Há 15 anos nós vimos conversando com vocês. Ao longo desse tempo, muitas coisas aconteceram nesse planeta, algumas de repercussão mundial. Durante esse tempo nós nunca nos negamos a comentar esses acontecimentos de expressão mundial. Foi assim com os aviões nas torres, foi assim com as ondas gigantes, com os trens da Espanha, com as crianças na escola da Rússia… sempre comentamos esses acontecimentos.
No entanto, durante esses comentários nós nunca analisamos atos, fatos, acontecimentos… sempre aproveitamos essas ocorrências para delas tirar algum ensinamento que pudesse nos ajudar no sentido da promoção da reforma íntima, no sentido do aproveitamento da encarnação. É assim que vamos também começar agora o acabou de acontecer na França: os acontecimentos de terrorismo.
Vamos falar sobre eles, vamos conversar sobre o que aconteceu, mas não presos a analisar ou a julgar atos, mas sim aproveitar para extrair deles algum ensinamento para a elevação espiritual.
Isso é importante, porque atrás de todo acontecimento existem sempre posturas emocionais, e essas posturas são o que importa para a questão da elevação espiritual. Portanto, vamos analisar algumas posturas emocionais que foram vividas nesses acontecimentos.
Antes de qualquer coisa, deixe-me só lembrar: não existe certo ou errado, nem no tocante as emoções que são vividas pelos seres humanos não existe o certo ou o errado, existe a opção. Aquela postura foi uma opção de algum espírito e por isso não está certo nem errado. Portanto quando falarmos das posturas que alguns elementos envolvidos neste acontecimento tiveram, não estamos julgando, estamos aproveitando a vivências deles para extrair alguns ensinamentos que possam nos ajudar a viver a vida humana de uma forma diferente do que vive a maioria.
Toda essa história começou porque algumas pessoas julgaram-se no direito de falar o que querem. Julgaram-se no direito de se expressar do jeito que querem. Foi o caso dos que faziam os desenhos, eles achavam que tinham o direito de falar o que quisessem, pouco importando o que aquilo que eles diriam estavam ofendendo ou magoando alguém. Para justificar esse direito, esses moços, e agora e a humanidade como um todo usam o argumento: liberdade de imprensa. Ou seja, usam a liberdade de expressão como argumento para fazer o que quer.
Mas será que realmente a liberdade pode lhe dar esse direito? É esse aspecto que quero conversar com vocês, o resto: os desenhos em si, as coisas que eles fizeram, o ato dos outros que mataram, tudo o que aconteceu é vida, é carma, é prova e missão de espíritos, por isso não vou analisar esse aspecto, vou me atentar a essa questão da liberdade de usar o seu direito.
Esse é um ponto fundamental para aqueles que querem aproveitar a encarnação. Por quê? Porque não podemos nos esquecer que Cristo ensinou que o resultado maior de uma encarnação é alcançada quando se ama a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Esse é o objetivo da vida daquele que quer aproveitar a sua encarnação: amar a tudo e a todos. Será que a liberdade de usar o seu direito indiscriminadamente está de acordo com esse amor? ou fere ele? Vamos ver…
Antes mais um aviso… “Joaquim você sempre falou que nós temos que viver em uma liberdade irrestrita”. Sim você precisa alcançar uma liberdade irrestrita, mas a sua liberdade precisa estar subordinada ao amor ao próximo. Você precisa sentir-se livre de tudo e de todos, sentir que possui o direito de ser, estar e fazer o que você quiser, mas de posse dessa liberdade você precisar pensar: será que se eu usar a liberdade que tenho vou ferir alguém? Porque se você não tem esse pensamento que se funda no direito de agir contra o outro em nome dessa liberdade você não amou e se não amou essa liberdade foi fundamentada no egoísmo, e cada vez que você não ama você é egoísta.
Então eu sempre disse que você precisa alcançar a liberdade irrestrita, mas ao alcançá-la precisa usá-la com responsabilidade. Não uma responsabilidade humana, não uma responsabilidade no sentido de construir algo ou destruir algo, mas usá-la com a responsabilidade sobre o amar, usá-la subordinando-a ao amor. E quando essa liberdade não se transforma numa expressão do amor, não amou, mesmo sentindo-se livre você deve não viver determinadas emoções.
