Participante: então, o que é justo ou injusto só cabe a Deus julgar? Deve o homem ficar apático do que ele acha justo e injusto?

 Quero responder sua pergunta com outra para entendermos bem a questão que está colocando: Deus é justo? Não, Ele não é justo, mas sim a própria Justiça. Uma coisa é diferente da outra.

Ser justo é aplicar um código de normas. Deus não aplica normas nenhuma, pois é a própria norma. É Ele que determina a cada momento o que é a Justiça que deve ser aplicada e não aplica o que é justo. Por isso, quando você se arvora no direito de dizer o que é justo, está roubando o poder que é inerente a Deus. O nome que se dá a esta ação do ser humano é pecado original.

No livro Gênesis da Bíblia, Deus diz ao espírito: ‘não como do fruto da árvore do conhecimento’. O fruto dessa árvore é o saber, ou seja, tornar uma informação numa verdade.

A cobra, que simboliza a personalidade humana, a mente humana, então, oferece o fruto ao espírito. Tentado pela cobra o ser diz que não deve comer o fruto oferecido, pois Deus disse que se comesse morreria.

A cobra afirma, então, que ele não morrerá por comer desse fruto. Diz que Deus não quer que coma para que não passe a saber das coisas, pois, se souberem, seus olhos se abrirão e será como o próprio Deus. Conseguirá isso porque terá a capacidade de distinguir o bem do mal.

Tentado dessa forma, o espírito demonstra que seria muito bom ter esse poder e come o fruto da árvore proibida. Cede a tentação de ter os olhos abertos (saber) e toma para si o poder de julgar as coisas.

Essa é a origem do que é conhecido como sansara ou roda de encarnações e por isso é que se chama de pecado original. Nessa parábola está a origem do nosso processo de reencarnações. Todo o processo de caminhada para a elevação espiritual é marcado pela tentação da cobra (a personalidade humana) oferecendo informações para ver se o ser alimenta-se do fruto (passa a saber) ou se deixa a Deus o poder que é só Dele.

É por conta dessa visão que o egoísmo, que já falamos aqui, é o grande entrave que o espírito precisa calar em si quando encarnado para poder elevar-se. Como ser egoísta é defender as suas posses, principalmente a moral (o saber), é ele que não deixa o ser abrir mão de se alimentar do fruto da árvore do conhecimento. Não se libertando, continua comendo o fruto da árvore proibida cada vez que a mente o oferece. Quando faz isso, mais uma vez age querendo ter para si um poder que é só de Deus.