Eu disse antes que o carma é apenas o reflexo de um momento anterior. Mas, quando o ser universal está encarnado (ser humanizado), o carma passa a ter uma especialidade a mais: ele é a provação do espírito.


Tudo aquilo que o ser humanizado toma consciência faz parte da provação do espírito para aproximar-se de Deus. Isso porque o Espírito da Verdade nos diz que a encarnação, a vida humana, tem como objetivo a provação do espírito. Como os acontecimentos (o desenrolar da vida) não são o que está fora, como já vimos, mas aquilo que cada um compreende internamente, toda conscientização é uma prova.
Sendo assim, carma, para o espírito encarnado, nada mais é do que as suas próprias provações. Cada coisa que você acredita é um carma e cada crença é uma prova. Portanto, cada carma é uma prova.
Isso é importante compreendermos, porque o carma não se cria por acaso e nem quando encarnado, nesta encarnação. Ele é criado antes, ou seja, quando o espírito ainda está na erraticidade e é sempre um reflexo do estado espiritual deste ser antes de entrar em provações ou missão.
Em ‘O Livro dos Espíritos’ encontramos a afirmação de que o espírito escolhe antes da sua existência carnal o gênero de suas provações (258) e que esta escolha está motivada pela consciência que o espírito tem de si mesmo frente à comunidade espiritual (pergunta 264).
Como já falamos anteriormente, o espírito escolhe o gênero de suas provas ou missão antes da encarnação e o carma é montado pelo ego, através do comando de Deus, exatamente em cima do gênero da prova que cada um escolheu para vivenciar durante a encarnação.
Desta forma, se você é muito bonzinho nas suas compreensões das coisas do mundo – sempre procura o lado bom’ das pessoas – isto não é uma qualidade sua, mas sim um carma e ocorre para que não acredite que é bondoso. Se, ao contrário, suas compreensões sempre vêem o mau nos acontecimentos da vida, o seu carma é não acreditar na maldade que imagina que possui.
O carma, que foi definido como um reflexo de uma ação anterior do espírito é, portanto, durante a encarnação, o reflexo do gênero de provas e/ou missões que aquele ser universal escolheu para si antes da encarnação.
Sendo assim, se você compreende que é pobre este é o seu carma, é a sua prova. Achando-se feio este é o seu carma, porque nesta consciência (ser feio) está embutido o gênero da sua provação espiritual.
Com isto fica um grande ensinamento: a compreensão que você tem das coisas não é à toa: tem um propósito bem definido. Ela está fundamentada naquilo que você pediu antes da encarnação como provação e é uma oportunidade para provar a si mesmo que aprendeu o que estudou na erraticidade antes de encarnar.
Quem pediu para provar que pode vencer a ganância, por exemplo, gera para si determinados carmas e, por isso, terá sempre conscientizações fundamentadas nesta postura sentimental (irá querer possuir tudo que vê) porque só assim poderá provar que aprendeu a não ser ganancioso. Quem tem conscientizações fundamentadas na luxúria veio a esta vida para tê-las, ou seja, ter este carma porque precisa provar que venceu tal tendência.
Como defini antes, carma é o reflexo do momento anterior e ele se materializa através da conscientização que o ser universal tem a cada segundo da sua existência. Quando na vida carnal, ou na encarnação, porém, o carma materializa também a prova que o ser universal se expõe quando se humaniza. Ao decretar uma conscientização, o ego cria um carma que também é a prova do ser universal que está de acordo com o gênero pedido por aquele antes da encarnação.
E é por isso que Krishna afirma que ninguém consegue agir diferente da sua personalidade. E o que é personalidade senão o gênero de prova que cada espírito escolhe para si…
Se você é nervoso, as suas compreensões sobre os acontecimentos da vida vão sempre se embasar no nervosismo; se tem uma personalidade depressiva, as suas conscientizações vão sempre alcançar a realidade de um sofrimento. Mas, isto não quer dizer que você seja certo ou errado, bom ou mau por ter estas compreensões: elas são desta forma porque ao tê-las estará vivenciando nestes carmas o gênero de provas que pediu para provar que já se libertou disso.
Aí está, portanto, o carma na vida humana do ser universal: um reflexo de outro momento na existência eterna do espírito, que possui a propriedade de criar uma provação que reflita a condição espiritual deste ser na erraticidade.
Participante: Então, você tem carma? Digo isso porque deve ter consciência de algumas coisas…
O único que não tem carma é Deus, porque é o único que não tem ego. Todo espírito, inclusive Cristo, o espírito mais elevado que você tem notícia, tem ego.
Havendo ego, há conscientizações. Havendo conscientizações, há carmas. Portanto, eu tenho carma…
Agora qual a diferença entre eu e você, ou seja, qual a diferença na forma como convivo com meus carmas e você com os seus? Eu sei que o que o meu ego cria é um carma e não uma realidade ou verdade.
Você acha que está me ouvindo porque está percebendo o som. Eu não acredito que ouço nada, porque sei que cada som que eu tiver consciência de ter ouvido foi um carma e mais nada que isso.
A partir desta consciência, então, eu inibo a compreensão enquanto você, que acredita estar ouvindo, deixa o ego criar novas verdades que mais tarde servirão para novos carmas. Como não acredito que estou ouvindo qualquer coisa, não há nada para ser entendido, explicado ou acreditado: apenas carma.
Além disso, no meu caso, por não estar encarnado ou em provações, o meu carma não é prova, mas missão. Mas, tem muito encarnado que também está em missão e para eles também, o carma não é uma provação.
Por isso disse antes que o carma, durante a encarnação, gera o gênero da provação e/ou da missão dos espíritos.


Participante: No livro da vida estão escritos os carmas e o gênero das provas?


No livro da vida não estão escritos nem os carma nem os gêneros de provas. Isto porque, os carmas criados a partir dos gêneros de provas são o livro da vida, o resumo da encarnação que será vivenciada por um espírito.
Veja bem. Aquilo que rotulamos anteriormente como livro da vida não é um composto por páginas onde se escreva alguma coisa. Este instrumento espiritual é a reunião de informações para balizar uma existência carnal e o que consta lá são os carmas criados a partir dos gêneros de provas.
Estou falando em carma não como ato, mas como compreensão. O que está no livro da vida ou as informações que são reunidas para criar a provação de cada ser é a fundamentação que será utilizada por cada um para compreender a cada momento. Não o que fará, mas o que compreenderá a cada momento. Ou seja, que realidade criará.