Como eu disse, esses moços acharam-se livres para fazerem o que quiser, em nome dessa liberdade fizeram desenho insultando o profeta Maomé. Ora, o que é o profeta Maomé para os muçulmanos? o que representa para os muçulmanos a figura do profeta Maomé? Um santo, um mestre, uma entidade(…). Sabe, é quase vamos dizer assim, já que a religião muçulmana não permite isto, é quase que uma santificação de uma pessoa. Lhe pergunto: você tem coisas santas na sua vida? Tem. Você tem sua mãe, você tem seus irmãos, você tem seus filhos, você tem seu pai. Alguns tem a pátria, o emprego, o carro, a casa… enfim, você possui algumas coisas que considera como santificadas na sua vida. Pergunto então: você gostaria que essas coisas importantes e santificadas na sua vida fosse alvo de sarcasmo? Fosse um elemento que fosse menosprezado por outras pessoas?
Acho, e tenho quase certeza disso, que se uma pessoa fala mal do seu filho, fala mal da sua família, fala mal dos seus pais, você se sente indignado. É exatamente como se sentiram os muçulmanos com a liberdade de usarem o direito de falar o que quiser, no caso dessas pessoas. Não sei se vocês usam para justificar isso o fato de que as pessoas que sentiram-se atacadas são do mal, são terroristas, não prestam. Mas não foram só eles que se sentiram mal, toda uma comunidade, a comunidade da segunda religiosidade mais professada do planeta sentiram-se atacados por eles, não só por causa das jocosidades do que eles escreveram, mas pelo fato de apresentarem a figura do profeta Maomé, o que para o Islã é algo inadmissível e todos aqueles que possuem um pouco mais de conhecimento sabem disso.
Então não se trata aqui da liberdade de fazer o que quer, mas se trata aqui da liberdade usar algo que vai ferir os outros e usar esse algo de uma forma premeditada. Veja como mudou a situação, não se trata mais de um jornalista usando a sua livre expressão, mas de pessoas usando elementos para atacar premeditadamente aqueles que eles não gostam. Essa é a questão que precisa ser repensada por vocês, não para não julgar quem matou, se você julgou, julgou, o acontecimento é o ato, isso não tem importância, mas para acabar com a ideia de que tudo pode ser feito em nome da liberdade. Não. Como Paulo dizia, você pode fazer tudo, mas nem tudo que você pode fazer é bom para você.
Você é livre para sentir e agir do jeito que você quiser, mas nem toda sua ação é boa para você. É isso que quero conversar com vocês, como disse não vou me atentar a fatos, a atos e não vou entrar no caso do terrorista ter matado, ou isso ou aquilo, quero que vocês pensem sobre essa liberdade, sobre como usar essa liberdade que vocês têm.
O que significa amar o próximo? Amar o próximo é acima de tudo respeitá-lo, é acima de tudo cuidar e ter atenção com ele. É isso que você precisa ter ao usar a sua liberdade, avaliar o respeito ao outro, avaliar o cuidado com o outro, sem isso a sua liberdade nada tem a ver com o amor, mas é uma expressão do egoísmo. Cuidar do outro, preocupar-se ou ocupar-se com o outro, o que seria? Já disse ao longo dos últimos estudos que ninguém pode ferir ou magoar o outro, então cuidar do outro não é simplesmente não querer ferí-lo, até porque você pode fazer alguma coisa sem a menor intenção de ferir e acabar ferindo. Então a preocupação ou ocupação do próximo não tem a ver com não ferí-lo, tem a ver a não querer transformar-se em instrumento onde o outro pode se ferir. Vamos tentar dar o exemplo disso, uma vez eu disse para uma pessoa: você briga com a sua esposa? Ele disse “não, é ela que briga comigo e quando ela briga comigo eu tento ensinar a ela o que eu aprendi com você, Joaquim, para que ela não sofra”. Eu respondi: você briga sim, e vou lhe dá o resumo: a sua esposa é uma esposa que gosta da casa arrumada, ela quer ver todas as coisas no lugar, não gosta de nada espalhado, jogado. Não é isso? Ele disse “é”. E quando você chega em casa e tira a blusa e joga em cima do sofá, ela sofre, não sofre? “Sim, mas ela precisa entender que não existe lugar para as coisas”. Eu disse para ele: você nunca vai ensinar isso a ela. Não é deixando a blusa fora do lugar que você vai ensinar isso a ela, na verdade você não está nem aí para ela, na verdade você esta brigando com ela com tira a blusa e joga em cima do sofá.
