Participante: pelo que estou entendendo, devemos viver em contemplação da vida. É isso?
Na verdade, não. Isso porque um ser humanizado jamais conseguirá viver em contemplação. A cada momento da existência você precisa agir. Vou tentar explicar o que estou querendo dizer…
Viver em contemplação seria apenas observar os acontecimentos da vida, mas isso lhe é impossível já que a realidade criada pela mente é apenas uma proposição de realidade e não algo real. Por exemplo: a imagem que você neste momento está percebendo não é real, mas uma proposição de realidade. A imagem do médium, das outras pessoas, deste lugar e os sons e cheiros que está sentindo não existem, mas são criações da mente. Ela cria estes elementos e lhe afirma que eles formam uma realidade, mas não são.
No momento em que a mente lhe passa as informações que ela cria para este momento, você precisa agir: aceitar ou não aquilo como real. É por isso que você não pode viver contemplativamente.
Sempre que a mente cria alguma coisa você precisa agir: precisa optar entre o bem e o mal. Por isso não pode viver contemplativamente: tem sempre que tomar uma posição…
Participante: mas, não tenho que me libertar de tudo o que a mente cria?
Sim, mas para isso você precisa de uma ação. Jamais conseguirá se libertar da mente através da contemplação.
Se a mente lhe diz, por exemplo, que age despossuidamente porque não cobra horário para o seu filho chegar à noite, você não deve acreditar nestas informações, mas para isso precisa agir com um não acreditar. Observando apenas o que ela disse, ou seja, não agindo no sentido de não acreditar, não conseguirá se libertar do que foi criado pela mente. Esta ação é o segundo livre arbítrio que o Espírito da Verdade diz que todo ser possui.
Você jamais conseguirá viver a vida humana meditativamente, pois quando não fizer a opção, aceitará implicitamente a criação mental como realidade. Neste caso optou pelo mal. Para que optasse pelo bem teria que reagir à proposição mental dizendo que não sabe se o que o tentador criou é realidade ou não, certo ou não, bom ou não. Nada saber é a única resposta que o ser encarnado pode dar a qualquer criação da mente se quiser aproveitar a encarnação e aproximar-se de Deus.
Porque isso? Porque nada saber é a única resposta que leva o espírito aproximar-se do Pai? Porque o saber qualquer coisa lhe afastou de Deus…
Vocês se lembram do que está escrito na Bíblia a respeito do que levou ao início das encarnações no planeta Terra?
“Então, o Deus Eterno pôs o homem no Jardim do Éden, para cuidar dele e nele fazer plantações. E o Eterno deu ao homem a seguinte ordem: ‘Você pode comer as frutas de qualquer árvore do jardim, menos da árvore que dá o conhecimento do bem e do mal. Não coma a fruta dessa árvore, pois no dia em que você a comer, certamente morrerá’”. (Gênesis, 2, 15-17)
“A cobra era o animal mais esperto que o Deus Eterno havia feito. Ela perguntou à mulher: é verdade que Deus mandou que vocês não comessem de nenhuma árvore do jardim”?
“A mulher respondeu: Podemos comer as frutas de qualquer árvore, menos a fruta da árvore que fica no meio do jardim. Deus nos disse que não devemos comer dessa fruta nem tocar nela. Se fizermos isso, morreremos’.
“Mas, a cobra afirmou: vocês não morrerão coisa nenhuma! Deus disse isso porque sabe que, quando vocês comerem a fruta dessa árvore os seus olhos se abrirão e vocês serão como Deus, conhecendo o bem e o mal”.
“A mulher viu que a árvore era bonita e que as suas frutas eram boas de comer. E ela pensou como seria bom ter conhecimento”. (Gênesis, 3, 1-6)
Portanto, se a ação que afastou o espírito de Deus que agora encarna no planeta Terra foi ter comido do fruto da árvore do conhecimento, ou seja, adquirido saber, o que pode aproximá-lo Dele é não mais comer desse fruto. É por isso que a única ação que pode libertar o espírito da sansara (roda de encarnações) é o declarar nada saber. Se esta declaração foi importante ao longo dos últimos sete mil anos de encarnações, imagine agora que estamos entrando na reta final do mundo de provas e expiações.
É isso que vocês precisam compreender. A vida humana nada tem a ver com ela mesmo, mas sim com a encarnação do espírito. A vida humana nada mais é do que um campo de provas para que o espírito evolua e por isso tudo o que diz respeito a ela tem que ser pensado a partir deste ponto de vista e não observado de forma isolada do mundo espiritual.
Porque vocês estão encarnados neste mundo? Porque continuam vivos neste momento? Porque um dia comeram o fruto da árvore do conhecimento. Não é assim? Vocês não julgam que são capazes de perceber as coisas (tem os olhos abertos) e não se acham capazes de distinguir o bom do mal, o certo do errado? Então, são espíritos que ainda cometem diuturnamente o pecado original. Sendo, estão vivos neste momento para poder realizar a ação libertadora que os fará retornar ao Jardim do Éden, ao mundo dos espíritos que vivem próximos de Deus.
Esta é a forma que precisam encarar a vida. Se não fizerem deste modo, vocês continuarão iludidos pelo poder de maya, o poder que dá à ilusão a força de real, e terão que reencarnar novamente até que um dia executarão a ação libertadora que os libertará da sansara.
Diante de tudo o que disse, portanto, volto a afirmar que não é possível se conseguir aproveitar a elevação numa vivência contemplativa, mas somente através de uma ação e essa é a declaração expressa de nada saber, mesmo que a mente afirme ao contrário. Na verdade, quem não dá esta resposta é como a primeira mulher, que ao ser tentada pela cobra acha que as frutas são muito bonitas e boas de comer e quer para si o poder que apenas Deus tem.