Participante: há muitas questões em O Livro dos Espíritos que eu ainda considero conflitantes com as ideias da doutrina que nos ensinastes. Embora já tenha aceitado pelo coração as novas ideias, ainda é incômodo conciliar totalmente o ecumenismo com a Doutrina Espírita. Aí vai uma: segundo a pergunta 859a de O Livro dos Espíritos, um acontecimento que ocorreu poderia não ter ocorrido se outro tivesse sido o ato praticado pela livre vontade. Comente, por favor…


“859. Com todos os acidentes, que nos sobrevêm no curso da vida, se dá o mesmo que com a morte, que não pode ser evitada, quando tem que ocorrer? São de ordinário coisas muito insignificantes, de sorte que vos podemos prevenir deles e fazer que os eviteis algumas vezes, dirigindo o vosso pensamento, pois nos desagradam os sofrimentos materiais. Isso, porém, nenhuma importância tem na vida que escolhestes. A fatalidade, verdadeiramente, só existe quanto ao momento em que deveis aparecer e desaparecer deste mundo”.
“859a. Haverá fatos que forçosamente devam dar-se e que os Espíritos não possam conjurar, embora o queiram? Há, mas que tu viste e pressentiste quando, no estado de Espírito, fizeste a tua escolha. Não creias, entretanto, que tudo o que sucede esteja escrito, como costumam dizer. Um acontecimento qualquer pode ser a consequência de um ato que praticaste por tua livre vontade, de tal sorte que, se não o houvesses praticado, o acontecimento não se teria dado. Imagina que queimas o dedo. Isso nada mais é senão o resultado da tua imprudência e efeito da matéria. Só as grandes dores, os fatos importantes e capazes de influir no moral, Deus prevê, porque são úteis à tua depuração e à tua instrução”.


Mais uma vez estamos diante de problemas com palavras. O problema sempre é palavra…
Ao longo das duas questões usadas nesta sua pergunta, o Espírito da Verdade dirige-se a um tu, que é você. Só que ele é bem claro: o tu quer está no estado de Espírito… Portanto, ele não está se referindo ao homem e sim ao Espírito; não está se referindo ao que a personalidade humana fez, mas sim ao que você, Espírito, fez.
Observado este aspecto, pergunto: alguns atos ou acontecimentos humanos poderiam ser diferente do que aconteceram? Eu mesmo respondo: Sim. Só que os atos poderiam ser diferente não na forma, mas na vivência.
Falo isso porque o Espírito da Verdade está se dirigindo ao Espírito. Este ser não possui braços, pernas ou corpo para agir. Sua ação é sentimental. Por isso afirmo: a vivência, a ação do espírito, o sentimento que o ser escolhe para vivenciar algum acontecimento, pode ser diferente, mas o ato não.
Vou dar um exemplo para ficar claro o que pode ser mudado. Se durante um acontecimento humano alguém rouba o dinheiro do seu bolso, este acontecimento pode ser uma desgraça, uma coisa ruim, um acontecimento não muito agradável. Pode, ainda, ser apenas um acontecimento ou pode até ser encarado com a consciência de ter recebido uma oportunidade de elevação.
Repare como o mesmo acontecimento pode ser vivenciado de formas diferentes. Esta vivência é gerada pela mente. Quando isso acontece, o ser humanizado tem, então, a oportunidade de escolher como vivenciar o que está acontecendo. Portanto, você poderia vivenciar este ato tendo qualquer uma das vivências que citei.
Acontece que não existe apenas uma vivência pré-programada. Há sempre muitas vivências disponíveis para cada acontecimento da vida, mas só uma delas será vivida. O que vai decidir qual vivência a sua mente usará na hora que for assaltado? Aquilo que ‘tu, em estado de Espírito’, fez antes. O que determina a vivência que a mente gerará num determinado momento é o que ‘tu, em estado de Espírito’, fez em momentos anteriores.
Ou seja, anteriormente você teve uma prova de despojamento, de despossuir. Nela, em estado de Espírito, reagiu de uma forma. Com isso gerou um carma, ou seja, uma consequência perfeita do que fez. Esta consequência do que fez é o que vai determinar agora como vai vivenciar o roubo.
Então veja, não há discussão. Não há diferenças entre o que eu falo e o que foi dito pelo Espírito da Verdade. A diferença está em você, na sua mente, que ainda acha que a personalidade humana é você, o Espírito, que ainda acha que aquilo que sua razão pensa é aquilo que você, em estado de Espírito, está pensando…
Volto a dizer. Comece a trabalhar a existência de duas personalidades numa só. Se não trabalhar a dupla personalidade não conseguirá entender o que os mestres ensinaram e o que eu e outros enviados mostramos.