Participante: Como posso dizer à minha mãe que ela está me levando para a ilusão… Que o arroz e feijão bem temperado, o morango ensopado e o peixe frito são mayas… É como se fossemos crianças e nos dessem um pedaço de chocolate bem grande… Só que este chocolate não é a verdadeira existência do ser. Nosso verdadeiro alimento é outro…
Ou seja, o que você me pergunta é como não retribuir o amor carnal a quem nos ama carnalmente…
Esta é uma questão importante para o buscador e muitos que buscam aproximar-se de Deus se perderam neste aspecto. Começarei lhe dizendo o seguinte: o amor universal, não pode – ouça bem o que eu quero falar – transigir a nada…
Acho que não usei a palavra certa… O que quero dizer é que o amor universal não pode se submeter – seria uma palavra melhor – a nada. Ele precisa estar presente e não pode se deixar abater por nada…
Pense comigo… Talvez esta mesma pergunta tenha sido feita por Cristo antes do episódio dos mercadores do templo… Talvez ele tenha pensado: Pai, como vou dizer àqueles homens que estão ganhando a vida comerciando as mercadorias no templo que eles não podem fazer isso? Pobres coitados, eles têm família, precisam deste dinheiro pra sustentar filhos e mulheres…
Avancemos um pouco mais no tempo… Talvez a mesma pergunta tenha sido feita por Francisco de Assis quando ele precisou expor os seus pais à crítica da comunidade ao assumir determinado padrão de existência…
Apesar disso, ambos viveram em paz, harmonia e felicidade estes acontecimentos. Sabe por quê? Porque o amor universal não pode existir quando há o medo de magoar os outros…
Em nossos estudos destruímos todos os conceitos humanos a respeito de Cristo. Já mostramos como ele, em momento algum, trabalhou em prol da felicidade humana, ou seja, do prazer. No entanto, para aqueles que não acompanharam estes estudos, lanço aqui um desafio. Leiam o Novo Testamento e me apontem em que momento Cristo não critica apontando falhas nos religiosos do seu tempo ou até em seus apóstolos.
Procurem nos ensinamentos atribuídos a Cristo e verifiquem que não há uma palavra de carinho ou encorajamento quanto à felicidade material… Mais: além de jamais encorajar seus seguidores a esta busca, Cristo ainda fala mal dela. Isso fica bem claro na pergunta que faz aos céus: até quando eu terei que aguentá-los, vermes… Vermes: é assim que ele se dirige aos seus discípulos quando eles buscam a felicidade material.
Sabe por quê? Porque Cristo não os amava materialmente (com um amor humano), mas universalmente (o amor de espírito para espírito).
O mestre sabia que amando universalmente não se pode passar a mão na cabeça (transigir com os desejos e paixões humanas do espírito encarnado). Ao contrário, o amor verdadeiro entre dois espíritos precisa ser fundamentado no aproveitamento deste para a elevação espiritual, mesmo que isso fira os anseios humanos.
Portanto, como dirá à sua mãe que ela não o está amando verdadeiramente? Da forma mais direta: não tendo prazer em comer o arroz com feijão, não demonstrando a ela que está fazendo uma grande coisa por você.
Desculpa, parece que estou lhe incitando a causar sofrimento à sua mãe, mas não é isso. É como eu disse: o amor não pode transigir, não pode aceitar calado o não amor ou o amor fundamentado em paixões e desejos humanos. O amor não pode silenciar-se frente ao egoísmo. O amor precisa apontar o egoísmo porque sem a consciência de ser egoísta, o ser humanizado, o espírito encarnado, jamais compreenderá o seu próprio egoísmo…
Mas, ao vivenciar esta atitude, não o faça guardando mágoa de você ou dela. Não o faça sentindo-se o dono da razão ou da verdade… Faça porque é isso que a sua consciência indica para ser feitor. Mas, principalmente, preocupe-se em fazer no seu mundo interno, ou seja, no seu coração. Demonstre de sentimentos e não de atos, pois você só conseguirá praticar atos que espelhem esta decisão, como já vimos, se isso estiver no livro da vida dela e seu…
Amar internamente sem vivenciar sentimentos de crítica ou de soberba: este é o trabalho que pode ser chamado como sal da humanidade, como luz para o mundo…
Foi assim que Cristo viveu. A cada momento que era preciso colocar o dedo na cara – sim, dedo na cara, pois nunca existiu o sorriso bonito que as pinturas revelam – e dizer ai de vocês professores da lei e fariseus e hipócritas, Cristo estava em paz. Cada vez que ele tinha que vivenciar situações que, externamente, demonstravam que estava com raiva, por dentro (sentimentalmente) estava de bem consigo mesmo. Nunca aceitou para si a crítica ao próximo e nem nunca se criticou.
Se fôssemos analisar pela razão humana, pelos critérios de bondade humanos, Cristo depois de enfiar o chicote nos mercadores deveria ter sentado no chão e chorado: meu Deus, eu agredi fisicamente um semelhante… Mas, não fez isso. Foi para dentro do templo e falou mais e esqueceu aquele ato. Ele nunca teve dentro de si o sentimento que aparentemente estava lhe dominando: raiva por comercializarem na casa de Deus. Assim como não tinha também dentro de si nenhuma culpa ou frustração por ter sido agente daquele ato…
Mas, aproveitando a sua pergunta, quero deixar um recado para todos: sejam honestos com vocês mesmos…
Não criem ilusões ou fantasias de que alcançarão uma posição de beato, uma beatitude nesta vida… Não acreditem que conseguirão ter aquele ar angélico que caracteriza humanamente aqueles que são elevados… Tudo isso é apenas um estereotipo, ou seja, uma ilusão. O que vale não é com o que você se aparenta, mas como vive internamente…
Além do mais, não se esqueçam que Krishna ensina: cada um vive de acordo com a sua natureza, ou seja, de acordo com a sua missão no planeta. Portanto, você não pode ser diferente do que é…
Sendo assim, lhe aconselho a não transigir no amar universalmente nem se o resultado deste amor for a possibilidade de chatear sua mãe… Não transija nem se a possibilidade for de destruir um casamento, de perder um emprego… Ou seja, não transija nunca.
Faça isso para poder ganhar a vida, pois como disse Cristo: quem quiser ganhar a sua vida vai perdê-la, mas quem a perder em meu nome, ganhará a vida eterna…
Não faça como os humanos hipócritas, que acendem uma vela para Deus e outra para o diabo (vão aos cultos, mas continuam vivendo o restante de sua existência dentro dos padrões humanos), porque isso não dá certo.
Não transija jamais no seu amor…
Um comentário
Não transija!!!