“266. Não parece natural que se escolham as provas menos dolorosas? Pode parecer-vos a vós; ao Espírito, não. Logo que este se desliga da matéria, cessa toda ilusão e outra passa a ser a sua maneira de pensar”.

Neste pequeno trecho temos uma informação importante: o não sofrer pode ser bom para você, mas não para o espírito.
Para comentar sobre isso pergunto: o que é pensar? Quando você pensa alguma coisa, o que faz? Cria uma interpretação para os acontecimentos da vida.
O ser humano quando pensa, cria uma interpretação para os acontecimentos da vida. Digamos, por exemplo, que uma pessoa está sentada naquela cadeira. Quando você percebe esta figura, se pensar sobre ela, criará uma interpretação sobre o que está percebendo. Dirá que ela está sentada de tal forma por determinado motivo, que ela se sentou porque estava cansada, que a posição que ela está faz bem ou mal para sua saúde, etc. Tudo isso é só interpretação, porque ninguém é capaz de saber o que vai por dentro do outro, ou seja, conhecer o porquê das ações dos outros.
Aplicando este conhecimento ao que o Espírito da Verdade nos disse aqui, podemos, então, concluir que o espírito interpreta os acontecimentos da vida de uma forma completamente diferente daquela que a mente humana cria. Se nós dissemos que o espírita ou espiritualista precisa adquirir a mesma visão que o ser universal liberto da matéria possui, eis neste início de resposta a primeira grande informação: ele interpreta a vida humana de uma forma completamente diferente da mente.
O ser humanizado que pretende aproveitar a oportunidade da encarnação para a elevação espiritual precisa ter a informação que o espírito liberto da materialidade interpreta as coisas de uma forma diferente da mente. Isso porque se ele não tiver esta informação, não promoverá a reforma íntima, ou seja, a mudança do seu interior. Continuará acreditando que a interpretação que a mente cria é o certo e verdadeiro e que está de acordo com o Universo, com a realidade real.
Tendo este conhecimento, o ser universal humanizado deve, portanto, compreender que precisa interpretar os acontecimentos da vida de uma forma diferente ou pelo menos não achar que a interpretação que ele recebe da mente é certa e real.


Participante: duvidar da minha própria análise?


Duvidar da análise que vem através da mente. Isso deve ser feito porque ela é uma interpretação humana e não espiritual.
Se o ser humanizado espírita ou espiritualista deve viver para aquilo que imagina ter em si além da carne é preciso que ele viva esta vida com os valores deste algo mais. Estes valores, como ensina o Espírito da Verdade neste trecho, não são aquele que a mente cria. Por isso, este ser humanizado precisa libertar-se da crença que estes valores são certos ou reais. Precisa ter a consciência de que as interpretações que agora recebe são uma e que liberto da mente passará a ver o mundo de uma forma diferente.
Tal informação aplica-se a tudo que a mente fala, ou seja, a todas as consciências que o ser recebe durante uma encarnação, sejam elas a respeito do mundo perceptível como também do mundo extra sensorial. Todas as interpretações que a mente humana cria são diferentes das do espírito liberto dela.
Se isso é verdade no tocante ao mundo material, podemos dizer que também para o chamado mundo espiritual. As informações que o ser quando humanizado tem sobre o que é o mundo espiritual ou como o espírito age nele não são reais. São meras criações da mente humana, ou seja, interpretações de um ser humano. Elas são, portanto, diferente daquela que possui o ser quando liberto desta influência.
Esta informação é importante porque, se o ser espiritualista ou espírita precisa viver a vida humana a partir das interpretações do espírito desencarnado para poder aproveitar a oportunidade de elevação, ele precisa compreender que estas não são aquelas que a mente humana cria. Este é um dos pontos que muitos espiritualistas e espíritas acabam pecando. Por causa da sua prisão ao que a mente constrói, ou seja, por causa da crença de que o que ela cria é real e certo, este ser acaba crendo naquilo que a mente constrói sobre o mundo dos espíritos e acaba achando que está fazendo alguma coisa pelo objetivo da sua encarnação, quando não está.
Tendo a consciência de que a criação da mente sobre o mundo espiritual é apenas uma interpretação humana e não a realidade, o ser espírita ou espiritualista, chega, então, a uma conclusão: ele não pode saber o que é, mas pode saber o que não é.
Como não é o mundo espiritual? Como a sua mente diz que ele é. Consciente desta afirmação o ser espiritualista ou espírita tem, então, o seu trabalho facilitado: basta apenas não acreditar no que a mente diz que é. Não há a necessidade de se investigar para conhecer, já que tudo que for conhecido não será formado pela mesma interpretação que o espírito tem daquilo.
Saiba de uma coisa: todas as religiões foram criadas por mentes humanas e não pelos espíritos. Reparem: nenhum mestre construiu nenhuma religião. Pelo contrário: eles foram contra àquelas que estavam originariamente ligados. Por causa do agente da sua criação (a mente humana), elas foram criadas fundamentadas com o medo do ser humano: o perder.
Toda religião tem em seu escopo ensinamentos e a informação que se eles forem seguidos o ser humano conhecerá a felicidade eterna nesta vida. Isso é real? Claro que não. Como diz Cristo, o sol nasce para todos, tanto os bons (os seguidores da religião) contra os maus. Apesar desta constatação, que é simples de ser alcançada, as religiões continuam prometendo um mundo feliz aos seus seguidores. Por que agem assim? Porque foram criadas por mentes humanas.
Como já vimos, a mente humana faz suas criações fundamentadas em sua característica primária, o egoísmo. É por isso que elas adquirem também a característica de quererem satisfazer as vontades individuais de cada ser. Isso é impossível.
Apesar de falar assim de todas as religiões, creiam: eu não estou atacando-as. Compreendo a necessidade de elas serem assim, pois sei que são instrumentos das provações do espírito, ou seja, elementos geradores da vicissitude necessária para a elevação espiritual. Quando elas propõem uma vida plena em contentamento dos desejos do ser humano está criando uma esperança que se não cumprida levará ao sofrimento. Chegado a ele, o espírito encarnado tem, então, a vicissitude necessária para o trabalho da reforma íntima.
O problema não está nas religiões, mas sim no ser humanizado que vive o que ela diz como certo ou verdadeiro. Os ensinamentos de todos os mestres são contrários a busca da felicidade plena nesta vida. Todos nos disseram que não devemos amealhar bens na Terra, na encarnação, mas na vida espiritual, no céu. Por causa disso, aquele que compreende que esta vida é apenas uma encarnação que serve como instrumento para a realização do trabalho da reforma íntima para alcançar a elevação espiritual deveria depositar a sua esperança de felicidade plena naquele mundo e não neste. Mas, como acreditam que a interpretação da mente é a mesma do espírito não conseguem aproveitar esta oportunidade.
O problema de quem busca a elevação espiritual acreditando nas interpretações que a mente cria durante a vida é que ele acredita que o que é bom para o ser humano também o é para o espírito. Isso, segundo o Espírito da Verdade neste trecho, não é assim. Como esta informação é dada como resposta a uma pergunta sobre o sofrer, podemos, então, dizer que o sofrimento não é bom para o ser humano, mas para o espírito é. Isso é assim porque a forma de interpretar as coisas do espírito é diferente daquela que faz a mente humana.