03. Entre milhares de seres humanos, apenas um busca a perfeição; entre os que tentam, possivelmente somente um alcança a perfeição e entre os perfeitos, talvez um só Me compreende perfeitamente.
Neste trecho do Bhagavad Gita há um grande ensinamento sobre o reto entendimento que precisamos nos aprofundar. Vamos vê-lo em detalhes…
Quando o Bendito Senhor fala dos seres humanizados que existem, claro, não está falando na sua totalidade, pois a sua conversa é com um buscador de Deus. Ele, portanto, está se referindo a existência de milhares de seres humanizados que se dizem buscadores de Deus. Quando fala deles afirma que apenas um realmente busca a perfeição. Quem são os que apesar de dizerem que estão buscando Deus não o fazem realmente? São aqueles que são católicos, mas que só vão à missa de domingo, aqueles que são espíritas, mas só frequentam o centro na quarta-feira e não fazem mais nada por sua reforma. Enfim, Krishna está falando daqueles que apesar de se dizerem participantes de uma doutrina religiosa, apenas comparecem aos cultos, mas não praticam nenhum ensinamento dela.
Saiba que entre os que se dizem buscadores de Deus, na verdade só um O está procurando realmente. Os outros comparecem aos templos de sua religião para dar uma satisfação à sociedade ou para conquistar desejos e não para buscar ao Pai realmente. Estes, na verdade, não são movidos pelo anseio de procurar a elevação espiritual, mas frequentam os cultos de uma religião por medo do que lhes acontecerá depois do desencarne.
Aquele que não busca o reto entendimento, ou seja, que não vive com a mente focada em Deus, frequenta o culto da religião que professa apenas para ter uma desculpa quando desencarnar: ‘eu frequentei tal centro’, ‘eu ia a igreja todo domingo me confessava e comungava’… Acha que desta forma pode enganar a espiritualidade e não receber aquilo que plantou. Ele não está preocupado com a questão do aproveitamento desta encarnação para a elevação espiritual, mas apenas buscando um salvo conduto para quando do seu retorna à pátria espiritual.
Apesar dos seres humanizados que agem desta forma ser muitos, existe ainda uma boa quantidade de pessoas que está preocupado com esta questão, mas mesmo entre estes, poucos chegarão. É a questão da frase de Cristo que certamente vocês já ouviram: muitos serão os chamados, mas poucos os escolhidos.
Por que isso acontece? Porque mesmo de alguns que buscam poucos conseguem alcançar? Porque para se alcançar a elevação espiritual é preciso um desprendimento muito grande de si mesmo e poucos tem coragem de fazer isso. Para se alcançar o reto entendimento é preciso matar você mesmo, é preciso desprender-se de tudo que até hoje para você foi importante. É por isso que Cristo diz ao moço que sempre cumpriu todos os ditames doutrinários de sua religião: abandone a sua riqueza e venha comigo.
Quando ele fala isso não está se referindo apenas à riqueza material, à posse de objetos, mas também as emoções. Para se alcançar o reto entendimento é preciso libertar-se do que se gosta, do que se quer, do que se acha importante conquistar. Todas estas razões são elementos gerados pela personalidade humana e, portanto, incompatíveis de serem vividas por quem almeja estabelecer-se definitivamente no mundo universal.
É a partir deste aspecto que Krishna afirma a existência de alguns que são movidos pela busca a Deus, mas que dificilmente conseguirão o reto entendimento. Mesmo quem diz amar a Deus tem dificuldades para abandonar estas razões oriundas das paixões, posses e desejos gerados pela mente humana. Dizem amar a Deus, mas não o fazem acima de sua própria satisfação humana. Por isso não estão dispostos a abrir mão das suas vidas, no sentido de realizar-se materialmente, não estão dispostos a abrir mão do pretenso comando da vida.
