Participante: Qual o caminho para se libertar dos grilhões, eliminando o raciocínio e a razão, pois são frutos de uma consciência constituída erroneamente, e ousar?


Deixe-me lhe dizer uma coisa: não se acaba com o raciocínio, não se acaba com os grilhões. O que você deve fazer é libertar-se deles…
O que estou buscando lhe transmitir é uma coisa completamente diferente daquilo que você está entendendo. Acabar com o raciocínio não é deixar de tê-los; mas sim libertar-se deles, não dar importância a eles.
Vou lhe contar uma história, que está em um livro da literatura espírita de vocês. Com isso, acredito que posso lhe ajudar a compreender o que estou tentando transmitir…
Duas moças, que eram princesas em seus países, foram raptadas e aprisionadas por um egípcio. Elas transformaram-se em escravas dele. Uma vivia com raiva de quem lhe sequestrou. Sofria e amargurava esta dor no peito… A outra, apesar da mesma escravidão, vivia em paz e harmonia consigo mesmo.
A moça que sofria perguntou um dia para a outra: ‘você não tem ódio deles? Como você consegue viver assim sabendo que sua família está longe, que você poderia estar num palácio, mas está aqui trabalhando como escrava’. Aquela que não sofria respondeu então: ‘quem está escravizada é meu corpo, não eu. Eles só podem fazer qualquer coisa ao meu corpo, não a mim’.
Desta história tiramos uma grande lição para esta pergunta que você me fez: deixe a mente escravizar o ser humano e não se deixe escravizar por ela… Seja livre da escravidão do ser humano…
Sabe, uma das maiores mentiras que eu já ouvi é quando o ser humano diz: eu sou livre. Que mentira. O ser humano é um escravo…
Escravo da sociedade, das regras societárias que ditam o certo e do errado. Escravo dos seus desejos, pois só quando eles são satisfeitos o ser humanizado está feliz. Escravo da vida que leva, porque por mais que ele se esforce para ir para um lado a vida o leva para outro…
O ser humano não tem liberdade alguma. Vive cercado por regras, normas e leis. Vive aprisionado a paixões e desejos e se diz livre. Essa é uma consciência que você precisa ter: ser um ser humano é ser escravo. Escravo da mente, da sociedade, da família, do emprego… Liberte-se de tudo isso.
Não estou falando para acabar com a família, com o certo e o errado ou para deixar de trabalhar. Estou falando em se libertar das ideias que tem sobre estas coisas. Isto porque deixar de ter essas ideias é coisa que você não pode fazer, pois é a mente que as tem. Sendo assim, elas continuarão existindo até que Deus não mais as crie…
Então, libertar-se dos grilhões e viver com Deus é – ouça bem o que eu vou falar e guarde bem isso – libertar-se da humanidade exigida para o seu ser humano, para o seu personagem humano. Se a vida exige que o seu personagem como homem aja de tal forma, liberte-se desta obrigação. Viva como viver, seja feliz.
Você pode até fazer o que ou outros cobrem que faça, mas não aja motivado por obrigação, por ter que fazer… Participe apenas assistindo o que está sendo feito, ou seja, tenha a consciência de que está fazendo porque está e não porque é obrigado a ser assim…
Sabe, se os outros, para que você possa dizer-se humano, afirmam que é preciso cumprir determinadas atitudes, liberte-se dessa cobrança. Com isso não estou dizendo que não faça, mas que não se escravize: não se sinta obrigado a fazer, a ter que fazer. É isso que é a liberdade dos grilhões que nós ensinamos e que propomos…
Muitas pessoas acham que nós estamos aqui para criar algo novo, uma ciência ou uma doutrina que contenha verdades novas, mas não é isso. Nós viemos com uma missão: propor aos seres humanizados uma revolução. Nosso trabalho consiste-se em incitar os espíritos hora encarnados a revoltarem-se contra a humanidade que vivem… Revoltar-se, no sentido de libertar-se, não ter raiva.
Libertarem-se desta série de padrões de certo e errado, da obrigação de ter que fazer determinadas coisas, de que fazer algo é direito e praticar outro tipo de ação não é…
Usando os termos de vocês, o que propomos tem um nome: anarquia…
É isso mesmo que estamos propondo: uma anarquia. Não uma baderna, mas uma anarquia no sentido de vocês não serem compromissados com a humanidade com a qual vivem através das suas consciências. Na hora que atingirem este estado anárquico, viverão como Cristo, que, aliás, foi o maior anarquista que já apareceu. Ele foi contrário a todos os padrões pré-estabelecidos de sua época. Justamente por causa disso, aliás, foi crucificado.
Portanto, deixe os outros lhe crucificar. Crucificar não como ato material, pois hoje isso não acontece mais, mas moralmente: falarem mal de você. Não se preocupe com esta crucificação, mas olvide todos os seus esforços para se libertar de sua humanidade, pois os critérios humanos são os grilhões que não deixam o espírito alcançar a Deus.
Deixe-me completar o assunto dizendo uma coisa: por causa deste raciocínio que desenvolvi é que Paulo diz que o ser humano é o inimigo de Deus.
Não o ser humano como individualidade, mas a humanidade que um ser espiritual assume durante a encarnação que é o inimigo de Deus. Isto é realidade, pois a humanidade tem como fundamento básico o egoísmo, o individualismo, enquanto que Deus universalista.