Participante: A união de duas pessoas, que inicialmente se amavam, com o dia a dia pode trazer certas rotinas que façam uma das pessoas ficar desanimada com as coisas do casal. Problemas na casa com o marido ou com outras pessoas podem levar um dos cônjuges a não mais vivenciar aquele amor inicial. Como voltar aquele amor inicial que já não será mais o mesmo depois dos problemas da união? Será que perdoar seria uma forma para retomar o amor?
Sua pergunta está muito boa.
Você diz: duas pessoas se casam porque imaginam que se amam. Sim, você está certo: apenas imaginam que se amam. Isso porque o amor entre seres humanos é uma sensação dada pelo ego.
Duas pessoas que se casam não têm amor verdadeiro um pelo outro. Este amor não é um sentimento, mas uma sensação criada pelo ego para justificar no consciente aquela união.
Sendo assim, se você, o espírito, acredita que está apaixonado por alguém, é um escravo do ego. Isso porque essa paixão é criada pela personalidade humana como prova, para ver se vai entrar na exaltação do prazer ou se vai manter-se equânime durante os acontecimentos da vida.
Esse é o primeiro detalhe da sua pergunta. Segundo detalhe: com o correr dos anos a paixão passa. Na verdade, ela não passa: o ego para de criá-la.
Na verdade a personalidade humana não para de criar essa ilusão: ele começa a gerar outras. Que outras sensações são essas? Aquelas que você precisa naquele momento da ação casamento.
Quando falei da união entre duas personalidades humanas dei um exemplo: marido bagunceiro, mulher arrumada. As sensações causadas pela diferença entre estes cônjuges não são geradas no início da relação. Neste momento, o ego que sugere apenas a paixão, a emoção da paixão.
Ao longo do casamento a personalidade humana para de enviar a sensação da paixão e começa a enviar a sensação de contrariedade para o que o outro está fazendo. Neste momento vocês dizem que o amor acabou, mas isso não é real. O amor não acabou porque na verdade nunca existiu. Na verdade ele sempre foi apenas uma sensação criada pelo ego que agora não mais a cria.
Apesar disso ser real, a personalidade humana não vive com esta realidade. Por exemplo: na sua pergunta cita causas para o fim do amor. Afirma que são os problemas na casa com o marido ou com outras pessoas que acabam com o amor. Isso não é real. Saiba que, na realidade, ninguém pode causar problemas para os outros.
Ninguém pode, por exemplo, lhe caluniar. Não existem calúnias porque tudo que alguém disser sobre outra pessoa, mesmo que seja lisonjeiro, não é real. Trata-se apenas de verdades criadas pelo ego como ilusão de ação para gerar um momento que servirá como provação a um espírito. Não importa se a pessoa viu o que diz que você fez, porque o que ela percebeu é apenas criação da parte técnica do ego, como vimos hoje.
Saiba de uma coisa: para o espírito liberto da ação do ego não existe certeza absoluta de nada. Isso porque qualquer certeza absoluta que tiver não é real, mas apenas uma criação do ego. É apenas a razão humana que está dizendo que aquilo aconteceu, mas nada aconteceu.
Portanto, não há calúnias, mas sim provas. Há um ego que está criando verdades para que um espírito possa vivenciar suas provas. Mas, se não há caluniador, será que existe pessoa sendo caluniada? Não, existem personalidades humanas que dizem ter ouvido verdades que são contrárias às suas.
Na verdade você, o espírito, não está sendo caluniado: o que existe é um ego lançando a sensação de ter sido caluniado, de ter sido atacado, de ter sido ferido. Além disso, existe você, o espírito, embarcando nesta sensação criada pela personalidade humana, aceitando isso como se fosse real. Mas, assim como tudo que o ego cria, a sensação de estar sendo caluniado é algo virtual. Faz parte do filme, da peça que está sendo encenada à sua frente, espírito.
Terceiro detalhe da sua pergunta: perdão.
Vocês, seres humanos, egos, não conhecem o perdão. Por isso posso afirmar que nenhuma personalidade humana é capaz de perdoar qualquer coisa.
Continuemos no exemplo da calúnia para podermos entender melhor o que estou dizendo. Para vocês, perdoar uma calúnia é não reagir contra aquele que lhe caluniou. Mas, perdão não é isso.
