Existem muitos mestres, muitos ensinamentos, muitas correntes filosóficas e religiosas. Muitos são os caminhos e muitas são as moradas na casa de meu Pai como ensinou Cristo mas, apesar disso, estes ensinamentos possuem diversos pontos que são similares não importando a crença, a fé ou o mestre. Um destes aspectos é o despossuir. Não importa que caminho se utilize para a aproximação com Deus, sempre encontramos lá o recado para abandonarmos as coisas deste mundo. Cristo, inclusive, foi muito enfático neste aspecto quando disse que quem quiser manter a sua vida a perderá, mas quem não tiver medo de perdê-la a ganhará.
Apesar disso, acho que este é o “trabalho” mais difícil a ser executado. Isto porque quando se fala em despossuir as pessoas imaginam que está se falando apenas nos objetos desse mundo. Muitos acreditam que tenham conseguido alcançar o despossuir simplesmente porque não se prendem a ter uma casa, um carro ou qualquer outro objeto. Mas, a coisas é mais profunda.
O despossuir não está vinculado apenas aos elementos materiais, mas a todas as coisas do mundo. O despossuir não pode ser aplicado apenas aos objetos, mas deve ser, principalmente, trabalhado naquilo que Buda chamou de “paixões”.
Paixões são os padrões positivos do espírito. Querer a paz, que todos tenham comida, que todos possuam um teto, enfim, que as coisas estejam dentro dos padrões que nós achamos “certos”. Isso são paixões humanas e não espirituais, pois, como diz o Espírito da Verdade, a desigualdade social é necessária como instrumento de carma no atual estágio de elevação espiritual que se encontram aqueles que estão reencarnados no planeta Terra.
As paixões são os “quereres”, mas também são os “não querer” algo. Tudo aquilo que o ser humanizado “torce” para que não aconteça com ele ou com o próximo, é uma paixão e faz parte apenas deste “mundo”, pois liberto do véu da ignorância que o cerca (a ação maya criada pelo ego) o espírito compreende que nada acontece por acaso, mas em tudo está uma emanação de Deus.
As paixões, portanto, são coisas deste mundo e precisam ser objeto de trabalho para libertação de sua ação. Mas, como realizar isso? Como, insuflado pelo ego que “força” para que haja o êxtase do prazer ou a depressão da dor manter-se indiferente? Não é um trabalho fácil, mas para nos auxiliar os amigos espirituais nos ensinaram um mantra poderoso.
Mantra é uma série de sílabas místicas que invocam a energia necessária para que o espírito possa manter-se na pureza durante a vida encarnada. São sons que se pronunciados com o devido sentido podem levar o espírito a conseguir a clareza para realizar o seu trabalho na encarnação.
Pois foi para ajudar-nos a vencer o apego às coisas materiais que os amigos espirituais nos ensinaram o seguinte mantra: DANE-SE. Aí está o som que pode nos ajudar no desapego.
Eu gostaria de estar agora numa praia descansando, mas lá fora está chovendo, faz frio e eu estou “trabalhando”: dane-se. Eu queria muito que não houvessem mais guerras no mundo e que a humanidade vivesse em amor e respeito: dane-se.
Que se dane aquilo que eu quero. Não é isso que está acontecendo e se eu me prender ao desejo oriundo do meu ego formado a partir de uma paixão certamente sofrerei ou exultarei no prazer. Portanto, dane-se o que o ego me diz. É preciso viver com a realidade, ou seja, viver o mundo e a nossa vida como ela está, sem ilusões.
Você poderiam me dizer: mas não custa nada “sonhar”… Custa sim: a sua elevação espiritual.
Quem “sonha” com alguma coisa sofre, porque o mundo não está aqui para satisfazer nossas necessidades materiais, mas sim para criar as condições necessárias para que cada um vivencie o seu carma. O “sonho” e o desejo de que ele se realize são posses oriundas das paixões. Portanto, dane-se meus sonhos, minhas vontades, meus desejos, sejam eles positivos ou negativos.
Como disse é preciso usar o mantra dentro do seu devido sentido. Neste “dane-se” não há menosprezo, revolta ou ofensa, mas apenas desprezo pelas coisas materiais. Quem se apega às paixões é apegado ao mundo material e por isso está sempre preso ao binômio prazer/dor. Quem manda o mundo se danar liberta-se de tudo isso e não mais condiciona sua felicidade à realização de suas paixões.
O estado de felicidade incondicional é o que Cristo chamou de bem-aventurança. Ele só pode ser alcançado quando o espírito liberta-se dos bens materiais, da posse de suas paixões, pois enquanto o ser universal estiver aprisionado às suas vontades vivenciará às vicissitudes com prazer no momento que elas satisfizerem seus desejos e no sofrimento quando não atender suas expectativas.
Portanto, bem-aventurados aqueles que mandam as suas paixões e os seus desejos se danarem…