Pergunta: Então, onde está o livre arbítrio? E o livre arbítrio da mãe não poderia influenciar esta situação?
Sobre a questão do livre arbítrio vamos falar rapidamente, pois ele já foi debatido profundamente através de nossos ensinamentos. Aliás, a compreensão perfeita deste tema é a base para o entendimento de todos os nossos ensinamentos.
Em O Livro dos Espíritos está perguntado: o espírito sabe antes do seu nascimento o que vai acontecer? O espírito da verdade responde: sim, ele mesmo pede suas provas e nisso se consiste o seu livre arbítrio.
No mesmo livro, mais à frente a compreensão sobre o tema fica ainda mais fácil:
“851 – Haverá fatalidade nos acontecimentos da vida conforme ao sentido que se dá a este vocábulo? Quer dizer: todos os acontecimentos são predeterminados? E, neste caso, que vem a ser do livre arbítrio? A fatalidade existe unicamente pela escolha que o Espírito fez, ao encarnar, desta ou daquela prova para sofrer. Escolhendo-a, instituiu para si uma espécie de destino, que é a consequência mesma da posição em que vem a achar-se colocado. Falo das provas físicas, pois pelo que toca às provas morais e às tentações, o Espírito, conservando o seu livre arbítrio quanto ao bem e ao mal, é sempre senhor de ceder ou resistir”.
Resumindo estas duas informações podemos dizer que o espírito ligado a uma personalidade humana tem dois livres arbítrios: um para o ato e outro para o sentimento com o qual vivencia o ato. O livre arbítrio do ato é exercido antes da encarnação quando o espírito pede as suas provas, escreve a história que o personagem que irá ligar-se vai viver. Depois de que encarna (liga-se ao personagem de tal forma que passa a ter a consciência de que é ele) é impossível alterar tudo o que foi previsto para aquela vida.
A questão do porque o espírito não pode alterar a existência pré-programada do ser humano também está em O Livro dos Espíritos: “O desejo que então alimenta pode influir na escolha que venha a fazer, dependendo da intenção que o anime. Dá-se, porém, que como Espírito livre, quase sempre vê as coisas de modo diferente”. Quando o espírito vivencia a consciência de que é o ser humano seu objetivo é outro. Antes ele era movido pela intenção de elevar-se espiritualmente (adquirir bens celestes), mas depois passa a desejar a riqueza material (satisfação, prazer).
Portanto, o livre arbítrio do ato é exercido antes da vida, antes da encarnação. No entanto, durante a vivência dos acontecimentos carnais ele tem o livre arbítrio do sentimento (“Falo das provas físicas, pois pelo que toca às provas morais e às tentações, o Espírito, conservando o seu livre arbítrio quanto ao bem e ao mal, é sempre senhor de ceder ou resistir”). O bem e o mal nesta resposta do Espírito da Verdade não estão voltados para o ato em si, mas utilizados no seu sentido espiritual. O espírito que vive o bem é aquele que ama a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo e aquele que opta pelo mal é quem ama a si mesmo acima de tudo. O primeiro é aquele que não cedeu a tentação da cobra e por isto não exerce o ilusório poder de julgar os acontecimentos do mundo, deixando para Deus tal atribuição. Já o segundo é aquele que cai na tentação (aceita a maçã) e que, por isto, acredita possuir os olhos abertos, ou seja, a capacidade de reconhecer aquilo que apenas Deus conhece.
Respondendo, então, à sua pergunta, o espírito possui livre arbítrio. Aliás, mais do você imagina, pois não há apenas um, mas dois livres arbítrios. No entanto, eles não são usados simultaneamente. Um é utilizado antes da encarnação para preparar a vida, a história do ser humano, e o outro é usado durante a encarnação para realizar a prova que ele preparou antes da encarnação. Isto ocorre desta forma, porque a escolha do sentimento é a prova que o espírito realiza durante a vigência da existência do ser humano criado por ele.
Enquanto os acontecimentos da personalidade humana ocorrem o espírito está lutando para provar a Deus que é capaz de amá-lo acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Ele tem a opção de amar ou não amar concedia pelo Pai, mas nisto não resulta que ele pode alterar a situação que está ocorrendo na carne. Se pudesse estaria suprimindo provas que ele mesmo escreveu.