Participante: se alguém tem medo de barata, não devemos ajudá-lo a não sentir esta dor? Para isso não devemos menosprezar aquele sentimento? Acho que se não fizermos isso estaremos alimentando o medo dos outros.
O que alimenta o medo dos outros não é você, mas o que ele sente. É a vida do outro que alimenta o medo nele. Aliás, propõe sentimento e o nutre.
Segundo detalhe: se é a vida dele que faz tudo o que ele vive, nem você nem ele tem condições de deixar de ter qualquer coisa. Isso porque é a vida que cria. Sendo assim, ele jamais deixará de ter. Pode não viver o que a vida cria, mas deixar de ter não pode.
Participante: mas, não existem tratamentos médicos para que as pessoas deixem de ter determinados medos?
Quando a pessoa vai a um médico fazer um tratamento para deixar de ter medos, só existirá um resultado positivo para esse tratamento se a deixar for ter. Não foi o médico ou o tratamento que fez isso acontecer.
Sendo assim, da mesma forma que você não pode acabar, não pode alimentar.
Participante: o tratamento condiciona a pessoa a não viver mais o medo.
Sim, mas este condicionamento que o médico faz só dá resultado se a pessoa se deixar condicionar. Não deixando, médico nenhum conseguirá fazer isso.
Mas, o importante, nesta conversa, não é o ato, mas a forma como você se relaciona com o ato. Pouco importa as palavras que dirá a quem está vivendo o medo não tem problema. O problema é menosprezar a dor dele. Isso é que torna a vida neste planeta antinatural. No universo os seres ajudam os outros a vencerem seus medos, mas para isso não menosprezam o que cada um sente.
Portanto, o problema está no menosprezar, ou seja, está no fato de dizer que a sua dor é muito maior ou que a dor dele não tem sentido… Porque? Porque com isso está desrespeitando-o, desrespeitando a diferença entre vocês.
Portanto, você pode falar o que quiser, mas achar que aquela pessoa é muito besta porque tem medo de uma baratinha tão pequenininha, isso lhe levará a sentir-se contrariado.
Participante: quando eu convivo num lugar onde tem muita barata, morro de medo. Como me relacionar com isso?
Ainda vamos chegar lá. Ainda falaremos sobre os relacionamentos com as coisas desse mundo. Por enquanto estou querendo apenas falar no respeito às diferenças que existem entre vocês. No não deixar as diferenças servirem como causas de contrariedades nas suas vidas.
Como se faz isso? Quando se conversa com a vida e não aceita o menosprezo que ela gera à dor dos outros.
Não dá para se mensurar a dor, a angústia, o medo dos outros. Só que sabendo disso, vocês ainda dizem que o que eles sentem é besteira, pois não sentem a mesma coisa.
Participante: quando vejo uma pessoa sentindo medo, eu digo para ela que já passei por coisas que causam muito mais. Acho que dessa forma estou ajudando aquela pessoa.
Você gosta quando você está aterrorizada e diz que ele é besteira? Gosta disso? Não, mas é o que faz pelos outros. Ainda diz que ama o próximo …
Vocês riem dos sentimentos sofredores dos outros.
Participante: mas,
Vai vida, continua defendendo o seu ponto de vista.
Uma das formas de saber se está ajudando o outro é se colocar no lugar daquele com quem está falando. Se alguém age mostrando para você que o que o aterroriza é besteira, como viverá isso?
A resposta mais comum de vocês é: pimenta nos olhos dos outros é refresco …
Quando quer mostrar aos outros que a dor que eles sentem não é tão forte assim, está menosprezando a dor deles. Você menospreza alguma coisa que sente ou acha que suas dores são as mais profundas do mundo? Sente-se ofendida quando alguém ridiculariza a sua dor, mas quer diminuir a dos outros.
Participante: a gente quer ajudar …
Quer nada: quer dominar. Quer mudar o outro porque não está sentindo a mesma coisa. Mas, quando é você que sente a dor, não aceita a interferência externa: quer ser respeitado. Melhor: gostaria que os outros sentissem a sua dor também.
Um dos ensinamentos máximos de Cristo é dar aos outros o que quer para você. Vocês cumprem isso? Dão ao próximo o que exigem deles?
Respeitar a dor dos outros é fundamental para se viver essa vida de uma forma normal, pois não fazendo isso, se vive em contrariedade. ‘Ele é um frouxo, não aguenta nem uma febrinha. Ele sofre logo por causa desse pequeno detalhe que é tão besta’. Só que na hora que tem suas dores, quer que as pessoas lhe respeite, que valorizem o que estão passando.
Por causa da falta de respeito, sofre quando desrespeita os outros e quando eles desrespeitam você.