Arjuna perguntou:
36 – Oh, Krishna! (ou Varsneya, descendente dos Vrishni), que poder é esse que impele um homem a pecar, mesmo contra a sua própria vontade, como se obrigado por uma força?
O Bendito Senhor disse:
37 – É o desejo, é a ira, nascidos da qualidade rajásica (ou ativa) da “Prakriti” (mente-matéria ou psicofisicalidade). O desejo é como uma fome insaciável e a ira que se levanta quando ele se frustra é muito pecaminosa. Neste mundo considera isso como teu pior inimigo. (O desejo e a cólera são inseparáveis; a cólera se levanta quando um desejo é obstaculizado)
O que lhe impulsiona fazer pecados? Pecado é tudo o que você faz com sofrimento, tudo que faz contra Deus, quando não ama a Deus acima de todas as coisas, ou seja, tem intencionalidade. O que lhe impulsiona a agir com intencionalidade é a paixão, o desejo, a vontade. E o que é isso? É o individualismo, o egoísmo… Egoísmo: é isso que impulsiona vocês.
Os humanos são pecadores porque vivem para satisfazer seus desejos, suas vontades, suas intencionalidades próprias. Pergunto: alguém conscientemente faria alguma coisa que lhe prejudicasse?
Participante: Não, por minha vontade não. Busco seguir minhas vontades, e muitas vezes alcanço o prazer, mas logo em seguida vem o prejuízo…
Sim, tem que vir o prejuízo porque já teve o lucro: o prazer…
Mas, insisto: alguém faria conscientemente algo que lhe prejudicasse se isso não lhe trouxer algum lucro? Por exemplo: uma pessoa pergunta quem escreveu determinada coisa errada. Se sabe que foi você e sabe ainda que respondendo sim será prejudicado, se entregaria? É claro que não… Enquanto a pressão não for muito grande ninguém se entrega, não é mesmo? Por quê? Porque ninguém quer perder nada, de jeito algum.
A força que impera no ser humano e o faz pecar é a vontade de ganhar sempre. É a intencionalidade, o individualismo, o lucro individual, o prazer, a fama, o elogio. É isso que impulsiona os seres humanos a pecar. Muitos vão a centros, igrejas e templos e ouvem belas palavras sobre a vida dirigida para alcançar o bem celeste. Saem dali convictos de que o que foi ouvido é importante e prometem a si mesmo que a partir do dia seguinte vão colocar em prática o ensinamento… Mas, na primeira oportunidade onde eles possam perder alguma coisa, esquecem o que ouviram e agem egoisticamente.
Isso ocorre porque o sentimento de buscar o bem celeste é envolvido pela prakriti, pela lógica do raciocínio. Os gunas criam uma historia para justificar o seu individualismo e você acredita nela. Por exemplo, eles dizem: ‘se aquela pessoa faz o que quer, então eu vou fazer o que quero também’; ‘não posso aceitar que alguém passe por cima de mim (me contrarie), porque eu sei que estou certo’. As idéias que os gunas criam estão sempre voltadas para criar uma defesa do eu material, do ego. Por causa disso eles não lhe deixam ser apontado como errado. Mesmo que você tenha errado, os gunas inventam idéias alternativas que afirmem que você não é o errado.
Mas, se errou, qual é o problema de alguém saber que fez errado? O problema é que amanhã vão lhe criticar, você pode perder a sua fama (ser considerado o certo) e você vai sofrer com isso. Por isso parecem válidas e certas as idéias que justificam sua ação. Você prefere acreditar nelas porque elas não lhe levam a perder, ter desprazer, receber a infâmia nem a crítica. Elas mantêm para você mesmo a ver-se como bonzinho, maravilhoso e com isso não assume a culpa.
Saiba de uma coisa: o lhe impele a pecar o individualismo. Você quer ganhar sempre e o mundo que se dane. Enquanto houver o desejo, ou seja, a condição para ser feliz, você vai sofrerá. Deste sofrimento nascerá a frustração, a desilusão. Como o sofrimento, a frustração e a desilusão são ações contra Deus, enquanto houver padrões, desejos e vontades, você vai pecar .
Portanto, não adianta nada dizer que a partir de hoje não vai ter mais raiva, que não vai ser mais nervoso, que não vai mais ficar estressado. Vai ficar porque não cortou o mal pela raiz: o desejo. É do desejo que vem a ação silenciosa e implacável da necessidade de que os acontecimentos estejam dentro dos seus padrões de certo e bom. Permanecendo o desejo de nada adianta ter boa vontade, pois não chegará a lugar nenhum. O pecar, ou seja, o sofrer é conseqüência natural de se ter desejos…
O caminho para não mais pecar, então, é libertar-se dos desejos. Mas, o que é o desejo se não uma intencionalidade? Tudo que você faz porque quer é porque deseja o resultado; tudo que faz porque gosta é porque deseja o resultado. Sendo assim, é preciso eliminar o mal pela raiz: é preciso cortar os desejos. A partir do momento que não houver mais desejos, a felicidade estará sempre presente…
De nada adianta lutar contra o que o outro está fazendo. O que precisa é lutar contra o que você esperava que o outro fizesse. É isso que poderá levar você à consciência reta, à felicidade: parar de esperar que o mundo seja igualzinho ao que você quer.