Participante: dentro de um relacionamento de um casal, temos que ter um padrão para que haja organização na casa.


A que organização você está se referindo: à sua ou a do outro?


Participante: estou dizendo que tem que haver uma colaboração.


Não, não é obrigatório que um colabore para que o outro tenha o seu critério de organização atendido. Faça o que você quiser e deixe-o fazer o que ele quiser.


Participante: mas, assim, a gente faz a nossa parte e acaba fazendo também a do outro. Assim a gente se sobrecarrega já que o outro não faz.


Não, você não se sobrecarrega porque o outro não faz a parte dele. Isso não é real. Repare que a sua mente está criando justificativas para o seu trabalho que não são reais.
Sabe porque você se sobrecarrega? Porque quer que a coisa seja feita de um determinado jeito. Não tem nada a ver com o fato dele fazer ou não, mas sim com o de você querer que aconteça de uma determinada forma. Se não quisesse que fosse feito desse jeito, o que o outro fizesse estaria bom e você não precisaria fazer novamente. Sendo assim, você se sobrecarrega por conta do seu desejo e não porque o outro não ajuda.
Mas, porque você quer que seja feito daquela forma? Porque quer ser aceito pelos outros. Imagina que se não organizar a sua casa os outros vão criticá-la. Por isso vive um determinado padrão de organização. Por causa dele e imaginando que ele é universal, que todos possuem apenas um padrão, exige que a sua forma de limpar e organizar aconteça.
Ora, se a limpeza e o padrão do que é limpo é apenas fruto do seu desejo, da sua convicção individual, faça, ao invés de exigir que o outro siga o que você quer. Além do mais, não critique o próximo por não fazer do jeito que você quer, pois ele não tem nada a ver com o seu sobrecarrego.
O seu sofrimento é fruto de querer que seja feito do jeito que quer e exigir que o outro faça como você acredita. Sabe qual é o nome disso? Escravidão…


Participante: é difícil entender isso…


Sim, é difícil entender, porque você não está disposta a abrir mão de nada…


Participante: mas, num casal não tem que ter uma colaboração?


Não tem que ter nada. Sabe porquê? Porque não tem… Não é por nada, mas simplesmente porque não tem. E sabe porque não tem? Porque nunca teve e nunca terá…
O problema é que você aceita a ideia que a mente está lhe dando que deve haver esta colaboração. Por aceitá-la, a razão lhe joga contrariedade e você não consegue reagir contra esse sofrimento.
Eu falei de escravidão, mas o problema aqui não é nem de escravidão, pois quando cobra de alguém da sua casa que eles se submetam ao seu critério de arrumação, não está sendo senhor de escravo, mas sim capitão do mato. Capitão do mato era aquele que tomava conta de um escravo. Ele não era o dono, mas tomava conta deles para o senhor.
No seu caso, o senhor do escravo é a sua vida, pois ela manda que arrume sua casa de um jeito e você se obriga a viver este padrão de arrumação. Quando cobra dos outros que arrume do jeito que a sua vida quer, torna-se capitão do mato: um escravo que se acha senhor.
Na verdade não é você que quer que as coisas aconteçam de uma determinada forma, mas sim a vida que criou isso. Foi ela que criou os parâmetros de arrumado e desarrumado para que você se torne vítima da contrariedade…


Participante: mas, ainda acho que deve haver um mínimo de organização, não?


Defenda-se vida… Defenda-se criando pelo menos um mínimo…
Não, não há mínimo que obrigatoriamente tenha que ser realizado. Se você fala em amar ao próximo, não há mínimo a ser exigido dele. Se fala em boa convivência, não há mínimo a ser exigido de ninguém. Isso porque na hora que exige de uma individualidade que ela se submeta ao que outra quer, acaba o conviver.
Conviver é viver com e você não quer viver com ninguém: quer que todos vivam com você. Não aceita o que eles são, gostam ou fazem, mas quer determinar como cada um deve agir.
Você quer cooperação para que: para alcançar aquilo que quer? E o que ele quer, quando será feito?
Cooperação com o que: com aquilo que você deseja? Porque ele precisa cooperar com os seus desejos e não com os dele? Será que o seu é a coisa mais importante do universo e o querer dos outros não possuem valor algum?


Participante: mas, dentro da vida de um casal deve haver uma casa limpa.


Eu não discordo de você: deve haver uma casa limpa. Só que lhe pergunto: o que é estar limpo? Será que é o que você diz que está limpo ou o que o outro usa como critério de limpeza?


Participante: mas noventa e nove por cento das pessoas têm o seu critério e quer vê-lo atendido.


Sim, noventa e nove por cento agem dessa forma. Por isso todos eles sofrem. Você quer continuar sofrendo? Continue exigindo que os outros atendam o seu critério de limpeza. Quer ser feliz? Abra mão de impor o que quer aos outros. Se precisa de um determinado grau de limpeza, limpe você mesmo e não reclame dos outros.
Sabe porque você tem um determinado padrão de limpeza? Para que os outros não ajam dentro deste critério e com isso aceite o sofrimento proposto pela mente. Só para isso.
Vou lhe dizer uma coisa que talvez nunca tenha percebido. Você se mata de arrumar a casa, mas na hora que chega uma visita, encontra uma sujeira.


Participante: não me preocupo com o que os outros falam, mas acho que deve haver uma colaboração.


Claro, você acha isso e a partir do momento que acha o outro não tem mais direito a achar nada… O outro não tem mais direitos, porque você acha.
Se você acha alguma coisa, o outro tem que calar a boca e seguir o seu achar.


Participante: não pode haver acordo entre as partes?


Não existe acordo entre dois seres humanos diferentes. Um pode, porque não quer sofrer, engolir o que o outro quer. Agora, conseguir viver de acordo com os valores do outro, isso não acontece.


Participante: mas, não há quem não queira ter uma casa limpa.


Sim e é por isso que todos continuam sofrendo. Todos querem uma casa limpa, mas como cada um quer um grau de limpeza diferente e não abrem mão de suas posses, paixões e desejos, vivem em sofrimento …


Participante: as mulheres são mais organizadas que os homens. Se uma mulher vivesse com outra, a vida ficaria mais fácil.


Também acho. Por isso lhe aconselho: arrume uma mulher para viver com você…
Estou falando sem nenhuma ofensa. O que estou querendo fazer é resolver o problema da sua vida. Se a sua vida está um inferno porque convive com um homem, que naturalmente é mais desorganizado, segundo suas próprias palavras, arrume uma mulher para conviver.