Participante: Quando tenho fome, como; quando tenho sede, bebo; esta é toda a realidade?


Não. Quando você tiver fome, não coma: apenas tenha fome. Agora, quando estiver comendo, aí sim pode comer. Quando tiver sede, tenha apenas sede. Quando for beber água, beba-a.
Você não pode viver a fome com a presunção de comer, pois pode não ter nada para comer. E se isso acontecer? Dor, sofrimento é o que você viverá.
Não pode viver a sede com a presunção de beber água quando se está com sede: é preciso se viver cada presente isoladamente com o que ele proporciona. Se o presente agora é ter fome, viva a fome. No momento seguinte pode ser que você se levante e consiga comer. Neste momento pode dizer que está comendo, mas não antes. Não dá para viver presunções, probabilidades sem que realmente aquilo esteja acontecendo.
O problema é que vocês acham que comem quando querem, mas esquecem que isso é ato da vida. Vocês não comem nada: a sua vida num determinado momento é um comer. Se ela não fosse isso, vocês não estariam comendo.
Não estou falando da ação comer; falo de viver a vida, que é aquilo que está acontecendo. Só quando a vida for comer é que você estará comendo. Por mais que queira comer, enquanto ela não for comer, não estará comendo.
Eu vou dar um exemplo: você está num lugar que não pode sair; numa reunião com o seu chefe no trabalho, por exemplo. Não pode sair e está morrendo de fome. É hora do almoço e o seu chefe não fala nada em ir almoçar. Você vai colocar o dedo na cara dele e dizer que acabou a reunião porque está com fome?
Claro que não vai. Só que continuará a ter fome e por isso sofrerá. Este sofrimento vai lhe levar a desconcentrar-se e, por isso, nem vai ouvir o que o seu chefe está dizendo. Sem saber o que ele disse, não fará o que ele espera. Aí, perde o emprego.
Neste momento, você o acusa de não ser justo. Mas será que isso é verdade? Será que ele não foi justo ou você estava vivendo a presunção de comer e nem ouviu o que tinha que fazer?
Vou dar mais um exemplo: alguém me deu um pito. Isso é raciocínio? Não. O dar é vida. Por isso posso dizer que a vida me deu um cigarro. O gesto daquela pessoa que me deu o cigarro é a vida dela. Pegar um cigarro e me dar é a vida e não ele quem faz.
Agora, enquanto ele me dá o cigarro tem que viver exatamente isso, sem saber por que está me dando, para que está me dando, como vai dar ou se poderia estar deixando de dar.
A vida é o que acontece enquanto você pensa no que está acontecendo.
O trabalho da felicidade é vivenciar o que acontece sem presumir mais nada sobre o que está acontecendo. Quando falo assim, estou abordando a questão do assistir a vida. Já falei em assistir a vida há tanto tempo e vocês disseram que tinham entendido o ensinamento, mas estou vendo que não.
Assistir a vida é viver o momento de agora sem presumir nada.