Participante:  meu filho nasceu com deficiência mental. Sempre fiz o bem, mas veja como Deus me retribui. Não acredito em carma de vidas passadas, nem mesmo em Deus depois desse fato. Gostaria de descobrir uma forma de conviver com essa dificuldade.

Já que não acredita em Deus, só posso dizer que deu o azar de gerar uma criança com deficiência mental, ou seja, dependente de você para tudo. Isso é fato consumado, não podemos mudar. O que podemos investigar é como se comportar nessa situação.

Nessa vida o ser humanizado nunca tem só uma opção de agir. Há sempre várias opções a partir de um determinado acontecimento. Só que para entender que as várias opções que possui, o ser precisa ser frio. Precisa ser racional; não pode ser emotiva.

Quem se deixa levar pela emoção, não consegue descobrir outras saídas. Aí fica presa apenas a uma opção que não satisfaz e sofre como se não houvesse como deixar de sofrer.  

Usando isso para o seu problema, poderia dizer que existe uma saída: entregue essa criança que nasceu defeituosa para uma adoção.

É tão simples. Você não quer cuidar dela, não pode matá-la – até pode, mas não vai querer porque senão vai para cadeia – portanto, vá a um orfanato, um abrigo e diga: ‘não quero essa criança’. Alguém vai pegá-la e cuidar, mas isso já não é mais problema seu.

O seu problema acabou. Você resolveu o problema porque agora não tem mais que cuidar daquela criança. Isso não é uma solução?

Com essa resposta o seu caso estaria resolvido. Mas, você poderia me dizer assim: ‘ah! Joaquim, você é sem coração’. Não, não sou sem coração. Tenho coração, mas preciso pensar numa saída prática para o futuro desta criança.

Você não tem menor carinho por ela quando ainda é um bebê. Imagine quando crescer e os sintomas da deficiência aparecerem mais? É pensando nisso, ou seja, no bem estar no futuro dessa criança que estou dando essa sugestão. Viu como tenho coração?

Quem tem mais coração: aquele que toma uma solução drástica agora ou quem não faz nada e não trata o outro com amor?

O que precisam compreender é que a realidade pode ser chocante, mas nem sempre monstruosa. O que estou propondo é algo inédito? Será que nunca ninguém abandonou uma criança porque nasceu com deficiência?

Claro que sim. Isso já foi feito inúmeras vezes. Mais: continua sendo feito por pessoas que antes não eram tratadas como monstro.

Sendo assim, o que estou propondo é apenas uma solução para o seu problema e para o da própria criança. Se ela continuar com você, que está revoltada com ela, o seu futuro será pior do que se estiver num lugar que a amparará, mesmo que seja longe da família biológica.

Essa, portanto, seria uma solução. Claro que não diria que é a solução obrigatória, mas uma opção para você pensar no assunto.

Agora, acho que você não usaria dessa opção. Por quê? Porque já tratou a criança como filho.

Repare: mesmo que esteja desiludida pelo fato da criança ter nascido com uma deficiência, há um vínculo entre você e essa criança. Se isso é verdade e se você não tem coragem de entrega-la para uma adoção, qual a outra alternativa que sobra? Cuidar dela!

Eu não queria um filho deficiente. Acho que Deus foi um sacana, que não ama ninguém. Nunca fiz nada errado, não acredito em outras vidas, mas Ele me deu esse filho’.

Se pensa assim, só tem duas opções: doar ou cuidar. Como chegamos a conclusão que não quer a primeira, só resta a segunda. Pronto, seu problema está resolvido.

É a esse ponto que você precisa chegar. Por isso falei: é necessária uma análise fria.

É preciso saber que há outras opções além do sofrer com a situação que se apresenta. Depois de conhece-las, é preciso analisar cada uma delas para ver se são válidas, se é possível fazê-las.

Fazer essa análise resolve o seu problema. O que não adianta nada, o que não resolve a situação é ficar questionando o por que ter tido um filho com problemas mentais.

Ficar brigando com Deus por causa da doença do seu filho não vai lhe levar a lugar nenhum. Não vai fazer o filho desaparecer, acabar com a deficiência ou fazer o cuidar dele ser mais fácil. Isso não vai mudar nada a existência de um problema. Apenas vai lhe fazer sofrer.

Não estou falando em resignação, mas em enfrentar a realidade. Você, que não acredita em Deus, teve uma noite de amor, engravidou e por algum motivo durante essa gravidez seu filho teve um problema. Por isso nasceu deficiente. Ponto final! Essa é a realidade que não pode ser mudada.

A partir dela precisa ver que há diversos caminhos que pode percorrer. Escolha o seu! Tenho certeza que na hora que enfrentar a realidade, vai fazer pelo seu filho a mesma coisa que já faz hoje, cuidar dele, só que sem sofrer.

Hoje já cuida dele, faz o que tem que fazer, mas fica revoltada pelo fato de ter nascido assim. É essa revolta que está lhe fazendo sofrer e não o fato de ter um filho assim.

Esse é um conselho que fica para se enfrentar qualquer situação desta vida. Sempre que houver um problema, ponha o coração e a emoção a larga e analise todas as hipóteses que tem. Depois de analisa-las, opte por uma das hipóteses.

Decida sua vida. Viva o que escolher. Quando consegue isso, fica em paz, mesmo continuando tendo o problema.