Nesse momento quero falar uma coisa que constantemente abordo: o melhor remédio para que consigam ser felizes é conseguir viver só perto de quem busca a mesma coisa ou isolado de todo mundo. Acontece que muitas vezes não dá para fazer uma coisa nem outra. Por isso, gostaria de deixar um conselho: procurem muito viver em um lugar onde constantemente não vão muito.

Onde é esse lugar?

Participante: vazio?

Não. Onde é o lugar que vocês pouco vivem e que dificilmente vão?

Participante: dentro da gente?

Isso. Dentro de vocês mesmos.

Um grande remédio para a época que vivem é a interiorização. Estudar a si, se conhecer de verdade, ao invés de se deixar levar pelo sistema que diz o que é o certo e o que é o errado das coisas. Que diz o que é bonito, o que é o feio.

Estou falando em olhar para dentro de vocês. “Espera aí, eu quero ser feliz e não estou conseguindo. O que está me faltando. O que estou fazendo que está roubando a minha paz?”.

Não estou falando de um olhar cínico: “Ah, eu não sou feliz, hoje em dia, por que as escolas estão ruins”. Isso é mentira! “Ah, eu não sou feliz porque não tenho emprego”. Outra mentira! Já provei isso aqui. “Ah, eu não sou feliz porque a vida de hoje tem muito assaltante”. Mentira!

Vocês não são felizes porque não trabalham a felicidade. Conhecendo como já conheceram através de nossas conversas como construir a felicidade, busquem viver dentro de si mesmos para conhecerem-se intimamente. Só assim conseguirão superar no íntimo a série de verdades que a vida cria, as obrigações que o sistema humano de vida gera.

Reconheçam que essas coisas não são de vocês. Reconheçam que não é vocês que querem, que não é vocês quem gostam das coisas.

Se continuarem vivendo só para fora, só para as necessidades materiais, dificilmente vão conseguir ser feliz.

Participante: e quando a gente descobre essas coisas e as pessoas que roubam a nossa paz, temos que nos afastar delas ou viver mais perto tentando assim superar essas coisas.

Qual foi a frase que falei no primeiro dia do estudo Guerreiros da Paz? Alguém lembra? “Ninguém pode roubar a sua paz; você só pode perde-la para os seus inimigos internos”. Ao interiorizar-se não vai descobrir quem lhe rouba a paz, mas sim o que em você transforma o outro em ladrão da sua paz.

Não é a presidente que faz um mal governo que rouba a paz, mas querer que ela fizesse coisas diferentes do que fez. Quando mergulha em si e descobre isso, encontrou o inimigo da sua paz: o seu desejo que ela agisse diferente.

Portanto, é mergulhar em você e descobrir quem são os seus inimigos internos e começar a trabalhar para se libertar deles. Quando interiorizar-se, trabalhe isso: o que está tirando você do sério. Agora cuidado, pois sempre será o que quer, acha ou espera dos outros e não aquilo que eles estão fazendo.

Participante: como se faz essa interiorização?

Mergulhe em si e procure saber se é feliz.

Participante: às vezes sim, às vezes não.

Por que, às vezes, não é?

Participante: porque faço exatamente isso que você falou.

Não estou falando genericamente, mas sim especificamente. Que horas você perde a paz?

Participante: melhorei um pouco, mas ainda perco a paz com barulho.

É o barulho que tira a sua paz?

Participante: é.

Não.

Participante: acho que na mente tudo tem que ser silencioso. É isso que tira a minha paz?

Não. 

O que leva a perda da sua paz é o desejo que todos façam menos barulho. Se estivesse em um silêncio pleno, isso também não lhe faria feliz.

Pronto, acabou de descobrir o seu inimigo. Trabalhe na aceitação de haver barulho para ter paz.

Não estou falando em dar ao outro o direito de fazer barulho, mas sim na aceitação de haver barulho. Uma coisa é diferente da outra.

O que precisa dizer a si mesmo é: ‘gosto do silêncio, não gosto do barulho, mas hoje tem muito. Se puder, vou lá e diminuo, mas se não puder, vou ter que conviver com ele, não tem jeito’. Depois disso medite: ‘posso ser feliz com esse barulho ou perder a minha felicidade’. Aí, escolha o que quer para si.

É esse o trabalho de interiorização. É esse o mergulho em si mesmo que vocês não dão. Saem sempre acusando o outro de ser culpado do seu sofrimento porque está fazendo barulho, mas eles não são.

É simples assim, mas para isso é preciso desgrudar lá de fora e entrar em si, interiorizar-se.

Então, nessa época que têm sido cada vez mais exigidos a se posicionar externamente, o conselho que daria é para que cada vez mais busquem se interiorizar. Mergulhem constantemente em vocês mesmos e se conheçam melhor para entender que não é o mundo que cobra posições, mas você que cobra posição de si mesmo.

Sendo uma pessoa inteligente e se cobrando a fazer alguma coisa que não faz, passe a fazer. Não conseguindo fazer, aceite isso. É simples assim a construção da felicidade.

É sempre isso: mergulhar em você, se conhecer, aplicar os três passos da construção da felicidade que nós falamos hoje (valorizar a felicidade, libertar-se do sistema humano de vida e despersonalizar a vida). Fazendo isso, sai da vida inteiro, em paz.

Esse é um trabalho que não gera acúmulos de conhecimentos, ou seja, não vai causar sofrimento na próxima vez que houver barulho. É só fazer o trabalho para novamente viver em paz.

Apenas um alerta: não esqueçam de respeitar os seus limites. ‘Tenho ouvido sensível, o que posso fazer? Não consigo me libertar do barulho’.

O que fazer nesse caso? Aprender a viver em paz com o sofrimento que existe quando está acontecendo barulho. Para isso, dê os passos que já falamos.

O trabalho é sempre para aprender a viver o sofrimento que surge e não vacinar contra futuros sofrimentos.