Jesus nos ensinou que Deus dá a cada um dos seus filhos de acordo com a sua obra. Portanto, tudo o que um ser possui lhe foi dado pelo Pai, de acordo com o seu merecimento.


Se o ser tem uma casa, Deus lhe deu porque ele mereceu ter. A saúde, o emprego, o casamento ou qualquer outra coisa que esteja à disposição do ser, lhe foi outorgado pelo Pai como um merecimento presente ou passado.
No entanto, o mesmo Jesus respondeu a um moço rico, cumpridor dos mandamentos divinos e que queria fazer mais coisas para elevar-se:
“Se você quer ser perfeito, vá e venda o que tem e dê o dinheiro aos pobres e assim terá riquezas no céu”.
Ora, se a casa foi outorgada pelo Pai como um merecimento adquirido, por que tem o ser que vendê-la? Se Deus o achou merecedor de possuí-la, por que agora o mesmo Deus impõe que ele não deve mais tê-la?
Este antagonismo de informações não pode marcar a transmissão de tão elevado espírito. A missão de Jesus foi transmitir a “consciência crística”, ou seja, estabelecer os valores necessários para o ser viver com a felicidade universal. Desta forma, qualquer antagonismo que gere dúvidas poderia quebrar esta formação, prejudicando o desenvolvimento do ser, o que seria injusto, não fruto de Deus.
Partindo deste pressuposto, podemos compreender que há aqui um ensinamento velado que precisa ser decifrado. Tentemos, pois, colocar luz sobre o assunto.
Quando falamos no ser possuir uma casa não entramos em maiores detalhes sobre este bem. A casa que Deus dá para cada um deve ser entendida como um “lugar de moradia” não especificamente uma residência material.
Para existir uma casa não há a necessidade dessa casa ter subdivisões como quarto, sala, cozinha e banheiro e nem especificar quantidades de cada um destes cômodos. Apenas um cômodo é um local de moradia.
A casa também não precisa ser própria para servir de lugar de moradia para o ser, mas aqueles que a habitam têm ali o seu lugar de moradia.
Entretanto, lugar de moradia pode ser compreendido ainda em um sentido mais amplo do que paredes com telhados. Existem os que moram nas ruas e dormem sob as marquises. Existem também os que moram no campo e dormem sob a luz das estrelas. Apesar de não possuírem paredes que delimitam seu local de moradia ou telhado para proteção das intempéries, na verdade todos moram em algum lugar, ou seja, possuem uma “casa”.
Portanto, o ensinamento de Jesus está perfeito: Deus dá a cada um de acordo com as suas obras. Existem aqueles que possuem como local de moradia um palácio, mas há os que merecem ter a natureza como residência. Todos possuem um lugar para morar de acordo com o seu merecimento.
Para não deixar dúvidas, lembremos que o palácio não significa merecimento “maior” e uma casa humilde, merecimento “menor”. Muitos moram em palácios e vivem no “inferno” (são infelizes) e, por este motivo, são “pobres”, enquanto diversos habitantes de rua vivem no “céu” (felicidade universal) e são “ricos”.
A riqueza de um ser não se encontra na quantidade ou qualidade de bens materiais que ele possui, mas é determinada pela capacidade de ser feliz. A felicidade do ser é o seu bem maior. Aquele que vivem em um local de moradia de apenas um cômodo e é feliz, possui mais bens espirituais do que aquele que é infeliz em propriedades maiores.
A grande verdade, no entanto, é que pouquíssimos seres na carne são felizes. Se moram na rua querem uma casa; quando habitam uma casa, passam a desejar outra que tenha mais cômodos… O ser humano não consegue ser feliz com o que tem, pois está sempre desejando mais.
O lugar de moradia que o ser possui, independente da forma ou acessórios, é o que Deus julga que é o perfeito resultado das suas obras e, por isso, lhe deu esse lugar. Sabedor da Justiça Perfeita e do Amor Sublime como fontes dos desígnios de Deus, o ser, pela sua fé, deveria viver feliz onde está.
Isto é não possuir um bem material. O ser que vive desta forma compreende que o Pai lhe emprestou determinado bem para servir como instrumento para a sua elevação espiritual. Por este motivo deve utiliza-lo para a ação do amor.
Este ser não precisa “vender” sua casa para ser “perfeito”, pois ele já o é: ama a Deus acima da casa que mora. Já o ser que deseja um bem mais “rico” do que tem, sofre por não possui-lo. Ao agir desta forma, esquece de amar o que já lhe foi emprestado por Deus e vive no sofrimento.
Aquele que deseja algo diferente daquilo que Deus lhe emprestou, “apossa-se” do alvo do seu desejo, mesmo que não fisicamente. Ao sonhar com uma casa maior, o ser já se sente proprietário dela.
Esta posse do objeto desejado não será fruto da doação de Deus porque ainda não está dentro do merecimento do ser, mas sim de seu desejo individual. Portanto, o ser que condiciona a sua felicidade à concretização de seu desejo, ama mais a si do que a Deus, pois quer dizer ao Pai qual o seu merecimento…
É este “bem” (o sonhado) que Jesus diz que o ser deve vender para ser perfeito: aquele que não é fruto da doação de Deus.
O ser gasta tempo e esforço para desejar um bem diferente do que tem, colocando nele toda a sua felicidade. Passa horas preocupando-se como conquista-lo, fica apreensivo se seus planejamentos para alcança-lo começam a não dar certo. É por isto que Jesus nos afirma que devemos vender os bens e doar o dinheiro aos pobres.
A “venda” é o fim do desejo e a moeda de troca (dinheiro) que será conseguido com a “venda” é a felicidade universal, ou seja, o amor. Ao invés de desejar algo diferente para a sua vida, o ser deve doar o “dinheiro” (amor) aos pobres e necessitados, ou seja, àqueles que ainda “sonham” com algo diferente do que têm.
Amando aos necessitados (os que precisam de coisas diferentes das que têm) o ser os auxiliará a vencer este desejo e estará, portanto, contribuindo de forma positiva com Deus na Sua obra: a elevação espiritual de todos os seres.