Participante: que lindo. Não sabemos realmente o que é espírito e matéria. Louvado seja Deus eternamente.

A que Deus você está louvando, pois também não sabe quem Ele é. Acho melhor você dizer: louvado seja o nada …

Participante: tem chance de alguma afeição humana se tornar amor?

Jamais. Não existe afeição humana que não seja fundamentada no egoísmo. Até porque qualquer uma delas começa com o eu amo. Se o eu está presente, o egoísmo também está.

Participante: então uma afeição pelo que vejo no intuito de louvar a Deus não chegará a Ele?

Desculpa a franqueza, mas repare como seu ego tem um jeito peculiar de colocar falsas verdades como se fossem verdadeiras.

Não existe no ser humano nenhuma afeição com a intenção de louvar a Deus. No ser humano não existe esta intenção verdadeiramente. Isso porque louva a Deus em algumas afeições e em outras não.

Se alguém lhe enfiar uma faca, não louvará a Deus. Terá raiva, sentir-se-á mal, atacado.

No ser humano não existe universalismo, porque ele parte do eu. Vou lhe contar uma história para deixar bem claro o que quero dizer.

Os apóstolos vinham com Cristo numa estrada e havia um cachorro morto há algum tempo. Já estava em processo de decomposição. Os apóstolos ao passar pelo cão sentiram nojo, sentiram-se mal. Cristo quando passou por ele olhou bem o corpo caído e disse: que belos dentes ele tem.

Aí está uma forma de louvar a Deus. Só que você como humano que é, já teria virado a cara para aquela cena. Isso porque atende a primeira ideia que o ego lhe dá e essa criação por parte dele é louvar a Deus em determinada situações e em outras não.

Por isso, lhe digo: não acredite em nada que ele criar, nem quando diz que está louvando a Deus. Saiba que ele só faz isso quando quer louvar, quando tem alguma vantagem individual embutida. Quando faz isso, não louvou a Deus, mas a si mesmo, o seu querer.

Não, esqueça, não queira em momento algum transformar alguma coisa humana em sagrada. Nada que é humano possui esta característica, mesmo que aparentemente acredite que seja.

Participante: sei que é o ego que louva a Deus, mas foi este que o Pai me concedeu. Devemos chegar lá passo a passo, não?

Sim, este é o ego que Deus lhe concedeu, mas mais do que isso, é aquele que você pediu. É a mente que representa o gênero de provas que pediu.

Portanto, o ato dele louvar a Deus está preso a um gênero de provações que você, espírito, pediu: o ato acreditar que o material possa ser divino. Matéria é matéria, espírito é espírito. Não se misturam. Espírito é luz, matéria é sombra. Não há como se jogar luz na matéria.

Participante: para louvar o Pai em tudo, tenho que ir ampliando os louvores?

Para louvar o Pai em tudo, tem que louvar Ele e não a coisa material. Quando fizer isso, não louvará mais nada.

Por isso, não pode ter afeição a alguma coisa e dizer que por causa dela louva a Deus. É preciso fazer isso tendo afeição positiva ou negativa por uma coisa.

Louvar a Deus é louvar a Deus. Fazer isso porque o Pai faz a terra, o sol e a comida, é louvar estes elementos e não a Ele.

Participante: um é sombra e o outro é luz, e os humanos nunca distinguirão um do outro no universo.

Não é não distinguir um do outro. O humano é cego. Cristo disse isso. Se acredita no humano, você é cego.

O humano não vê a luz, não é distinguir ela da escuridão. Do espiritual ele não vê nada, a não ser as ideias sombrias sobre a luz que lhe vem à mente.

É isso que você acha que está fazendo e por isso está se aproximando de Deus. Isso são ideias sombrias sobre a luz.

Não se pode clarear a escuridão, porque quando se faz isso o negrume acaba. Só quando acabar com o escuro haverá luz. Por isso é impossível se clarear uma escuridão. É preciso acabar com ela para que a luz alcance aquele lugar.

Participante: acabar com o conceito sobre a matéria?

Não. Você não pode acabar com os conceitos.

Deixe-me falar bem claramente. Vocês não podem acabar com nada da matéria. Não podem acabar com os conceitos, com as verdades, com os quereres, as vontades. Não pode acabar com nada que seja material. O que precisa ser feito é aprender a se libertar da ação dessas coisas.

O seu conceito existirá, mas é preciso se libertar da ideia de que ele é verdadeiro, sem transformar em falso. É o que falamos: é preciso dizer que não se sabe o que é. Portanto, o conceito existirá, mas o que não pode ter é a ideia sobre ele.

É isso que não pode deixar o seu coração se prender. Se isso acontece, se acha que o conceito é verdadeiro ou negativo, está preso a ele.

Participante: como fica o que você disse: não amar o cachorro, mas amar a Deus através dele.? Minha intenção de louvar a Deus através de tudo, até no meu esfaqueamento, era o que tinha entendido. Não o que vejo, mas o que tenho em mira: Deus.

Mesmo que diga que ama o esfaqueador, isso é mentira. Na verdade está tendo a ideia de amá-lo porque isso é uma condição para a sua elevação. Compreendeu que é isso que precisa ser feito e por isso faz.

Jamais disse que é amar o esfaqueador. Sempre disse que é amar a Deus que o criou e gerou também a faca e a ação de lhe esfaquear.

O que estou falando está muito acima do bem e do mal, do certo e do errado, do bonito ou feio. Está também acima do que é divino ou mundano.

Uma vez me perguntaram como se faz para limpar a casa da inveja. Eu disse: ame o invejoso, mas principalmente o ato de invejar. Não adianta amar o esfaqueador, porque estará amando um ser humano. É preciso amar a Deus e fazer isso é amar ao ser humano, a faca e ao ato de ser esfaqueado.

Amar é não sentir nada por qualquer destas coisas. Não se trata de gostar ou de achar certo, mas atingir a apatia por estas coisas.

É dizer, esfaqueou, esfaqueou; o que eu posso fazer? Não se trata de agradecer pelo esfaqueamento. Não é isso que falo.

O que estou dizendo é agir sem emoções, inclusive sem louvação, sem uma emoção de louvar. Falo isso porque louvar a Deus não é uma emoção que lhe leve algum êxtase, mas que o mantenha na equanimidade, na apatia.

Sendo assim, quando se ama a Deus através do cachorro, está se amando a Ele e não ao cão. Isso se faz mantendo a apatia com o cão e não um êxtase de tê-lo. O cachorro não é Deus, o Pai é ele. Quando se ama o cão para chegar a Deus e para por aí. Quando se ama a Deus e por isso se ama o cachorro, a vivência é diferente.

Neste momento ultrapassou o cão. Não mais o possuirá, conviverá com ele, mas com Deus. Nesse caso, a mordida, o xixi, o coco e o fedor também o é. Amando a Deus, amará a tudo isso. Só que não é assim que vivem. Amam o cão desde que ele satisfaça as suas prioridades, os seus desejos, a sua regra sanitária. Isso não é amar a Deus.

Participante: quando achamos que estamos amando a qualquer um, amamos a nós mesmos acima de tudo.

Sim, porque está mando o seu achar. Você acha que é e acredita que o seu achar seja. Assim ama a si mesmo.

É preciso ter cara de bobo: nada sei, nada sou, nada ouço, nada vejo, nada falo. Digo, mas não falo, percebo, mas não vejo, escuto mas não ouço.