que impede que uma pessoa consiga ter todos os seus desejos contemplados é a própria descrição dos objetivos da encarnação feitos pelo Espírito da Verdade. Ele ensina que um dos objetos da existência humana para o ser universal que encarna é viver suas expiações e que esta vivência se caracteriza pela existência de vicissitudes na vida humana. Diferente do que pensam os humanos, vicissitudes não são carências, mas alternância das situações da vida. Sendo assim, o conto de fadas não pode ser vivenciado por um ser encarnado, pois o bom e o mau, o lucro e o prejuízo, a vitória e a derrota precisam estar sempre presentes na encarnação do espírito.
Ora, se Deus é a Causa Primária das vicissitudes da vida humana, o ser humanizado que acredita nos ensinamentos espiritualistas, ao invés de imaginar que Ele o ajudará a fazer o que quer, deve viver com a certeza que Deus fará o que for preciso para a sua elevação durante o dia a dia da existência de cada um. Essa mudança de forma de vivenciar a vida, que é pequena, é valiosa para se alcançar a elevação espiritual. Mas, infelizmente mesmo os espiritualistas não vivem assim…
Como espíritos decaídos que são – segundo a classificação feita por Krishna que dá este nome àqueles que ainda acham que são a mente e se guiam por ela – e imaturos – como classifica Paulo aqueles que não compreendem perfeitamente os ensinamentos de Cristo – ainda vagam pela vida humana crente que os seus desejos serão atendidos na totalidade. Pior: ainda acham-se no direito de rezar a Deus ou pedir a mentores ajuda para conseguirem o que querem…
Quanta tolice… Se não fossem decaídos ou imaturos saberiam que os contos de fadas só existem na imaginação humana e são obras da própria mente para prendê-los na esperança de que basta desejar para acontecer.
Se fossem lúcidos e maduros espiritualmente falando saberiam que nem todo mundo vai guardar o objeto no lugar que eles querem, que nem todo mundo vai fazer as coisas do jeito que eles acham que deveriam ser feitas, que nem todos vão elogiá-lo e distingui-los pelo que fazem. Se não acreditassem numa vida cor de rosa não viveriam com medo e agoniados…
Quem vive a vida imaginando que Deus pode lhe conceder todos os seus desejos só porque pede, está sempre com medo do futuro, pois não sabe se o Pai vai lhe conceder aquela graça ou não. Por causa deste medo perde a tranquilidade e agonia da incerteza de receber lhe desarmoniza com o mundo. Por isso, sofrem o tempo inteiro…
Sofrem pela agonia de esperar; sofrem quando não alcançam aquilo que eles esperavam; sofrem quando veem alguém ganhar aquilo que eles queriam para eles. Já aquele que não espera nada, mas recebe tudo o que Deus lhe dá como fruto do Seu Amor por seu filho, vive sempre em paz e harmonizado com o mundo.
Quem é lúcido com relação ao receber e é maduro na vivência da sua realidade está sempre feliz; agora, aquele que ainda acredita na possibilidade de viver um conto de fadas, vagueia pela vida sofrendo…

Joaquim de Aruanda