Voltemos ao assunto que estava conversando com a moça que está aqui com seu marido: a libertação do certo é aceito quando se trata da vida do outro, mas não quando se trata da vida de cada um.
O que a personalidade humana quer preservar ao não aplicar este ensinamento na sua própria existência?
Participante: preservar o eu?
Isso: preservar o seu eu.
A personalidade humana que aqui está com o seu marido não gostaria que ele arrumasse outra mulher. Para preservar este desejo, que compõe o seu eu é que ela não se liberta do preceito que o marido tem que ser fiel à esposa.
Essa é uma das características da personalidade humana que precisa ser vencida pelo espírito: o eu. Mas, como se vence o eu? Vivendo o nós.
Quando nos conscientizamos disso, chegamos, então, ao terceiro instrumento da reforma intima: o universalismo.
Vivenciar o eu, ou seja, priorizar os desejos individuais é ser individualista. Vivenciar o nós, ou seja, dar ao próximo o direito de ser, estar e fazer o que quiser sem que o eu se sinta ferido é ser universalista. É ser universal.
Falando mais praticamente, vivenciar o universalismo dentro do processo de reforma íntima é vencer a verdade de cada um que protege sempre o eu e vivenciar a verdade do próximo sem críticas ou restrições. Ou seja, entregar-se ao próximo.
Essa é uma coisa dificílima para aqueles que estão apegados a egos. Isso porque o espírito que se apega à personalidade humana acredita que os valores que esta personalidade cria são certos. Ele jamais vai aceitar e participar da verdade do outro como se sua fosse.
Eu vou dar um exemplo disso: um dia eu estava fazendo uma palestra falando sobre servir ao próximo. Disse que servir ao próximo é fazer o que o outro quer por querer fazer o que o outro quer. Isso é servir ao próximo.
Uma pessoa então me disse: ‘vou dar um exemplo para ver se entendi bem. Sou casada e meu marido quer ir ao futebol todo domingo. Para servi-lo devo ir com ele’? Respondi a ela dizendo: ‘se quiser servir ao próximo sim, deve ir com ele. Se ele quiser que você vá, você que quer servi-lo deve acompanhá-lo’.
Ai esta personalidade humana de uma forma bem individualista, que é a característica do ego, me disse: ‘mas, quando vou fazer o que eu quero’? Nesta simples pergunta se encaixa toda a dificuldade da reforma íntima.
Dizer que a reforma íntima passa pelo serviço ao próximo não é nenhuma novidade, pois os mestres ensinaram isso. Por que, então, a personalidade humana que diz que quer se elevar não faz? Porque ela não serve ao próximo, mas apenas faz concessões esperando receber algo em troca? Quando age assim não está vivenciando o nós, nas ainda está presa ao eu.
O serviço ao próximo, ou seja, a vivência do nós precisa ser feito com uma perfeita integração com o próximo que começa pelo abandono do eu. Ou seja, o pensamento que deveria ser realizado por aquele que diz que quer reformar-se é o de ir ao futebol sem esperar nada em troca. Ir como um serviço ao próximo, como uma devoção ao nós e não para que o eu ganhe futuramente algo.
Esse é o verdadeiro universalismo: conviver com o próximo sem estar apegado em si mesmo. Se a personalidade humana que citei aqui conseguisse colocar isso em prática iria ao futebol com o seu marido para servi-lo e com isso estaria eliminando a cobrança dele retribuir esta ação.