Estes são os dois primeiros tipos que Krishna cita como aqueles que não conseguirão o reto entendimento: aquele que tenta ganhar um salvo conduto para depois do desencarne ou que se torna religioso como uma satisfação à sociedade e aquele que apesar de realmente tentar, não consegue libertar-se da realização material. No entanto, o Bendito Senhor ainda fala de um terceiro tipo: os perfeitos. Vamos falar deles…
Para podermos compreender quem são os perfeitos que Krishna cita que não conseguirão o reto entendimento precisamos observar o que fala sobre os que deste grupo conseguirão. Sobre estes ele diz: “Me compreenderão perfeitamente”. Isso quer dizer que os perfeitos que não alcançarão o reto entendimento possuem uma compreensão sobre Deus. Portanto, ele está se referindo agora a doutos religiosos…
Krishna está falando dos padres, dos médiuns, dos palestrantes de centros espíritas, dos dirigentes das diversas religiões. Na verdade, está falando dos professores da lei sobre os quais Cristo também falou: aqueles que conhecem, mas não praticam o que sabem.
Os seres humanizados que possuem um conhecimento profundo sobre os ensinamentos dos mestres possuem, também, um determinado entendimento. Este, no entanto, segundo o Bendito Senhor, não os leva a alcançar o reto entendimento. Por que isso? Porque este entendimento se firma no culto ao ego, aos anseios e desejos humanos, à busca da satisfação nesta vida. Não alcançam o reto entendimento também porque na prática do ensinamento do mestre ao invés de cultuarem a Deus, idolatram outros seres humanizados: os mensageiros de Deus.
Os doutos das religiões criam interpretações para os ensinamentos de tal forma que eles sirvam como instrumento do prazer mundano e como instrumento de idolatria aos mestres enviados por Deus. É por conta destas duas bases em que se fundamenta a compreensão dos doutos religiosos que Krishna afirma que eles não alcançarão o reto entendimento.
Se o reto entendimento é a compreensão de que apenas Deus age e quando o faz é por conta da Justiça Perfeita e do Amor Sublime, é preciso se cultuar a Ele para promover a reforma íntima. Se o reto entendimento leva em conta a existência de uma realidade única, a vida universal, é nela que se deve buscar a felicidade. Justamente por causa desta diferença entre o reto entendimento e a forma de proceder dos perfeitos é que apenas um deles conseguirá atingir a elevação espiritual, por mais que conheçam os textos dos ensinamentos.
Desta análise sobre o que Krishna falou tiramos uma grande lição: para chegarmos a Deus e promover a reforma íntima, de nada adianta ser professor da lei. De nada adianta frequentar cultos, de nada adianta se conhecer o que deve ser feito: se não houver uma centralização mental no Pai, nada leva o ser humanizado a aproveitar a sua encarnação. Nada o fará renascer do espírito e da água a não ser a convivência amorosa com Deus a cada momento, aconteça o que acontecer na vida carnal.
Aquele que não se entrega ao processo de reforma íntima com a consciência de que tudo que lhe acontece é fruto do amor de Deus, ficará num dos três grupos de buscadores que Krishna enumerou. Somente aquele que por força da sua confiança no Pai (fé) entrega-se completamente a Ele e vivencia o Seu amor independente do acontecimento da vida será o escolhido e, como diz a Bíblia, sentar-se-á ao Seu lado direito. Para que essa confiança e entrega seja alcançada é preciso que o ser humanizado abra mão de si mesmo, de suas posses, paixões e desejos, que não tenha mais obrigações nesta vida, e que não queira transformar a sua compreensão sobre os ensinamentos em verdades.
Participante: ouvi uma moça evangélica que na sua corrente doutrinária se prega que a riqueza material, a posse de objetos neste mundo, e o status que se pode adquirir como Inal da benção de Deus. Ou seja, segundo esta corrente, Deus dá tudo para eles porque são bons. A partir daí também pregam que aquele que não consegue nada é porque são muito pecadores e não merecem a ajuda de Deus.
Eis aí um exemplo do porque muitos doutos não conseguem, apesar de conhecerem os ensinamentos.
Os dirigentes desta corrente evangélica certamente já leram na Bíblia que Cristo afirma que não se pode servir dois senhores ao mesmo tempo. Também já leram que ele afirma que se deve amealhar bens no céu e não na Terra. Onde estão presentes estas informações no que eles pregam?
Repare numa coisa. A questão de Deus dá a cada um segundo suas obras está completamente vinculada aos ensinamentos de Cristo, mas o que Ele dá foi desvirtuado por uma compreensão de um ser humanizado que está apegado à ideia de gozar da felicidade neste por mundo. É a questão da interpretação dos ensinamentos que comentamos e que não deixa o ser humanizado que acredita nela alcançar o reto entendimento.