O Livro dos Espíritos – Pergunta 934
A perda dos entes que nos são caros não constitui para nós legítima causa de dor, tanto mais legítima quanto é irreparável e independente da nossa vontade?
Essa causa de dor atinge assim o rico, como o pobre: representa uma prova, ou expiação, e comum é a lei. Tendes, porém, uma consolação em poderdes comunicar-vos com os vossos amigos pelos meios que vos estão ao alcance, enquanto não dispondes de outros mais diretos e mais acessíveis aos vossos sentidos.
O que é a morte de um parente?
Participante: uma prova, ou expiação.
Isso.
Se é prova, não pode ser razão de dor. Só sofre com a morte de um parente aquele que não ama a Deus acima de todas as coisas e, principalmente, aquele que não ama o próximo.
Qual o melhor momento da vida humana para o espírito?
Participante: eu não me lembro …
A morte, o momento da libertação, de retomar a sua consciência, da volta a pátria espiritual. Se amo o meu parente e creio no mundo espiritual, deveria ficar feliz por ele está se libertando da vida, da ilusão, das suas provas.
Por isso, a morte ou a separação dos entes queridos não é de ordinário motivação para sofrer. Na verdade, só é para aquele que não ama, mas possui. É motivo de sofrer para aquele que gostaria que seu parente vivesse eternamente, mesmo que isso não fosse o ideal para o espírito.
Não há motivos para se sofrer nesse mundo, nem aquele que vocês é o mais digno e justo: a morte de um ente querido. Tudo, tudo que acontece na sua vida é uma prova para verificar o quanto você está centrado no egoísmo, no querer para si, no amar a si acima de Deus e dos outros.
Participante: somos na verdade egoístas e não queremos sofrer com a ausência da pessoa querida.
Não sei se é não querer sofrer com a ausência dos outros. Como estudamos aqui, todo sofrimento é uma opção individual: o ser opta por sofrer. Por isso, acho que sofre porque quer sofrer, apesar de dizer que não.
Acho que o egoísmo não está em não querer a ausência das pessoas, mas sim em prende-las a nós para nossa satisfação, mesmo que seja acima do que é melhor para ela.
Essa possessividade não existe só na morte, mas a mulher que se separa do marido e sofre por causa disso está agindo da mesma forma. O pai ou a mãe que fustiga o namoro da filha ou do filho, querendo que eles terminem, é a mesma coisa. Aliais, como disse agora pouco, o problema não é o que acontece, mas sim o que você queria que acontecesse.
Participante: o amor liberta e o individualismo segura.
Perfeito.
Só vou complementar o individualismo é o amor a si. O amor que você se refere é o universal. O amor universal livre de individualismo liberta. O amor individualista, o querer para si, aprisiona, não só a outros espíritos ou as outras coisas.
Mais um detalhe. Na verdade não aprisiona, mas luta com quem se livra da prisão. Afirmar que ele aprisiona seria dizer que ele tem condição de manter o ser preso. Isso não existe. O amor individualista gera o desejo de aprisionamento, mas não o aprisionamento em si.
Participante; Joaquim no final da resposta está escrito assim: “Tendes, porém, uma consolação em poderdes comunicar-vos com os vossos amigos pelos meios que vos estão ao alcance, enquanto não dispondes de outros mais diretos e mais acessíveis aos vossos sentidos.” A minha pergunta é: quando esses meios mais diretos e acessíveis estarão a nossa disposição para esse contato e a gente não sofra com essa ausência física?
Quem nasceu primeiro o ovo ou a galinha?Participante: o senhor deve saber, eu não sei.
Os meios para comunicação direta com os mortos surgirão quando você não tiver mais o sofrimento.
Participante: não entendi.
Se você chora a morte do seu filho, não vai encontra-lo nunca. Sabe porquê? Porque não passou na prova! Primeiro detalhe. Segundo detalhe: não vai encontra-lo nunca porque não quer. O que quer é chorar a perda.
O contato com o mundo espiritual diretamente, sem ser através de médiuns, é extremamente possível hoje, como era ao tempo de Kardec e como foi ao longo da história da humanidade. Só que para isso é preciso primeiro o ser procurar o espírito e não o parente. O parente era o personagem dessa vida e morre com a morte. Essa é a primeira condição. Segunda: o ser encarnado também deixar de se ver como o personagem que imagina ser, ou seja, deixar de acreditar no que o ego diz.
Quando você for igual a quem já saiu da carne, pode percebê-lo. Mas, enquanto achar que precisa de um corpo para ver sua mãe, para saber que falou com ela, não vai conseguir.
Então, os meios para esse contato não serão alcançados: eles já estão à disposição da humanidade. São vocês que não os utilizam.
Participante: o querer, a posse, é do ego ou é do espírito?
O querer, a posse, é criado, gerado, pelo ego. O espírito que se subordina à personalidade humana acredita no querer, na posse, sofre com o sofrimento da posse não contentada.
A posse materialmente falando, o raciocínio possessivo é criado pelo ego, o espirito que aceita isso como real embarca na onda do ego.