A mente se abastece de verdades com uma única finalidade: afrontar a verdade de outros. Ela transforma informações em verdades para que possa afrontar as verdades do próximo e assim, criar a oportunidade de vencê-los (ser considerado certo) e com isso poder alcançar o prazer. Estas informações, que são tratadas como verdadeiras, muitas vezes possuem apelos fortes que reforçam a ideia de que os outros devem segui-la, mas não é bem assim. Todos são livres para crerem no que quiserem, não importa qual seja o assunto que esteja sendo tratado.
Um desses assuntos é a ecologia, cujas informações hoje têm sido impostas a todos como verdades que precisam ser tratadas de uma forma absoluta, ou seja, todos têm que concordar. Vamos conversar sobre isto a partir dos ensinamentos que temos passado, mas antes de qualquer coisa permitam-me deixar uma coisa bem clara: eu não falo de atos.
Manter ou fazer alguma coisa com relação à natureza do planeta é ato. Isso não tem envolvimento algum na elevação espiritual, pois como Cristo ensinou, Deus julga a intenção de cada um. A intenção de cada um está presente apenas no mundo mental e não na ação. Assim, quem preserva a natureza ou quem age contra ela, no sentido da elevação espiritual, não está ‘pecando’, mas aquele que vive uma ou outra ação preso ao estar certo ou ao “deve ser feito assim” estão pecando, pois estão presos às suas intenções materialistas.
Participante: Falando em ecologia deixe-me então citar um exemplo. Estamos aqui em um espaço ecológico, dentro de uma reserva ecológica, onde é feito um trabalho de ensinar e conscientizar as pessoas a preservar a natureza. Aqui não é proibido fumar, mas é esperado que os fumantes respeitem a característica do lugar. Estou falando isso porque em nosso grupo hoje tem muitas pessoas que fumam e se observarmos os jardins à nossa volta estão cheios de guimbas de cigarro. Elas estão jogando a guimba do cigarro no chão sujando-o, enquanto que o nosso interesse neste lugar é conscientizar as pessoas para que elas aprendam a manter limpo o espaço da natureza.
Repare uma coisa: nesta sua afirmação você só falou de atos. Falou do cigarro fora do lugar, do ato de querer preservar, do ato do outro jogar, etc. Por isso, antes mesmo da sua pergunta deixei bem claro: nossos ensinamentos não avaliam atos, mas sim intenções…
Por isso, deixe-me perguntar-lhe: as pessoas, no seu ponto de vista, têm o direito de jogar o cigarro no jardim? Não. Mas, elas jogaram. E aí, elas estão certas ou erradas? Claro que isso vai depender do conceito de cada um: para você, elas estão erradas, mas será que para elas mesmas, elas acham que estão? Não, pois se elas achassem errado jogarem cigarros ali, elas não jogariam…
Mas, por que você acha errado jogar cigarro ali? Porque você tem a cultura ecológica. Será que eles são obrigados a terem também? Será que elas não têm o direito de ter uma cultura diferente da sua? Será que elas não têm o direito de acreditar em algo diferente do que você acredita?
Repare: não estou dizendo que é certo ou errado jogar o cigarro no meio do jardim. O que estou dizendo é que cada um tem o direito de ter como verdade a informação que quiser, mesmo que aquilo que acredite como verdadeiro seja diferente do que você crê. Da mesma forma não estou dizendo que você está errada em reclamar delas pela sujeira que estão fazendo, porque isso também é ato. Você tem todo direito de reclamar de quem você quiser…
Eu não falo de ações, mas de trabalho mental. O que eu falo é de como você trabalha sua relação com sua mente que condena quem praticou determinado ato. Isso é importante de se observar, pois, quando se verifica o porquê a mente pensa determinada coisa, se encontra a intencionalidade com que está se vivenciando um ato.
Por que sua mente condena quem joga cigarro no meio do jardim? Porque ela quer ganhar, ou seja, fazer os outros seguirem a norma dela, ao invés de exercerem o livre arbítrio: acreditar naquilo que quiserem. Você tem o direito de querer preservar, de achar certo buscar a preservação, mas não tem o direito de querer que o outro também ache isso certo. Agindo dessa forma, na realidade, você quer ter o direito de escolher o que quiser para você, mas não quer dar este mesmo direito ao próximo.
Volto a repetir: eu não estou dizendo que eles estão certos por terem jogado, mas também não estão errados. Eles só cometeram algum erro no sentido da elevação espiritual se jogaram o cigarro presos a uma intencionalidade, ou seja, se acharam que tinham o direito de jogar, que fazer isso estava certo. O julgamento da elevação espiritual está sempre preso às intenções, ou seja, com que verdade você vivencia o acontecimento e não ao ato em si.