‘Pai, perdoa porque eles não sabem o que fazem’. Esta frase dá bem a noção do que é perdoar: não ver nada errado no que está sendo feito.
Quem não sabe o que está fazendo, imagina que está fazendo certo. Os soldados que crucificaram Cristo achavam justo e certo fazer o que eles fazendo. O mestre sabia disso e por isso disse: eles não sabem o que fazem. Ou seja, declarou expressamente que se eles não se achavam errados, não seria ele que ia afirmar tal coisa.
Mas, você, ser humano, quer perdoar constatando o erro. Quer perdoar o caluniador, mas não compreende que se para você ele é um caluniador, é sinal de que há a ideia de que ele lhe caluniou. Se existe esta ideia, já se sentiu caluniado e a partir daí não há mais perdão possível.
Perdoar é muito mais do que não penalizar: é não acusar. Perdoar é nem se sentir ferido. Se você já se sentiu caluniado ou ferido, não há como perdoar.
Na verdade, você, o espírito, não precisa perdoar o próximo, mas sim não se sentir caluniado. Precisa não vibrar a sensação de ser caluniado quando o ego lhe propuser isso.
Vou lhe contar uma história que mistura calúnia e pessoas que trazem problema para uma relação. É a história de uma esposa e a relação desta com a sua sogra.
A história afirma que uma mulher casada foi procurar um mestre para fazer um veneno que matasse a sogra, pois ela a detestava. A sogra lhe caluniava, queria comandá-la dentro de casa, pisava nela.
O mestre preparou uma poção e disse para a moça: ‘para que este remédio tenha efeito, você mesmo tem que dá-lo diariamente à sua sogra. Se deixar de dá-lo ou se outra pessoa o fizer, ele não vai fazer efeito’. Mas, o mestre disse mais: ‘além disso, precisa se tornar amiga da sua sogra. Continuando inimiga declarada, quando ela morrer vão desconfiar de você e lhe acusarão’.
A mulher seguiu perfeitamente o que o mestre disse. Todo dia botava o remédio na comida da sogra e tornou-se, mesmo de uma forma falsa, grande amiga da sogra.
Acontece que o tempo passou e nada da sogra morrer. Um dia, depois de passado muito tempo, a mulher voltou ao mestre e disse: ‘por favor, me dê o antídoto para o remédio que eu estou dando a minha sogra’. O mestre quis saber o porquê daquela atitude e a mulher respondeu: ‘fazendo o que o senhor me mandou fazer conheci mais intimamente minha sogra e muitos dos preconceitos que tinha contra ela acabaram. Fingindo ser sua amiga, descobri como ela é uma pessoa carente e precisa de mim. Hoje quero ajudá-la a superar isso, mas se ela morrer, eu não vou poder fazer isso’.
O mestre então disse: ‘você não precisa de antídoto nenhum, porque nunca lhe dei um veneno. O que lhe dei era um remédio para fortalecer a saúde da sua sogra’.
Agora posso responder a sua pergunta: se você acredita que é capaz de fazer alguma coisa para salvar seu casamento, desacredite em todos os seus preconceitos que estão agindo causando o fim do seu amor. Compreenda que o que aparentemente está sendo feito não é contra você, mas que são na realidade provas para você, o espírito.
Compreenda, ainda, que os supostos agentes destas ações não são pessoas que agem por maldade ou por que querem lhe fazer o mal, mas que são instrumentos da sua prova. Mais: compreenda que eles também estão vivendo as provações deles e por isso podemos afirmar que são seres carentes que precisam urgentemente do seu amor.
Quando compreender tudo isso poderá viver em paz com as pessoas que supostamente estão desgastando o seu amor, mantendo, assim, a sua união.
Tenha a certeza de que se não precisasse passar por estas situações, elas não estariam acontecendo. Estando, é porque realmente são provas necessárias para o seu desenvolvimento dentro de sua existência eterna.
Agora, se fizer tudo isso e assim mesmo a sua relação chegar ao fim, saiba que mais uma etapa de sua existência foi concluída, ou seja, o período de provações junto àquele instrumento está encerrado. Não se lamente por isso porque, afinal, você não estava convivendo com o seu marido por paixão, mas por necessidade de provas.