Quando nos deparamos com o sentido da palavra flagelação, a primeira imagem que nos vem à memória é a da flagelação do próprio corpo ou do corpo de outra pessoa.

Esta é a imagem inicial que fazemos porque este tipo de flagelação foi muito comum no planeta Terra a partir da formação do cristianismo, até o início do século XIX. Até essa data e ainda nos dias de hoje a flagelação é praticada, ou seja, machuca-se o corpo físico com a intenção de expulsar os “demônios” que se encontram dentro dele…

A base para a flagelação vem de um ensinamento mal compreendido ou mal interpretado de Jesus Cristo e constante da bíblia sagrada: “se o seu olho ou sua mão o faz pecar, corte o olho ou corte a mão fora, pois é melhor entrar sem um olho ou sem uma mão no reino dos céus, do que ir com o  “corpo inteiro” para o reino dos mortos”.

Desta maneira, alguns seres humanos interpretaram que seria melhor machucar o próprio corpo, mas entrar no reino dos céus.

Ledo engano. Palavras mal interpretadas ou interpretadas ao “pé da letra” e que até hoje ainda são praticadas por algumas religiões que estão sobre o planeta, conclamando o ser a se auto flagelar para a purificação.

Na verdade, a purificação se dá por energização e não por flagelação. Se o corpo também é a morada de Deus e como Ele iria mandar magoar o corpo, a sua morada?

Se aceitarmos a flagelação como correta, temos que aceitar o assassinato e o suicídio, que seriam a flagelação completa do corpo.

Nos próprios mandamentos, nas próprias leis de Deus, existe a proibição de matar a si mesmo ou aos outros. Então, muito antes de se praticar a flagelação, já era ela proibida por Deus através de um patriarca da nação hebréia (Moisés). Assim mesmo os próprios judeus ainda a utilizavam como prova e sinal de tristeza.

Percebe-se bem claramente que a flagelação é um modo de proceder contrário à lei de Deus e que não leva à elevação espiritual. No entanto, encerrarmos o assunto aqui seria desperdício de energia. Vir aqui para dizer que a flagelação do corpo físico não deveria ser executada seria perder tempo porque isso Kardec já ensinou quando falou sobre a utilização de fluídos viciantes (fumo, álcool, drogas) que flagelam o corpo físico.

Aproveito a oportunidade para falar de um outro flagelo. Quero falar de um flagelo muito mais importante do que o flagelo físicoque é o flagelo moral.

O flagelo moral se caracteriza pela “culpabilidade” que o espírito sente em determinados atos da vida. Existem dois tipos de flagelo moral: o interno e o externo.

A culpa excessiva, a acusação excessiva que o espírito faz a si mesmo por atos que tenha considerado “errados”, na verdade, é uma flagelação moral interna.

Esta flagelação é tão perigosa ou mais, tão maléfica ou mais, do que a flagelação do corpo físico.

O espírito apenas imagina que possui o poder de diferenciar o “certo” ou “errado”, “positivo” ou “negativo”, mas este atributo é exclusivo de Deus. Mesmo que aparentemente o seu ato tenha tido uma base negativa, mesmo assim o espírito não deve se culpar.

Deus comanda os atos de todos os seres utilizando os seus sentimentos para que estes atos sejam praticados para quem precisa ou os mereça como um ensinamento. Assim, mesmo que a base tenha sido negativa, o ato foi positivo, pois contribuiu para a elevação espiritual de todos os envolvidos.

Se isto não foi visto pelos participantes é porque estão ainda presos à sua individualidade e não compreendem a ação de Deus no universo.

Todos os espíritos que estão no planeta Terra em provas e expiações estão sujeitos à negativação (utilização em benefício próprio) dos sentimentos positivos do universo. Desta forma, acusar-se constantemente, ferir-se constantemente, é uma auto flagelação que traz doenças ao corpo físico e espiritual.

Esta auto flagelação também não está dentro da lei de Deus. O espírito não deve se auto flagelar, mas assumir a consciência da escolha sentimental, guardar em sua memória esta escolha e buscar as energias positivas para continuar a sua caminhada.

Se o espírito assim não proceder, continuará com a culpabilidade, estará utilizando-se dessa energia, a culpa, que é corrosiva e destrói as matérias energéticas que compõem o corpo espiritual.

Grande parte das doenças mentais conhecidas no planeta é provocada pela culpa.

Assim sendo, o espírito deve mudar as suas energias, seguir o seu caminho com as energias positivas, sabendo e arquivando a escolha sentimental negativa para que, no próximo raciocínio, esta escolha fique como um alerta para não ser mais feita. Só assim o espírito não voltará mais a praticar o mesmo ato que gerou a culpabilidade.

Apesar dos malefícios que a flagelação interna provoca no ser, a flagelação moral externapode causar ainda malefícios maiores tanto ao espírito quanto ao seu corpo.

Aquele que se diz portador do “poder da acusação” exerce este tipo de flagelação sobre outros espíritos. O espírito que vive acusando e apontando erros dos outros constantemente, está flagelando este outro espírito, porque está destruindo uma energia positiva chamada “orgulho”, necessária para o funcionamento do espírito (diferente de “soberba”).

Esta flagelação que se impõe a outro espírito é quase um crime de morte, como um envenenamento passo a passo.

Malefício maior ainda é quando esta flagelação externa é usada contra seres que já se encontram corrompidos pela culpa. Alguns esperam a oportunidade de quando o espírito já está fragilizado e aproveitando-se desta situação, transformam-nos em submissos.

Este é também um tipo de flagelação e aquele que assim se porta, coloca-se na posição de “senhor da lei”, acusando constantemente os outros, destruindo o seu orgulho, a sua auto-estima. Estes são os que mais precisam evoluir, pois muitos já desencarnaram por causa das acusações.

Para flagelar é preciso acusar e toda acusação é resultado de um julgamento, que é um processo em “cascata”: julgo, acuso e apeno. Para estas três coisas só Deus tem o poder, pois Ele é a Justiça Perfeita.

Claro que apesar do espírito querer aplicar esta flagelação, ele só conseguirá o seu intento se Deus assim comandar os seus atos. Quem os receberá será quem também precisa e merece, conforme o entendimento da Inteligência Suprema do universo. No entanto, isto não exime o espírito da responsabilidade de escolher sentimentos que o transformaram em instrumento de Deus para aquela ação. Como Jesus ensinou, o escândalo tem que existir, mas coitado daquele que o provocar…

Aqueles que praticam um ato de flagelação contra os irmãos devem procurar a sua universalização, abrindo mão da satisfação individual. Este processo, porém, não deve passar pela flagelação moral interna, porque senão os efeitos serão os mesmos.

A flagelação moral externa é considerada pela espiritualidade como um “assassinato”, mas a interna como um suicídio.