O Livro dos Espíritos – Pergunta 0072a
Poder-se-ia dizer que cada ser tira uma porção de inteligência da fonte universal e a assimila, como tira e assimila o princípio da vida material? Isso não passa de simples comparação, todavia inexata, porque a inteligência é uma faculdade própria de cada ser e constitui a sua individualidade moral. Demais, como sabeis, há coisa que ao homem não é dado penetrar e esta, por enquanto, é desse número.
A inteligência é o que caracteriza a individualidade de cada um. Além do mais, não existem duas inteligências iguais. Ou seja, não existem duas pessoas com o mesmo nível de percepção; que fazem a mesma coisa na mesma intensidade e da mesma forma; que acreditem nas mesmas coisas com a mesma intensidade.
Isso precisa ficar bem claro para que o ser humanizado possa respeitar a individualidade de cada um. Por não vivenciar esta Realidade, o ser humanizado quer policiar o próximo a partir de sua própria individualidade. Por causa desta ação policial, diz que as outras pessoas são desligadas porque não veem o que eles veem; que são erradas por que não acredita naquilo que eles acreditam; que são chatas porque não gostam do que eles gostam…
Saibam que cada pessoa “vê” de um jeito diferente um mesmo acontecimento. Cada pessoa percebe diferente da outra, porque o poder de percepção, que está na inteligência, é diferente para cada um. Este poder é o que caracteriza a individualidade de cada um.
Uma pessoa, por exemplo, não deixou de limpar a sujeira que você está vendo porque ela é preguiçosa: isto ocorreu porque a inteligência dela não percebeu aquilo como sujeira. A outra, que deixou a roupa desarrumada, como você acredita que está, não deixou desse jeito: para ela estava arrumada…
Tudo isso é desse jeito porque as percepções (valores) de arrumação são diferentes. Cada um percebe alguma coisa no acontecimento e estas percepções não são iguais, padrões, para todos…
Os espíritos humanizados precisam compreender isso para poderem parar de querer padronizar a humanidade, tornando os seres humanos em robôs que só fazem o que é programado.
Para aqueles que buscam a elevação espiritual, é preciso parar de querer que a humanidade seja toda igual. Isso porque esta busca de padronização tem um fiel: você…
Claro que se você for estipular um padrão para todos os humanos será o seu: aquilo que acha que é “certo”, “bonito”, “limpo”, etc. Isso porque, como você vive a sua individualidade como perfeita, que não contém “erros“, quer que ela seja o ponto central para todas as outras…
O ser humanizado precisa deixar de querer que todo mundo ache o que ele acha, que goste do que ele gosta, que perceba as coisas do jeito que ele percebe, porque isso é um ato de tirania. É a vivência de uma ditadura…
A atitude de buscar transformar a individualidade dos outros para os seus próprios padrões de “certo”, corresponde àquilo que a humanidade tanto critica: acabar com a liberdade individual, o desejo de subordinar os outros à sua própria vontade…
Está bem claro nesta resposta: a inteligência, ou seja, a capacidade de percepção, processamento das informações para chegar a uma conclusão e armazenamento desta, é individual. Cada um vê ou acha ou gosta de uma determinada coisa de uma determinada forma.
A humanidade precisa se imbuir desta Verdade. Isto porque, é do querer que o próximo seja uma cópia perfeita de si mesmo – e, por mais que se queira, ninguém será – que surgem a crítica, as brigas, a raiva, o ódio. Tudo isso são sentimentos nutridos pelo espírito por causa da revolta do próximo não ser o que ele acha “certo”.
Além do mais, essa obstinação em alterar a individualidade do próximo faz o ser humano sofrer à toa…
Quem quer sobrepor-se ao outro sofre, porque fica dependente dos acontecimentos do mundo e das atitudes do próximo para ser feliz. Quem precisa para ser feliz de verdade, jamais o conseguirá, porque as diferenças sempre existirão.
Este sai da carne e se considera um pobre-coitado e afirma que assim o é porque nada de bom aconteceu na vida dele. Não aconteceu nem nunca acontecerá… Sabe por quê? Porque ele quis obrigar o mundo a andar do jeito que ele queria.
Para cada um que quer mudar a individualidade dos outros seres, Deus pergunta: “E Eu, o que estou fazendo aqui? Estou aqui só para assistir você mudar o mundo do jeito que quer?” Não, Ele é a Causa Primária e nada pode acontecer sem que determine…
É por causa desta Verdade que Ele não causa a mudança no próximo, por mais que você queira. Mas faz mais: atraia os diferentes para conviverem…
Ele faz isso para ver se o ser humanizado chega à conclusão que não deve mudar o próximo, mas sim aprender a amá-lo do jeito que ele é. Como diz Cristo, se você ama apenas que lhe são iguais, que vantagem faz? Até os pagãos fazem isso… É por isso que Deus causa primariamente a diferença das individualidades e aproximação de antagônicos.
Na verdade, com esta ação, Ele está criando uma oportunidade para o ser encarnado amar, ou seja, pôr em prática os mandamentos deixados pelo mestre Cristo. Quanto o ser consegue praticar o amor, recebe, então, de Deus, a sensação de felicidade sempre, não importando o que está acontecendo…
Tudo isso está escrito neste pedaço que lemos agora… Não com estas palavras, mas, como já disse, a nossa função é raciocinar sobre o ensinamento. Isso porque, quem quiser compreender algo mais neste e em muitos textos do Espírito da verdade sempre se esbarrará com uma Realidade: “demais, como sabeis, há coisas que ao homem não é dado penetrar e esta, por enquanto, é desse número”.
Estudar “O Livro dos Espíritos” é fazer exatamente isso: ler, sem buscar compreender técnicas, mas a partir do que é dito, tentar aplicar aos acontecimentos da vida… Fazendo isso neste trecho, o ser humanizado compreenderá, então que não se pode mudar a individualidade (íntimo) de cada um, pois todos percebem as coisas de forma diferente…