Evangelho de Tomé – Logia 107


“107. Disse Jesus: O Reino é como um pastor que tinha cem ovelhas. Uma delas, a maior, extraviou-se. Ele abandonou as noventa e nove, e foi em busca daquela até que a encontrou. E depois de haver descansado, disse à ovelha: amo-te mais que às outras noventa e nove.”.



Apesar de todo avanço que a sociedade diz haver conquistado no campo das relações sociais, uma análise mais profunda demonstra que não houve avanço algum. Apesar de todos os direitos conquistados pelos seres humanos, eles ainda vivem como as sociedades antigas que tanto criticam. Na verdade, estes direitos só existem no papel.

As primeiras sociedades das quais se tem notícia eram dividas em castas: governantes, sábios, artesãos e escravos, entre outras. Cada casta dava direito diferente aos homens que a ela pertenciam.

Chegamos, depois, aos senhores feudais, que mantiveram este mesmo sistema até o advento da Revolução Francesa. Durante o tempo em que existiu, o feudalismo manteve os guetos, lugares onde se reuniam aqueles que eram da mesma casta.

A Revolução Francesa foi um símbolo para acabar com o feudalismo. O poder constituído foi questionado e derrubado pelas castas menos favorecidas. Ao invés de aprenderem com seu próprio “sofrimento”, os revolucionários simplesmente alteraram os nomes do regime de castas. Antes, eram “nobres” ou “plebeus”; e agora, eram políticos, empresários e trabalhadores…

Todos os direitos humanos suscitados como emblemas da Revolução Francesa foram logo esquecidos quando os revolucionários tomaram o poder. Até hoje, os ideais da Revolução Francesa ainda servem como base para a Constituição dos Direitos Humanos, mas, até agora, as castas não foram vencidas.

Hoje, os seres humanos são separados em ricos e pobres, brancos e negros, hindus e mulçumanos, árabes e judeus, cultos ou incultos. O mundo continua dividindo a humanidade em castas e ainda não alcançou a premissa básica: todos têm direitos iguais, independentemente da sua condição material ou convicções.

Toda esta divisão é gerada pela visão de que o ser humano que pensa diferente é um inimigo, pois não possui os mesmos conceitos.

No ensinamento do Mestre que encabeça esta mensagem, todos os seres humanos são ovelhas que pertencem ao mesmo rebanho. Existem alguns que se desgarram e são justamente esses que devem ser procurados. Não existirá paz no planeta Terra enquanto os seres humanos não aprenderem esta verdade.

Enquanto alguém quiser provar que a sua casta é a melhor e a mais correta, obrigando os demais a segui-las, o ser humano viverá em sofrimento.

Quando Cristo nos diz que o pastor precisa abandonar todas as suas ovelhas e correr atrás daquela que se desgarrou, diz ao ser humano que ele deve abandonar a sua casta, aqueles que pensam da mesma forma, e procurar os irmãos com compreensões diferentes das suas. Mas, quando chegar lá, não deve recriminar o irmão desgarrado, mas sim amá-lo.

Amar as diferenças de opiniões, amar tê-lo encontrado, amar conviver com ele.

Essa busca não deve ser no sentido professoral, ou seja, no sentido de impor as idéias para que seja possível amá-lo, mas sim amá-lo no local onde ele está, com as convicções que ele tiver.

A eliminação definitiva do sistema de castas não será nunca conseguida pela sobreposição de uma contra outra, mas sim pela existência de uma só casta: a dos filhos de Deus. Como nos ensinou o Mestre, “um só rebanho para um só pastor”.

Esta é a maior “Declaração de Direitos Humanos” que pode ser alcançada:

Art. 1o Todos os homens têm direito a pensar diferente e nem por isto deverão ser considerados errados.
Art. 2o Revogam-se todas as disposições ao contrário.

Enquanto a lei quiser estabelecer parâmetros e verdades para que o ser humano seja livre, a liberdade jamais será alcançada, pois ela estará preocupada com as noventa e nove ovelhas da sua casta, aqueles que cumprem a lei, e se esquecerá daquela que se perdeu.

Ser livre é ser completamente liberto de todas as coisas, inclusive dos parâmetros que podem constituir esta liberdade. Quando o homem compreender esta verdade, poderá amar ao próximo como a si mesmo, pois estará amando a Deus, acima de tudo, inclusive das leis.