Ai de vocês, guias de cegos, que ensinam assim: se alguém jurar pelo templo não é obrigado a cumprir o juramento; mas, se alguém jurar pelo ouro do templo é obrigado a cumprir o que jurou. Qual é mais importante: o ouro ou o templo que santifica o ouro? Também ensinam isso: se alguém jurar pelo altar não é obrigado a cumprir o juramento; mas, se jurarem pela oferta que está no altar, então é obrigado a cumprir o que jurou. Cegos, qual é mais importante, a oferta ou o altar que santifica a oferta? (Evangelho de Mateus)

O que é mais importante: o ouro ou o templo que o santifica? O que é mais importante para você: a sua casa ou o Deus que a santifica? Esta é a pergunta que Cristo faz aos seus seguidores de então, mas que também continua fazendo aos de hoje… Responda…
Para os seres humanizados eu sei que é a casa. Eles se preocupam antes de qualquer coisa em ter uma casa, porque não imaginam como pode se viver sem tê-la. Se ele estiver sem casa vai sofrer, chorar, ranger os dentes. Mas, o que é mais importante: ter uma casa ou ter Deus, ter um carro ou ter Deus ao seu lado?
Santificar o ouro é dar a ele um valor espiritual, dar um valor santo às coisas do mundo. Não se trata de santificar o ouro, mas sim em dar a ele o seu valor universal.
Durante todo esse tempo estamos falando que não existe vida material, mas sim existência espiritual que se vivencia em diferentes planos. Se isso é verdade, é preciso que o ser humanizado santifique a vida material. Para isso, não estou dizendo que não se pode ter casa, mas sim ter uma casa no seu sentido espiritual.
Ter uma casa dentro deste sentido é não possuir a casa (‘ele é minha’), mas habitar um lugar que pertence a Deus. É saber que a casa está sob sua guarda por empréstimo feito por Deus e que Ele pode dispor dela da forma que quiser: jogá-la abaixo, sujar a parede, inundá-la, etc. Quem convive com a casa onde mora numa relação espiritualizada, mora nela, mas não se diz capaz de definir o seu destino, pois sabe que é apenas um locatário e não um proprietário.
Mas, os seres humanizados não vivem assim: se imaginam proprietários do imóvel. É por isso que quando aparece um defeito na casa ele diz que ela não presta. Quando está velha, diz que não serve para nada. Isso porque o ser humanizado vive a casa sem santificá-la. Ele não dá o valor espiritual a casa, mas a utiliza pelo ouro, pela matéria. Se ela estiver bonita, limpa e arrumada, os ser humanizado gosta dela, mas se isso não acontecer, não gosta mais dela.
É por não dar o valor espiritual à casa que Deus, o proprietário, despeja o ser humanizado. Como vive pelo ouro, este ser, então, xinga a Deus com o seu sofrimento. Mas, que culpa tem Deus disso? Ele teve que tirá-lo de lá porque ele não estava satisfeito com ela, não convivia harmonicamente com a casa no estado que estava.
O ser humanizado vive pelo ouro do templo e não pelo próprio templo. Se Deus lhe dá um carro ele já quer um modelo mais novo, com mais acessórios; se o Pai lhe dá uma roupa, o ser humanizado diz que ela está fora de moda e quer outra; se o Senhor lhe dá um salário, o ser humanizado reclama dizendo que é pouco e que quer mais. É isso que é viver o ouro do templo.
Aquele que busca a consciência crística age ao contrário, santifica o ouro do templo: se o carro está velho ou sem novas tecnologias, o ser humanizado vive com ele em paz; se a roupa está gasta ou puída, vive harmonizado com ela; se o salário é pouco, vive com felicidade o pouco que pode desfrutar. Quem vive assim esta usando o ouro de uma forma santa, ou seja, está amando tudo que tem no estado que está e contendo o que contêm.
O ser humanizado não aceita o que tem. Está sempre buscando mudar aquilo com o que convive para satisfazer os seus conceitos de bom, certo, moderno, melhor. Santificar o que tem é vivenciar em paz, harmonia e felicidade o que tem sem achar que merece mais ou melhor. Santificar o ouro é agradecer a Deus tudo o que tem.
Não se está falando aqui em não ter desejos de outras coisas. O desejo é inerente ao ser humanizado. Ele sempre irá querer além daquilo que tem. Isso é algo normal e aquele que vivencia a consciência crística também quer, mas vivencia o que tem santificando-o, ou seja, convivendo com o que tem neste momento de uma forma harmônica, enquanto quem não santifica o ouro sofre com o que tem.
Além de falar em santificar o ouro, Cristo nos diz ainda que aquele que tem a consciência crística santifica a oferta. O que quer dizer isso?
A oferta a Deus é a existência que o ser humanizado vivencia. A vida humana de um ser é uma oferta ao Senhor.
Aquele que santifica a sua oferta a Deus vive harmonizado com aquilo que tem. Aquele que santifica o altar ao invés da oferta vive sempre buscando ter mais do que tem.
Quem só tem um prato de comida simples para comer, mas louva a Deus por isso santifica a sua existência. Aquele que sofre porque só tem um prato para o dia inteiro e quer fazer todas as refeições santifica o altar e não a oferta.
Estes são os dois ensinamentos de Cristo neste trecho. Mas, a amplitude deste ensinamento pode ser maior se extrapolarmos as possessões individuais e analisarmos o ensinamento na vida societária.
