Participante: Na busca de descobrir quem somos, vejo nos grupos de espiritualidade se falar muito em Despertar a Consciência, em Acordar a Consciência, Expandir a Consciência, Ampliar a Consciência, Libertar a Consciência. Eu também participei disso tudo e até mesmo como fundador de grupos como esses… Não seria esta uma forma, de no fundo no fundo, reforçar ainda mais os processos do Ego e da Mente? Aparentemente, ao valorizar a Consciência deste modo inicia-se uma busca por conhecimento sem fim… Eu e um amigo meu uma vez, chegamos à conclusão de que na verdade, o Amor organiza o conhecimento confuso em caixinhas, para depois despejá-lo no Mar… Quer dizer, quando nos tornamos conscientes das coisas, na verdade não é porque já associamos uma imagem a um julgamento, ou seja já julgamos? Quando usamos e nos identificamos com o pensamento para formar as nossas consciências já não estaríamos nos julgando automaticamente, já que a Razão (divisor das coisas) é o motor deste pensamento humano? A fim de descobrirmos quem somos, não seria melhor falar em despertar a Inconsciência? Porque me parece que de consciência estamos lotados… E se formos pensar em unidade como o conjunto de todas as consciências, daí teríamos ali um Super Egão, Um gigante desperto do Conhecimento, e de um conhecimento que nada é… O verdadeiro trabalho aqui, para sabermos quem somos, não seria então o de desconstrução da Consciência, ou seja, colocar todos os símbolos da nossa consciência como iguais, sem valorizá-los de formas diferentes e despertar o “Inconsciente”?
Eu já disse isso algumas vezes: o problema nunca está do lado de fora, mas sempre dentro. Ou seja, o problema não é o que acontece no mundo, mas a forma como você internamente no seu mundo mental vive o que acontece no mundo.
Grupos de despertar, de aumentar ou de ampliar a consciência não são problemáticos, não acarretam problemas para vocês. O problema é a forma como a mente trabalha estas coisas. Vamos tentar entender o que quero dizer…
Quando falamos sobre a mente humanizada dissemos que ela possui características. A primeira delas é o egoísmo, ou seja, a mente pensa a partir do eu e para o eu ganhar alguma coisa, levar alguma vantagem. Segunda: todo processo mental é aprisionado às quatro âncoras. A vontade de vencer e o medo de perder, a vontade de ter o prazer e o medo do desprazer, a vontade de alcançar a fama e o medo da infâmia, a vontade de ser elogiado e o medo de ser criticado. Estas características balizam todo processo mental, seja ele realizado para fazer necessidades fisiológicas ou para estudar alguma coisa para ampliar a consciência.
Então, o problema não é o grupo que trabalha no sentido de ampliar consciência, de abrir consciência, mas sim na forma como a mente lida com estas coisas. Isso porque ela lida com as informações que recebe durante a participação nesses grupos egoisticamente e presa às quatro âncoras. É esse o aspecto principal deste assunto…
Agora que já falei qual o problema sobre o assunto que você tocou, vamos tentar entender perfeitamente a questão que você levantou. Quando fala em ampliar a consciência, está falando em adquirir novos conhecimentos que sejam mais universais que outros que possui. Por exemplo, quando você estuda a questão do espírito encarnado e do ser humano e amplia a sua consciência adquirindo a ideia de que é um espírito encarnado e não um ser humano, isso deveria provocar em você uma determinada atitude. Só que por conta destas características da mente, as coisas acontecem bem diferente.
Como a mente trabalha pelo eu, passa a achar que ser um espírito é uma verdade absoluta. Como busca vantagem para este eu começa a exigir que o outro aceite como verdade o que ela acredita. Faz isso no sentido de obter a vitória, o prazer de dominar o outro, a fama de ser uma pessoa que sabe mais e o elogio de ser o que mais sabe. A partir daí, portanto, aquela aparente expansão da consciência virou uma arma egoísta para a mente ao invés de ser apenas uma informação mais universalidade, um instrumento de libertação.
É esse que é o problema. O problema não é buscar novas informações para ampliar a consciência, ou seja, aquilo que acredita das coisas. O problema é que quando você tem acesso a novas informações a sua mente as trabalha aprisionada ao sistema humano de vida.
Se ao invés de se deixar levar pelas criações mentais você recebesse a nova informação e cm esta nova consciência largasse alguma coisa, abrisse mão do que acreditava antes, não teria problemas. Mas, como a mente tem medo de perder, além de buscar ganhar com a nova informação, ela amplia a consciência, mas não larga o conhecimento antigo. Ou seja, quando você sabe que é um espírito, a mente se utiliza desta informação para benefício do eu, mas não deixa de trabalhar com informações humanas. A mente continua funcionando com as duas informações, pois para ela não existem verdades, mas apenas instrumentos para serem usadas na proposição do egoísmo.
A sua pergunta vem muito a calhar dentro daquilo que temos proposto desde o início deste ano: a prática. Estudar, ter acessos a novos conhecimentos faz parte da vida e por isso acontece para quem precisa acontecer, mas como na história do barco de Buda, é preciso descer do conhecimento e praticá-lo. A prática da expansão da consciência é o abrir mão do que a consciência achava até aquele momento.
Portanto, se você está num processo de expansão de consciência, num processo de autoconhecimento de si mesmo e descobre que é um espírito, abandone a humanidade que vive ao invés de transformar esta informação em algo precioso, num tesouro que você possui e que por causa disso é um sábio.
Respondida de forma geral a sua questão, deixe-me abordar alguns aspectos que você levantou. Sim, quando você usa a informação como fonte de saber, está trabalhando para o ego, está construindo um superego. Falo isso fundamentado na ideia do próprio ego, porque o ego com consciência expandido não é super em nada.
Quanto ao que pergunta sobre ampliar o inconsciente, lhe digo que isso é impossível. É impossível se ampliar o inconsciente porque ele é inconsciente e por isso você não tem consciência do que está lá.
Como ampliar algo que você não conhece? Sei que vocês acreditam que se ampliarem o inconsciente poderão passar a saber o que está lá, mas neste caso ele não será mais inconsciente, mas consciente. Se o consciente é uma arma que a mente utiliza para a sua provação, o que estava no inconsciente agora não possui valor algum como saber real.
Mais uma questão que você levanta: o interessante não é, então, destruir as informações? Sim, o interessante é destruir. Mas, o problema é que a mente não está interessada em destruir nada, pois destruir algo para ela é considerado como perder.
É você que tem que destruir qualquer ideia, qualquer consciência que a mente cria. Como? Não acreditando em nada… Até porque quem acredita que expandiu a mente com alguma nova verdade, para de expandi-la, porque acha que já chegou à expansão máxima…
Portanto, diga o que tiver para dizer, faça o que tiver que fazer, mas não se sente num trono e ache que é um rei. Continue sempre buscando e ao buscar sempre encontre algo que precisa se libertar e pratique esta libertação e não a informação científica que recebeu…