Participante: o senhor pode nos dar um exemplo prático da função da espiritologia que acabou de falar?


Sim. Imaginemos uma cena onde alguém retira de algum lugar algo que lhe pertence.
A provação do espírito se espelha nos acontecimentos da vida humana. A cada momento de uma existência carnal o ser humanizado está sendo provado num elemento da espiritualidade. Por exemplo, quando você é roubado está em provação no tocante à possessão das coisas. Possuir as coisas, como ensinou os mestres, não é uma atitude espiritual e, portanto, não deve ser vivida por aqueles que estão humanizados. Quando estes vivem isso, portanto, têm uma oportunidade, então, de se reformar, ou seja, mudar a sua vivência.
O que o pensamento tem a ver com isso? É ele que cria a ideia de você estar sendo roubado. O ato de alguém retirar alguma coisa que lhe pertença é a movimentação que existe na vida. Mas, para que esta movimentação seja qualificada como roubo é preciso uma declaração da mente que crie esta realidade. Só que para neste momento poder criar a ideia de estar sendo roubado, o pensamento antes gerou a ideia do possuir um determinado objeto, que você não percebeu, por estar ligado às ideias materiais que dizem que é normal se possuir as coisas.
A junção destas duas ideias (possuir e ver a ausência) cria, então, uma realidade que você vivencia. Ao fazer isso o espírito encarnado, que é você, está vivendo uma provação. Neste momento pode apegar-se ao possuir ou não. Apegando-se, sentirá falta, estará indignado e terá outras sensações que o ato de possuir traz. Não se apegando, vivenciará o acontecimento com uma sensação diferenciada da situação. É para isso que serve a espiritologia.
No momento em que a mente através do pensamento cria a ideia de ser roubado, aquele que está buscando a reforma deve usar do corpo doutrinário da espiritologia para analisar aquele pensamento. Faz isso comparando o que o pensamento diz que ele está vivendo com o que os mestres afirmam estar acontecendo naquele momento.
Espiritualmente, falando o que é o ato de alguém lhe roubar? Uma vicissitude que serve como provação para o ser encarnado. Esta é a compreensão correta sobre aquele momento e não a ideia de que está sendo roubado. Tendo isso na consciência, o ser humanizado, pode, então, não viver o desgosto de ter sido roubado. Com isso reformou-se… Mas, para chegar até aqui, ele precisa ir mais longe: descobrir o motivo pelo qual viu roubo naquele momento. Para isso precisa estudar a sua mente com a finalidade de conhecer profundamente as origens desta consciência. Só assim pode escapar de vivenciar o roubo e as sensações que acompanham esta compreensão.
Porque alguém sofre quando perde algo? Porque possuía aquela coisa. Aquele que não tem a posse do objeto não sofre quando este não mais está sob sua guarda. Usando a espiritologia, então, o ser encarnado pode verificar a existência do possuir, que os mestres não aprovam, agindo na formação daquele pensamento. Agindo novamente na análise do que formou aquela posse pode libertar-se desta forma de viver em outros momentos também.
Para explicar melhor a função da espiritologia em todo processo de reforma íntima, vou compará-la com uma atividade do mundo material. Acho que assim vai ficar mais fácil de compreender o que quero dizer: as provas que vocês fazem nos colégios. Digamos que alguém pediu para fazer uma prova sobre história do Brasil. Este é o tema da sua prova, o gênero de provação pedido. O professor diante deste pedido redige, então, as questões. Pergunta sobre a chegada de Cabral, sobre os imperadores, etc. O possuir é o tema da prova, o ser roubado é as questões da prova. O ato de perder a posse é, então, apenas um enunciado de uma questão sobre este tema.
O pensamento que lhe gera a ideia de ter sido roubado é o enunciado de uma questão que está sendo aplicada a um ser universal encarnado que pediu para ser testado sobre o tema possessão…
Acho que agora fica bem clara a importância da espiritologia. Ela é usada pelo espírito para compreender o enunciado da questão de cada provação. Isso é importante porque o ser encarnado, aquele que vive ligado a uma mente humana, vive no piloto automático, ou seja, vive a vida apenas com as afirmações e conclusões geradas pela mente. Com isso não consegue ver a sua provação acontecendo.
Racionalmente falando, ser roubado é um acontecimento onde há a consciência de ter perdido alguma coisa. Esta é a realidade que a mente cria. Ela é ilusória, pois não importa se perdeu ou ganhou, para o ser humanizado o que existe realmente é uma provação. Sendo assim, não há roubo e sim prova.
Investigando a mente o espiritualista verá o que criou a ideia de ter sido roubado. Conhecendo a origem do sentir-se roubado (possuir) este ser poderá agir na base no conjunto de conceitos que formam o pensamento e aos poucos ir alterando-os. Com isso poderá responder diferentemente esta questão neste momento e em outros quando houver novas questões sobre o mesmo tema usando enunciados diferentes. Com isso mudará a sua forma de reagir às questões que envolvam possessões.
Toda pergunta tem um cabeçalho e dispõe de múltiplas respostas que podem ser escolhidas. No caso da provação do espírito as respostas são as emoções com os quais se vive cada situação. Sem entender o cabeçalho da questão o espírito responderá apenas com o que a mente lhe indicar para viver, ou seja, as emoções que a mente diz que devem ser sentidas.
No caso do roubo o que surge para ser vivido como criação da mente é sofrimento: sensação de perda, indignação, carência, etc. Acontece que qualquer uma destas respostas é contrária à forma única que Cristo ensinou que devemos responder a todas as questões: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Esta é uma das possibilidades que está sempre disponível para os seres humanizados a cada provação, mas na maioria das vezes não utilizada por estes porque não entenderam o cabeçalho da questão. Aliás, nem viram ali uma questão de sua provação, mas sim um ato material.
A resposta que Cristo ensinou todos vocês conhecem, mas fica difícil escolhê-la porque vocês não compreendem o cabeçalho da pergunta. A compreensão do cabeçalho da pergunta é importante porque como nas provas materiais muitas vezes eles contém pegadinhas que levam aqueles que não entenderam bem este ponto a responder com uma determinada resposta que não é correta.
No caso do roubo, a pegadinha é estar em achar que você é o dono do objeto roubado. Acha isso porque acredita que foi você que trabalhou e ganhou o dinheiro para comprá-lo. Tudo isso são declarações da mente que são falsas se nós analisarmos a existência do ser humanizado à luz das informações dos mestres espirituais. Veremos isso no transcorrer de nossa conversa…
Por causa destas falsas compreensões que a personalidade humana cria, conhecer a aplicação e usar a metodologia científica da espiritologia para identificar o cabeçalho da prova é importante para todo ser encarnado.