Essa é uma verdade, quando nós, premeditadamente, ou sem preocupação faz aquilo que quer, em nome de nossa liberdade, ou até em nome do que acreditamos, estamos proporcionando uma oportunidade para o outro sofrer. E este proporcionar nada tem a ver com o amor, mesmo que o ego, a razão lhe diga que você está querendo ajudar o outro. Não está. O que está acontecendo é que você se transformou no instrumento para que o próximo vivencie uma situação de sofrimento.
Aí vocês me perguntariam outra vez, “ora Joaquim, você sempre disse que todos nós temos provas e missões, e nossa missão é aquilo que fazemos para os outros, então eu precisava fazer aquilo”.
Não, não precisava. Podia fazer. Queria fazer, mas não precisava internamente ter essa emoção, ou sentimento, ou sensação de que você tem o direito de fazer tudo e que o outro precisa compreender que tudo que você faz é certo e livre. É a isso que estou me referindo, largar a camisa em cima do sofá é ato, isso vai acontecer, pode acontecer. Agora ao largar a camisa em cima do sofá, ao sentir-se livre em largar a camisa em cima do sofá você precisa parar e pensar: será que estou fazendo isso por amor ou será que estou querendo fazer porque acho que tenho o direito de fazer? Será que se eu fazer isso não vou estar contribuindo para que a outra pessoa sofra?
Isso é um detalhe que podemos usar desse acontecimento para poder aprender um pouco mais na questão da elevação espiritual. Os moços que desenharam poderiam ter feito a caricatura de qualquer árabe, de qualquer ser humano que siga a religião muçulmana, mas não, eles foram atingir a toda uma comunidade em algo que é sagrada e santificado, e mais, foram atingir premeditadamente, sabendo o que aquilo proporcionaria para que os outros vivessem.
Isso é o que eu tenho passado para vocês quando se fala de Sangha, ressentimentos aconteceram, problemas em todas as nossas comunidades, e sempre respondi quando perguntado sobre esses problemas, faltou amor. Sabe, as pessoas estão preocupadas com a sua liberdade, no direito de falar o que quer, de ser o que quer, e não estão nem o pouco preocupada com o direito do outro de não ouvir o que você quer falar, com o direito do outro pensar diferente de você.
É isso que quero alertar vocês e para isso isto estou aproveitando, relacionar-se com o outro vivendo essa relação com o amor universal, faça pela preocupação e ocupação de como o outro vai receber o que você se acha no direito do que vai falar. Faça pela preocupação e pela ocupação de ver o quanto aquilo que você quer fazer pode ferir o próximo. Claro, o ato de acontecer ferimentos vai surgir, mas se surgirem, se acontecerem, depois que você teve essa preocupação e ocupação, já não houve um premeditado, já não houve uma intencionalidade de ferir. Justamente a essa não ocupação mostra a intencionalidade de ferir, que está no ego e que você vive, mesmo dizendo estar apenas exercendo o seu direito de falar o que quiser, de fazer o que quiser.
Sei que, humanamente falando, eu sou uma voz dissonante dos últimos acontecimentos. Milhares de pessoas, ao redor mundo, se juntaram para louvar aqueles que atacaram o islamismo. Está certo, sou uma voz dissonante, mas pergunto: quantas vezes Cristo atacou os Romanos? Quantas vezes Krishna atacou aqueles que eram contra os seus ensinamentos? Quantas vezes Buda defronta aqueles que não seguiam o que ele falava? Nenhuma vez, porque eles amaram. E aqueles que amam, não se preocupam em não atacar ninguém, eles tem cuidado no relacionamento com outro para não ferir nem magoar ninguém. Claro, acabaram ferindo, acabaram magoando, mas não houve essa intenção. É essa questão da intencionalidade que leva aqueles que respaldam na sua liberdade de exercer o direito de ser, estar e fazer sem se preocupar ou ocupar com que o outro está sentindo ou pode vir a sentir, que acaba com qualquer santidade, com qualquer valor de certo ou bom daquilo que é seu, não é o próprio ato. O ato como falamos é vida, é prova, é missão, é carma dos envolvidos, e por isso, apenas o Senhor dos carmas pode decretar o que vai acontecer.
Só mais um detalhe, não sei se vocês se lembram quando ao longo de muitas conversas falamos em “universalisar-se” em tornar-se universal. E disse, univesalisar-se é tornar-se “um com o outro”. Como você quer ser “um com o outro” se não se preocupa e se ocupa no que é importante para o outro. Como você quer se universalisar com alguém se você ainda coloca aquilo que você acha, quer e julga que tem o direito de ser, estar e fazer acima do próprio bem estar do outro. É algo interessante para repensarmos e pensar.