O que é santificar o ouro e o altar no tocante a convivência com os outros? É aceitar tudo o que o outro faz sem críticas, sem julgamentos. Quem santifica o ouro e o altar vive harmonicamente com o próximo mesmo que ele não faça ou não diga aquilo que o ser humanizado espera dele.
É isso que Cristo está dizendo. Aquele que alcança a consciência crística santifica, ou seja, vive harmonicamente, tudo aquilo que possui e tudo aquilo que os outros fazem para ele.
Existe algo que já falamos aqui e que os seres humanizados esquecem: se alguém não fizer algo contra ele ou se sua existência estiver perfeita dentro dos seus padrões individuais, não existe elevação. Alcançar a consciência crística depende totalmente do que se vivencia, pois ela é o resultado da santificação que se faz destas coisas.
Sabe, o seu filho deixar um quarto bagunçado é lhe dar a oportunidade de elevação… Uma pessoa lhe contrariar, dizer que você não sabe nada, lhe ofender, morar numa casa que não se gosta, ter algo que se acha atrasado, é oportunidade de elevação.
Tudo o que ser humanizado tem e vivencia é uma ação que dá a oportunidade do ser humanizado santificar a sua existência. Pergunto: se o ser universal não passar por estas coisas, para que encarnou. Para se divertir? No Universo, o ser universal se diverte de outras formas.
O ser humanizado precisa compreender que tudo o que tem e vivencia é necessário para que ele se liberte dos conceitos com que vive. Alcançar esta consciência é santificar tudo o que tem e todos os atos que as pessoas praticam à sua frente. Isso é santificar o ouro. Quem não vive assim, simplesmente utiliza o ouro, ou seja, sobrevive, passa pela vida.
Sem compreender que cada pessoa com a qual o ser humanizado convive faz exatamente o que ele precisa para a sua elevação espiritual, ele não santifica o ouro e o altar, ou seja, a sua oportunidade de encarnação. Quem não age assim vive na hipocrisia. Vive na falsidade de que o que ele quer e acha correto é o certo para o Universo.
Quem alcança a consciência crística santificando o que tem e o que vivencia não se sente vítima nem tem algoz. Sabe que tudo e todos são instrumentos necessários ao seu trabalho durante a encarnação.
O ser humanizado precisa mudar a visão que tem sobre as coisas e as pessoas do mundo. Precisa acabar com a visão do ouro pelo ouro e começar a ver de uma forma santa o ouro e o altar. Para isso é preciso alcançar a compreensão da santidade do ouro.
Tudo o que existe e acontece é santo. Não importa se estamos falando de uma simples ofensa (‘você é bobo’) ou de um assassinato: tudo faz parte do plano divino para a elevação espiritual de um ser universal. Tudo o que existe e acontece para um ser é o melhor para ele, pois é a justa medida daquilo que precisa para o seu trabalho de alcançar a consciência crística. Nem mais nem menos…
Vida é oportunidade de elevação; é carma em ação: mais nada… Um homem não se apaixona por uma mulher e vive junto com ela. Se estes dois seres humanizados estão juntos é porque cada um é o carma do outro, ou seja, cada um possui os elementos necessários para que o outro possa fazer a sua elevação. Se isso não fosse realidade, jamais estes dois seres teriam se encontrados nem estariam juntos. Para que estariam juntos? Para se divertir? No sentido espiritual, isso seria uma perda de tempo e no Universo isso não acontece…
Será que Deus colocaria dois seres convivendo juntos para que eles pudessem gozar o prazer de estarem juntos? Isso, no sentido da existência eterna, seria uma perda de tempo… Sobre isso, deixe-me dizer uma coisa: Deus não perde tempo, até porque Ele não tem tempo para perder… O que Ele quer é resolver a questão da elevação de cada ser. Fazer isso é dar a cada o que merece e precisa para realizar o trabalho necessário para alcançar a consciência crística.


Participante: Não há algo que um ser possa gerar por sua vontade mesmo que não esteja programado para o trabalho da elevação espiritual?


Impossível… Existe um Senhor que é onipotente, onipresente e onisciente e que por isso comanda pessoalmente todo o programa do trabalho da elevação espiritual.
O ser humanizado pode ter a ilusão de achar que faz o que quer, mas isso não pode acontecer. Sendo isso possível, pelo objetivo que lhe move (viver o ouro pelo ouro) e que é diferente de quando não humanizado, o ser não realizaria o trabalho necessário para a evolução.
Sendo isso verdade, não existe nada errado. Tudo que acontece e o que o ser humanizado possui é sempre uma oportunidade para que ele possa conhecer os conceitos que possui sobre os elementos do mundo e libertar-se deles. Tudo está sempre perfeito segundo a intenção de Deus: que o ser universal possa prosseguir na sua caminhada eterna. Apesar disso afirmo que apenas Deus conhece realmente a necessidade de cada um.
O ser quando se conscientiza de que a sua jornada humana é escrita por Deus para a sua elevação quer saber porque está trilhando este ou aquele caminho, mas isso é impossível. O ser humanizado não pode perscrutar as ações de Deus: só pode santificá-las ou não.