26. Todavia, ó tu de braços poderosos! Se pensas que este ser a todo momento nasce e morre, mesmo assim não deverias afligir-te por isso.
27. Pois, para aquilo que nasce, a morte é certa e inevitável, e para o que morre, o renascimento é coisa certo. Não te lamentes, portanto, pelo que é inevitável. (Bhagavad Gita)
Estes dois textos nos levam novamente ao assunto morte.
Outro dia falamos desse tema a partir da visão espiritual (o ser não morre). Mas, vamos supor que existisse morte, vamos imaginar que existisse morte como os humanos querem que exista…
Por que evitá-la? Um dia todos morrerão inevitavelmente… Um dia todos deixarão de ser a identidade que estão vivendo hoje… Um dia todos sairão da carne, morrerão… Isso é inevitável.
A partir desta constatação da inevitabilidade da morte, faço três perguntas; para que se preocupar com isso, por que viver com medo dela, por que buscar atrasá-la?
Antes de continuar quero deixar bem claro que não estou falando em suicídio em massa. Não estou falando em adiantar a morte, mas em não querer atrasá-la…
De que adianta viver preocupado em atrasar a morte se, como já vimos em outros ensinamentos, você morrerá na hora que tiver que morrer.
“Assim, qualquer que seja o perigo que nos ameace, se a hora da morte ainda não chegou, não morreremos? Não; não perecerás e tens disso milhares de exemplos. Quando, porém, soe a hora da tua partida, nada poderá impedir que partas”. (o Livro dos Espíritos, pergunta 853a)
Então, não adianta lutar para afastar a morte para depois, porque você morrerá na hora que tiver que morrer. Não existe como adiar esta hora…
Além do mais, morrerá do jeito que Deus já sabia que ia morrer… Não adianta querer alterar isso…
“Deus sabe de antemão de que gênero será a morte do homem e muitas vezes o espírito também o sabe, por lhe ter sido revelado, quando escolheu tal ou qual existência”. (idem)
A partir destes ensinamentos, pergunto novamente: para que esta busca desesperada de fugir de uma coisa que tem data, hora e forma marcada? Para que o culto ao corpo se ele no melhor estado que esteja – vamos fingir que você possa melhorar o estado do corpo – no dia pré-acertado vai parar?
Volto a dizer: não estou dizendo para se entregar à morte, mas perguntando para que a preocupação com ela…
Imortalidade vocês sabem que não existe, não é mesmo? Então, por que esta busca e preocupação em estar saudável? Esta é uma pergunta que eu gostaria que respondessem, pois é esta busca que lhes faz sofrer. É o desespero e a angústia de querer a cada dia atrasar mais a morte que lhes faz sofrer…
Esta busca lhe cria um estado permanente de tensão… “Hoje tenho que fazer a minha caminhada; tenho que tomar meus remédios”… Por que isso? Será que se não caminhar hoje irá morrer amanhã do coração? Não irá, a não ser que o amanhã seja o dia pré-determinado para o coração parar. Mas, se for, de que adiantou caminhar hoje? Será que a sua caminhada pode mudar o que Deus, o Onisciente, já sabia?
É isso que Krishna está ensinando a Arjuna…
Volto a repetir: não estou dizendo que é para viver a vida buscando a morte, mas sim vivê-la livre da morte. É muito diferente…
Uma coisa é agir naturalmente, outra é agir obcecadamente em um sentido. A vida vivida em perseguição do estender a vida, além de ser sofrida, é – vou usar a palavra que Krishna usa – uma atitude idiota. Por quê? Porque a sua obsessão não acrescentará um segundo a sua vida…
Por isso Krishna incita Arjuna a ir lá e cumprir o seu dever devocional.