Evangelho de Tomé – Logia 105
“105. Disse Jesus: Aquele que conhece pai e mãe será chamado filho de uma prostituta”.
Irmãos!
Para os menos atentos nos ensinamentos de Cristo, a frase acima pode conter uma grave acusação. Temos que ter sempre, porém, como base para compreender os ensinamentos deixados pelo Mestre, a sua ação do amor.
Baseado nesta verdade narrada por João (Verbo), Cristo não poderia, nesta Logia, estar fazendo uma acusação a uma mãe material. Além disso, basta lembrarmos dos gestos que Ele teve, jantando com as prostitutas ou do tratamento dispensado a Maria Madalena, que toda a acusação aparentemente pressentida neste ensinamento se acabará.
Prostituta é aquela que, em nome de uma felicidade material, vende aquilo que lhe é mais caro: sua intimidade. É neste sentido que Cristo afirma que aquele que reconhece em um ser humano a sua origem, será filho de quem se “vende” para obter este tipo de felicidade.
O ser humano é um “prostituto”, pois vende o que lhe é mais caro, sua felicidade universal, em troca de uma satisfação pessoal. Troca toda paz e harmonia que pode viver para poder ter o “poder” de dizer quem está “certo” ou “errado”; extingue sua própria felicidade apenas para sofrer o sofrimento dos outros e acaba com a sua tranqüilidade quando tem medo de Deus não lhe dar o que ele quer no futuro.
Isto é uma “prostituição”, ou seja, a venda de sua própria intimidade (vida espiritual) em troca de uma satisfação que é efêmera.
Para que um ser não se prostitua, é preciso que ele passe por situações de sofrimento sem sofrer, ou seja, sem vender a sua felicidade universal.
Cristo nos ensinou que existem dois caminhos para serem percorridos em uma vida: a estrada larga e a estrada estreita. A estrada larga é aquela que é mais fácil de ser percorrida, porque o ser não precisa alterar suas atitudes. A estreita é quando o ser busca a vigilância para que sua vida seja compatível com a oração que pronuncia.
O ser humano busca a estrada larga. Não coloca Deus como Causa Primária de todas as coisas e vive apenas para o que lhe convém, o que ele acha “certo”, “bom” ou “bonito”. Não compreende que, desta forma, fere os demais participantes do Universo. Mas, mesmo que compreenda, não se importa, pois o que lhe interessa é que sua “vontade” prevaleça sempre.
Quando o ser compreender que ele é filho de Deus, deixará de se “prostituir”, pois compreenderá e sentirá a grandeza que é participar desta universalidade.
O caminho estreito, no entanto, nunca será vencido com inércia: é preciso que se caminhe nesta estrada para que se alcance o fim. Isto quer dizer que o espírito deve agir sobre os acontecimentos, e não esperar que Deus lhe provenha com tudo o que precisa.
É muito sutil a diferença entre as duas coisas (estrada larga/estrada estreita) e, inclusive, à primeira vista, pode parecer que não há diferenças entre elas.
Acreditar que Deus é a Causa Primária de todas as coisas não significa que o ser não precise trabalhar para merecer, mas sim que o resultado do trabalho será determinado por Ele, e não pela vontade do ser.
O espírito que se “prostitui” é aquele que se imagina capaz de determinar o resultado de seu trabalho e, para que este aconteça dentro do seu “querer”, é que ele oferece a sua “intimidade” (a felicidade na vida espiritual).
Vejamos um exemplo: um ser precisa fazer uma prova, quer seja escolar, concurso ou qualquer outro tipo de averiguação de conhecimentos. Isto parece um ato simples e corriqueiro, mas envolve diversos aspectos da vida espiritual e material.
Inicialmente, vejamos a questão “necessidade” da aprovação. O ser determina que só será feliz se conseguir a aprovação na prova. Isto é uma vontade do espírito e é um “caminho largo”. O “caminho estreito”, neste caso, é buscar o raciocínio de que, se for de seu merecimento ou necessidade, Deus comandará sua aprovação.
Enquanto o ser estiver fixo na concepção de que tem que passar, só alcançará a felicidade se isto acontecer. Se ele tiver Deus como sua Causa Primária, aceitará o resultado final seja ele qual for, como sendo um resultado justo (Justiça Perfeita) e merecido (Amor Sublime).
Muitas vezes, um ser humano não aprovado em determinada prova (verificação de conhecimentos) compreende posteriormente que o Pai havia reservado um futuro “melhor” do que aquele.
O ser espiritual, porém, não se questiona se deve ou não fazer a prova. Ele compreende que o pensamento (vontade) de fazer lhe foi dado por Deus e trabalha no sentido de se preparar para ela. O ser humano, depois de passada a euforia inicial (satisfação material) pelo medo da não aprovação, começa a ter medo de enfrentar a averiguação e, mesmo quando enfrenta este medo e continua a sua preparação, teme que o resultado não seja o esperado. Este temor (medo) se caracteriza pela perda da felicidade universal em troca do sofrimento da angústia e é gerado pela ausência da confiança em Deus, na sua Justiça e no seu Amor.
Independentemente da auto visão que o ser tenha (humano ou espiritual), ele precisa “trabalhar” para merecer a aprovação, ou seja, estudar. A diferença é que o ser espiritual trabalha sem sofrimentos ou angústias, enquanto que o ser humano se preocupa com o que acontecerá no futuro. O ser espiritual reconhece que este futuro será sempre justo e amoroso e confia em Deus como seu verdadeiro Pai (fé). O ser humano, por não ter fé, quer, através do seu sofrimento, mostrar a Deus o que é melhor para ele…
A fé é o “caminho estreito” que o Cristo nos ensinou. Para vivê-la, é necessário abrir mão da satisfação material vivendo feliz sempre, sem se importar com os acontecimentos.
Este é o sentido da mensagem que quero deixar aqui: seja sempre feliz. Nunca comercialize esta felicidade em troca de favores pessoais.
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