Participante: quer dizer que aquele que vive para alcançar o espiritual sofre nesta vida?

A questão de viver ou não sofrimentos não caracteriza aquele que busca a sua felicidade no mundo espiritual. Falo assim, porque sofrer é entendido pelos humanos como um caminho para a elevação espiritual. Isso é irreal.

Existe uma cultura no mundo humano que diz que quem sofre alcança o reino do céu. Isso leva o ser humanizado a desejar o sofrimento, mesmo que inconscientemente. Mesmo que esta máxima não esteja disponível claramente na consciência humana, só por existir influencia o pensamento humano. Mesmo inconsciente ela se transforma numa intencionalidade. Por isso, quando acontece, o sofrer deixa de ser glorioso e apenas atende a um anseio humano, a um ganhar material: sofrer para ganhar a elevação espiritual.

Na verdade, para se alcançar a elevação espiritual não é preciso sofrer ou deixar de fazê-lo. Não é a questão do quanto se sofre que eleva um ser, mas a forma como ele vivencia o momento sofredor ou não.

 A verdadeira felicidade não é vivida com nenhuma alteração sentimental. Ou seja, ela pode existir mesmo quando a mente cria a dor ou o prazer. Quem a vivencia, na verdade, não se altera seja numa ou noutra situação. Ele vive de forma equânime o que acontece, sem se preocupar se o que está acontecendo é certo ou errado, é bonito ou feio, etc. Também não se preocupa com o que vai resultar do que está fazendo…

Vou contar uma história para que você entenda o que quero dizer…

Conta-se que no Japão uma mulher namorava um rapaz pobre quando foi cortejada por um homem muito rico. Pouco depois de trocar o pobre pelo pretendente que possuía posses descobriu que estava grávida do primeiro. Refugiou-se na casa de parentes e de lá só saiu quando deu a luz à criança para que o pretendente rico não soubesse da sua gravidez.

Quando saiu, encontrou um monge mendigando na rua e deu a criança a ele para que a criasse. O monge recebeu a criança e nada falou. Aninhou-a no seu colo e cuidou dela.

Esta mulher voltou para a cidade e casou-se com o homem rico, mas não foi feliz. Ela vivia amargurada com a lembrança do filho que tinha entregado ao monge. Tanto se amargurou com a situação que um dia não aguentando mais relatou tudo a seu marido. Ao contrário do que ela previra, o marido compreendeu a situação e mandou que fosse pegar seu filho de volta.

A mulher, então, foi ao encontro do monge. Chegou lá e pediu seu filho de volta. O monge, que estava com a criança ao seu lado e que havia simpatizado com o neném, na mesma hora devolve a criança a sua mãe sem uma palavra sequer.

Esta é a felicidade universal. Ela é vivida pela vivência da situação sem se contrapor ao que está acontecendo nem aquiescendo com o acontecimento. Ela é caracterizada pela simples vivência e não leva em conta nada do que é ponderado mentalmente sobre o acontecimento.