Participante: posso me utilizar das coisas materiais porque vivemos em um mundo materialista, certo? Posso usufruir destas coisas sem, digamos, ter que dar um valor maior para aquilo. Certo?

Vou dar um exemplo para podermos entender melhor a sua pergunta. Será que realizando a reforma íntima você não precisará mais comer? Eu respondo: não. Agora, será que vai conseguir deixar de comer quando alcançar a reforma íntima? Novamente respondo: não.
Olha a diferença entre as coisas: você não precisa comer, mas não vai deixar de comer.
Lembre-se do ensinamento de Cristo que comentamos agora a pouco: em verdade, em verdade vos digo; quem não nascer de novo não verá o reino dos céus. Lembre-se também do que disse a este respeito: para renascer terá antes que morrer.
Sendo assim, você não tem que se preocupar em nascer de novo (parar de comer), mas sim em matar a necessidade de comer. Matar a verdade que diz que a comida é indispensável. Ao fazer isso, automaticamente renascerá e poderá ou não alcançar o não comer.
Quando falo sobre reforma íntima, as pessoas acostumadas ao mundo material se assustam e questionam-se: ‘como posso viver sem comer, sem respirar?’ Eu respondo a elas: vocês continuarão sendo o que são, mas não mais farão por obrigação ou qualquer outra intenção, mas apenas por fazer, por estar fazendo.

Participante: como é que eu vou me desprender da necessidade de possuir um veículo sendo que eu tenho que me locomover, por exemplo?

Se libertando da obrigação de que precisa de um veículo para se locomover. Para que você tem dois pés?

Participante: chegar a este desprendimento completo que o senhor fala, acho que é muito forte para nós. Acho que poderia apenas não me descabelar e pegar um ônibus quando o meu carro quebrar.

Está certo. Mas, se quando o seu carro quebrar também não houver ônibus? Irá se descabelar!
Aí é que mora o perigo: se tudo conspirar contra e houver apenas o desprendimento parcial como solução para não sofrer, o que fará? É por isso que é preciso se chegar ao máximo.
A única solução para que não sofra dentro do exemplo que deu é compreender que o ego diz que é necessário ter um carro e você não se apegar a esta necessidade.


Participante: é o ego que gera as necessidades?


Isso: é ele quem diz se você precisa ou não de alguma coisa. Cabe a você, o espírito, não acreditar na necessidade de ter ou não algo.
Só que este processo de libertação não é estático: precisa ser realizado em múltiplas etapas. É como descascar uma cebola: quando você tira uma casca, aparece logo outra.
Por exemplo: não há como se libertar da necessidade do automóvel sem antes se libertar da necessidade de se locomover, de ir a algum lugar. Acreditando que precisa ir, se não houver um carro à sua disposição ou algum meio de locomoção, sofrerá com certeza.
Portanto, a libertação não pode ser a do carro, mas antes precisa se libertar da ideia de ter que ir a algum lugar. Você, o espírito, deve alcançar o ponto de dizer: ‘se for, fui; se for, não fui’.
Para compreender bem esta ideia da existência de conceitos que dependam de outros, gosto muito do exemplo da comida. Pergunto: vocês comem legumes? Mesmo contrariando o que acreditam, respondo: não, vocês não comem legumes. Mais: o legume faz bem para o seu corpo? Continuando a contrariá-los diria que não.
Claro que vocês acreditam que o legume faz bem para o corpo físico, mas se prestassem um pouco mais a atenção às coisas, veriam que não é o legume que faz bem.
Por exemplo, a cenoura. Por que se come cenoura? Porque ela faz bem para a pele e para os olhos? Mas, é a cenoura que faz bem à pele ou são as vitaminas que estão dentro dela?
As vitaminas, não? Portanto, o que faz bem ao seu corpo não é a cenoura, mas sim a vitamina que ela contém.
Se isso é verdade, não precisam comer cenoura: basta ingerirem as vitaminas que terão o mesmo resultado.

Participante: mas, precisamos da cenoura para obter as vitaminas.