Para se vivenciar o ensinamento de Cristo – Deus julga a intenção de cada um – precisamos separar o ato, do trabalho mental. A ação em si não tem nada a ver com a intencionalidade com que se vivencia o acontecimento. Quantas vezes você acabou fazendo uma coisa quando tinha a intenção de fazer outra? Quantas vezes você já machucou quando a intenção era ajudar o outro? O ato não entra no momento do julgamento, porque ele acontece, muitas vezes, completamente diferente da intenção que se tinha no momento de praticá-lo.
Sendo isto verdade, posso dizer no caso presente que a pessoa que jogou o cigarro ali estava ‘errada’ se ao vivenciar este acontecimento achou que tinha o direito de jogar. Mas, isso não faz de você a certa, pois também está ‘errada’, no momento que se acha no direito de obrigar àquela pessoa a jogar o cigarro onde você acha certo ser jogado.
Sabe por que é ‘errado’, no sentido da elevação espiritual, prender-se aos certos que a mente cria para você? Porque está vivendo a intencionalidade primária da mente humana egoísta: vencer o outro. É esta intencionalidade que será julgada por Deus, como Cristo ensinou.
Todos os seres humanizados que participam de uma ação, são seres diferentes, mesmo que estejam interagindo num mesmo acontecimento. Cada ser, durante esta interação, precisa realizar o seu trabalho no sentido da elevação espiritual. Por isso, aquele que está vivendo ligado a uma mente que diz que não deveria se jogar o cigarro no chão, deve não aceitar esta exigência; quem está vivenciando ligado à mente que diz que pode ou não tem problema jogar, deve fazer o trabalho de que não tem este direito. Jogando ou não o cigarro no chão, este ser não deve aceitar que tem o direito de jogar.
Portanto, eu lhe dou um conselho: esqueça o cigarro, a floresta, a preservação e o achar que o chão está sujo. Se você quer realizar o trabalho da elevação espiritual, preocupe-se apenas em não vivenciar como certo aquilo que a mente diz que é certo e nem como errado aquilo que ela diz que é assim.
Tudo isso que lhe disse até agora está preso aos ensinamentos dos mestres, está ligado às escolas espiritualistas. Mas, deixe-me lhe mostrar por outro ângulo que também não há o menor problema de haver cigarros em meio a jardins: o cigarro faz parte da natureza…
Por favor, me digam uma coisa que não é natural, que não venha da natureza. Nenhuma coisa surge do nada. Qualquer coisa para existir precisa ter em si elementos da natureza. Sendo assim, os elementos que estão presentes no cigarro, mesmo os químicos, são elementos da natureza. Qual o problema deles serem devolvidos à sua origem?
O problema é que você acredita que as guimbas de cigarro são sujeira… Mais uma vez voltamos ao mesmo ponto: você e a mente.
Na verdade, é a mente que diz que guimba de cigarro é sujeira. Ou seja, foi uma informação externa que a mente tratou como verdade e você não interferiu neste momento. Quando isso acontece, você passa a viver a crença de que aquilo é verdadeiro. Aproveitando-se disso, a mente criará, então, a obrigação de atacar o outro para que ele se submeta a esta verdade e assim ela possa gerar uma vitória e o prazer.
Só tem uma coisa que você, apesar de se dizer cristã, não atentou: quando aceitou que o outro estava errado acabou de julgá-lo. Sim, o errado que a mente humana utiliza é a penalidade de um julgamento. Ela analisou a ação do próximo frente às verdades que ela mesma criou e determinou: ele está errado…
Mas, cristã, o que Cristo ensinou? Não julgues… Pela mesma motivação que julgares será julgado… Quando você diz que eles estão errados, se acha certa; quando alguém diz que você está errada, diz que eles é que estão errados… Ou seja, faz, mas não quer receber… Será que você nunca ouviu falar da lei da causa e efeito?
Mas, voltando ao nosso assunto, preservação da natureza, eu já tinha tocado neste ponto diversas vezes nesta conversa justamente para sair este assunto. Mesmo sabendo que estamos num espaço que proclama a preservação, diversas vezes toquei neste ponto para poder mostrar o que mostrei agora: o não se poder criticar quem não pratica a preservação. Não fiz isso com o sentido de atacar ninguém, mas para utilizar um exemplo que está vivo em nossa vivência neste momento para poder deixar o ensinamento: vocês têm todo o direito de quererem preservar este espaço, mas não podem exigir que os outros, obrigatoriamente, comunguem desta sua intenção.
