Participante: já que o senhor está falando em viver a vida carnal com valores materiais, gostaria que me ajudasse num aspecto: a caridade. Tenho muita dificuldade com isso.
Sendo você espírita, não deveria ter nenhum problema com essa situação. Falo assim porque existe um estudo específico em O Livro dos Espíritos sobre este tema:
“886. Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, com a entendia Jesus? Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros e perdão das ofensas”?
“888. Que se deve pensar da esmola? Condenando-se a pedir esmola, o homem se degrada física e moralmente; embrutece-se. Uma sociedade que se baseia na lei de Deus e na justiça deve prover à vida do fraco sem que haja para ele a humilhação. Deve assegurar a existência dos que não podem trabalhar, sem lhes deixar a vida à mercê do acaso e da boa vontade de alguns”;
“888 a. Dar-se-á reproveis a esmola? Não; o que merece reprovação não é a esmola, mas a maneira porque habitualmente é dada. O homem de bem, que compreende a caridade de acordo com Jesus, vai de encontro do desgraçado, sem esperar que este lhe estenda a mão. A verdadeira caridade é sempre bondosa e benévola; está tanto no ato, como na maneira porque é praticado. Duplo valor tem um serviço prestado com delicadeza; Se o for com altivez, pode ser que a necessidade obrigue quem o recebe a aceitá-lo, mas o seu coração pouco se comoverá. Lembrai-vos também de que, aos olhos de Deus, a ostentação tira o mérito ao benefício. Disse Jesus: ‘ignore a vossa mão esquerda o que a direita der’. Por essa forma, ele vos ensinou a não tisnardes a caridade com o orgulho”.
Onde na descrição da verdadeira caridade ensinada pelos espíritos está o dar alguma coisa material? Aliás, no trecho que lemos o dar simplesmente é condenado porque pode embrutecer o homem. Segundo o que é ensinado na Codificação, o dar deve ser substituído pelo doar-se.
Quem dá é aquele que só pratica a caridade porque acha certo ou porque pode ganhar alguma coisa com isso. Esse não doa nada. Ao contrário: recebe. Recebe o prazer de ter vivenciado as condições que impôs para sua felicidade.
Vivendo o acontecimento de dar com a soberba de ter conseguido fazer o que queria, o ser humanizado não fez doação alguma. O outro pode ter recebido alguma coisa daquele ato, mas quem praticou a ação não fez nada em prol do outro. Por isso, nada recebeu.
Praticar uma ação assim não leva ninguém a elevação espiritual porque ela está centrada no ato de dar e não de doar-se, amar universalmente. Esse ato não contém a característica universal porque está centrada apenas no próprio ser humano, naquilo que ele acha certo e bom de fazer.
Sua pergunta foi muito oportuna, pois nos deu a oportunidade de exemplificar mais ainda a questão da felicidade e deixar mais claro ainda que aquilo que as coisas consideradas como sublimes pelos seres humanos não o são para o mundo espiritual.