Não. Os homens vão para o espaço e levam cápsulas de vitaminas. Eles não precisam da cenoura, ou seja, eles são libertos da necessidade de comer uma cenoura.
Então, vocês podem tomar a vitamina em cápsulas. Por que não fazem isso? Porque a cápsula não tem nenhum sabor.
Repare bem. Na alimentação humana existem dois aspectos: a obtenção do que é necessário para o corpo e o prazer de comer algumas coisas.
Aí está o que assusta vocês quando se fala de ideias como a não existência da necessidade de comer: a perda do prazer de saborear determinado paladar. Ou seja, o apego às percepções, materialismo. É por isso que vocês não abrem mão da necessidade de comer: pelo prazer de perceber um determinado paladar.
Mas, o que é o sabor da cenoura e o prazer de senti-lo? Percepção gerada pelo ego para poder lançar o sentimento de prazer para que o espírito possa, então, promover a sua reforma íntima, ou seja, não se apegar a ele.
Agora ficou claro? Mas, não para por aí.
Será que as vitaminas possuem determinadas propriedades, que vocês imaginam que contribuem para a melhoria da sua saúde? Acho que não, e Kardec também:

“Atribuir a formação das coisas à propriedades íntimas da matéria seria tomar o efeito pela causa, porquanto essas propriedades são, também elas, um efeito que há de ter uma causa” (O Livro dos Espíritos – comentário à pergunta 7).

As vitaminas, portanto, para mim, Kardec e o Espírito da Verdade não constitui nada. Não são as propriedades íntimas destas vitaminas que dão saúde, já que essas propriedades são, também, um efeito. Portanto, o que dá saúde é a mesma coisa que confere às vitaminas essa ou aquela propriedade. Ainda falar no que é essa causa única de todas as coisas.
Só pelo que falei até aqui, creio que vocês já têm uma noção de que as suas ideias sobre as coisas do mundo espiritual não são reais, mas vamos comentar mais alguns detalhes.
Falei muito em vitaminas e disse da crença de vocês sobre a necessidade delas para o corpo humano. Agora pergunto: o que é uma vitamina? O que são as vitaminas a, b, c, d ou e? Fluido cósmico universal.
Sim, as vitaminas são apenas percepções geradas pela parte técnica do ego quando este percebe o fluido cósmico universal em determinada combinação. Isso são as vitaminas, mas, será que alguma coisa deste mundo não é isso também? Não, tudo o que existe neste mundo é fluído cósmico universal percebido de forma diferente pelo ego, inclusive o corpo humano.
A partir disso pergunto: será que o fluído universal percebido como corpo humano precisa do fluído cósmico universal percebido como vitamina? Se me responderem que sim eu insisto: para quê? Para que você precisa uma coisa dentro dela mesma? Que alteração isso pode causar?
Continue analisando a partir da ideia de que tudo é fluído cósmico universal percebido de forma diferente pelo ego.
Se as vitaminas que vocês acreditam precisar são apenas fluído cósmico universal, pergunto: será que elas só estão em determinados elementos? Não, elas estão no universo. O ar, a atmosfera do planeta é fluido cósmico universal. Sendo isso verdadeiro, diria que vocês poderiam conseguir as mesmas vitaminas apenas respirando, o que dispensaria ter que comer a cenoura.
Poderiam buscar as vitaminas na atmosfera, mas não sabem como fazê-lo. Não sabem por quê? Porque estão aprisionados ao ego que diz que se não comerem cenoura, não terão determinadas propriedades.
Por causa de tudo isso que falamos, insisto no ponto que venho tocando constantemente nesta conversa: você, o espírito, precisa começar a dizer ao ego que não acredita que é preciso comer. Não falei em não comer, mas sim em se libertar da necessidade, da obrigação que a personalidade humana cria a partir dos seus conceitos.
Com isso, o espírito vai se libertando da programação do ego até que um dia não mais se sinta obrigado a comer. Neste momento, quando o ego criar determinada sensação, o ser universal pode não vibrar neste padrão sentimental.
Já o espírito que acreditar que precisa mudar o ego tentará alimentar-se de ar, mas não conseguirá. Mesmo que conseguisse, isto não poderá ser considerado como uma vitória sobre nada, já que a alimentação pelo ar não é executada pelo espírito, mas sim uma criação da parte técnica do ego que gera todas as formas e percepções da vida humana.