Sabe por que fiz isso? Porque os perigos para aquele que quer buscar a elevação espiritual são muito grandes quando se aceita como certo aquilo que a mente cria. Um desses perigos, como já citei, é vivenciar a intencionalidade de ganhar do outro que a mente tem quando cria “um certo” e afirma que é válido se cobrar que os outros tenham a mesma crença. No entanto, há mais um perigo escondido aí…
A mente humana por característica é hipócrita, ou seja, ela ensina uma coisa, mas age de forma diferente do que ensina. A mente humana sempre adapta suas verdades (certos e errados) aos seus próprios interesses. Se para ela for interessante (satisfizer seus desejos), ela encontra logo justificativas para agir de forma diferente daquilo que prega. Se, como já disse, ao compactuar com ela, você, o ser universal humanizado, vive a intencionalidade de vencer o outro, também vivencia a hipocrisia que ela vive. Não acredita? Vou dar um exemplo da hipocrisia da mente que você vivencia…
Os ecologistas dizem que é preciso preservar a mata, não? Eles lutam por isso, não? Mas, para construírem uma casa para si mesmos, eles são capazes de desmatar terrenos… Um exemplo clássico é o espaço em que estamos…
Aqui, neste espaço edificado que estamos havia vegetação, não? Para se construir o espaço necessário para abrigar as pessoas que vêm aqui para aprender a conviver com a natureza foi preciso se desmatar, não foi? Nesta hora, o desmatamento foi bom, mas na hora que outro quer desmatar pelo motivo dele, aí é ruim…
Volto a repetir: não estou atacando ou acusando ninguém. O que quero é mostrar o funcionamento da mente para que você entenda que ela é por característica hipócrita e não se junte a hipocrisia dela.
Se quem jogou o cigarro no chão ofendeu a natureza, quem desmatou para construir este espaço edificado não o fez? Para esta pergunta, sei que a mente dos ecologistas terá milhares de justificativas para o que foi realizado, mas a realidade é que ofendeu a natureza e o fez porque quis fazer a casa neste lugar. Neste momento não se preocupou com a mata que teve que ser desbastada, mas apenas em satisfazer seus desejos.
Pura conveniência… Aliás, não poderia se esperar nada mais de um ser humano, pois a mente humana sempre adapta as verdades que ela crê aos seus desejos. Para satisfazer-se, a mente sempre cria justificativas para ferir suas próprias convicções…
Vocês já viram algum ambientalista que não se utilize em momento algum de um meio de transporte poluente (carro, ônibus, avião, etc.)? Vocês já viram algum naturalista que não more numa casa edificada? Será que ele não sabe que montanhas são desbastadas para poder retirar o cimento que foi utilizado para criar a casa? Apesar daquilo que diz acreditar, o ambientalista aceita utilizar o meio de transporte poluente se ele precisar locomover-se rapidamente ou em grandes distâncias e o naturalista acha justo que se desbaste montanhas para que ele tenha um local para abrigar-se.
Eles aceitam tudo quando o que é feito o beneficia, mas não aceitam de forma alguma quando beneficia outro. O ambientalista não aceita que os outros se utilizem de meios de transporte poluente por motivo algum; o naturalista não aceita eu se desbaste a montanha quando o cimento é para construir casa para os outros…
Mais uma vez repito: não estou acusando ninguém de nada; só estou querendo mostrar como a mente humana, por princípios inerentes a ela, trabalha. Ela aceita algo como verdade e certo quando pode ter satisfação com aquilo e diz que é errado aquilo que não pode lhe satisfazer.
À mente humana, pergunto: por acaso é você o juiz do mundo? É você que sabe tudo que pode ser feito? Para você, mente humana que se diz espiritualista, onde fica Deus nesta história? Como você se relaciona com Deus quando diz que sabe o que é certo ser feito a cada momento?
Você, mente, que sabe o que é certo e o que deve ser feito é aquela que quer ter os olhos abertos (saber o que está acontecendo) – no caso do cigarro, um sujar – e dizer se isso está certo (é bom) ou errado (mal). Você, ser universal que agora está ligado a esta mente humana, aceitando estas coisas mais uma vez estará sendo expulso do paraíso (afastando-se de Deus).
Este é um ensinamento que vale para todos os momentos e assuntos da vida humana. Aliás, quanto mais forte for a convicção de que a informação que a mente tem é verdadeira, maior é a aplicação deste ensinamento.
Sendo assim, pouco importa se o tema em discussão é a ecologia ou um debate sobre um assunto de menos importância: quanto mais o assunto for tratado como importante para a própria humanidade, maior será a tentação que a mente estará criando para ver se o ser universal, ora humanizado, vai compactuar com aquilo que ela diz que é certo ou não. Por isso, ser universal, concentre-se sempre na sua luta para não deixar-se envolver por ela, pois quando isso acontece você se afasta de Deus.