A primeira visão do plano espiritual negativo pelos encarnados foi a do “inferno”.
Lugar de terríveis sofrimentos, com fogos eternos, o “inferno” servia para toda eternidade como morada dos espíritos que, na carne, não seguissem as leis de Deus. Através do medo, do temor, os “senhores da lei” de então, buscavam fazer os espíritos executarem a lei de Deus.


Posteriormente, Allan Kardec veio mostrar um “inferno” diferente, que ele chamou de umbral.
Para Kardec, o umbral era um lugar de passagem para os espíritos, que ali permaneceriam por determinado tempo, que não praticassem a lei de Deus. O tempo de permanência do espírito no umbral durava até que ele pagasse a sua pena.
Neste período haveria sofrimentos atrozes para aqueles que para ali fossem conduzidos, pois não poderiam entrar diretamente no plano espiritual positivo. Esta visão já atualizava um pouco o conhecimento sobre o plano espiritual negativo, mas ainda mantinha o medo desta represália como motivação para o cumprimento da lei de Deus.
A diferença entre o umbral e o inferno está apenas na periodicidade que os espíritos ali permanecem. Nas duas visões, o plano espiritual negativo serve como local para expurgar os atos negativos (“maus”) através do sofrimento (punição).
Todas as duas visões são figuras criadas com base no sistema penal (penitenciárias) do mundo carnal para onde os espíritos são levados com fins punitivos.
Mesmo no mundo material, no entanto, não deveria ser esta a função da “penitenciária”. O sistema penal não deveria buscar punir o indivíduo por seus erros, mas sim procurar, com o cerceamento da liberdade, levar o ser humano à compreensão dos seus atos negativos (“errados”), buscando a reintegração na sociedade (regeneração).
As penitenciárias do mundo carnal não podem ser consideradas reformatórios porque o homem busca a reparação do “erro” com ódio e raiva (“olho por olho, dente por dente”) e não pelo amor, com o perdão aos erros cometidos. Mantendo até hoje esta forma de pensamento o ser humano mantém também a necessidade de aplicar este mesmo modelo à penitenciária espiritual (plano espiritual negativo).
Agora que os tempos estão mudando e novos ensinamentos explicitam a essência dos atos levando o ser humano a descobrir as energias positivas do universo, deve ele também alterar a real função do “inferno” ou umbral.
O caráter reformador que deveria ter a penitenciária material é o que deve ser aplicado à penitenciária espiritual e não o objetivo punitivo. Nesse local os seres não devem pagar penas, mas sim buscar a regeneração de seus atos.
A literatura espírita pós Kardec está repleta de exemplos que embasam esta finalidade. Espíritos permanecem no umbral até que em um determinado momento conseguem visualizar seus atos negativos. Quando isto ocorre, pedem perdão a Deus (regeneração), sendo neste momento atendidos e retirados de lá.
Esta é a função do umbral: regenerar e não penalizar. Espíritos em passagem transitória no umbral passam por situações que não desejariam não como forma de compensação aos “magoados” e sim pela Providência Divina que dá a situação negativa como aviso de “erros” cometidos. Enquanto o espírito sofrer nas situações não terá compreendido a sua “falha” e não poderá sair do umbral; quando conseguir compreender que apenas está passando pelo que causou a outros, estará no caminho da regeneração e será socorrido.
Seja na carne ou em qualquer outra densidade que o ser habite, a situação negativa sempre vai significar que um dia ele causou situações idênticas a outros, contribuindo para que eles escolhessem a dor para reagir aos acontecimentos. Sempre que a situação negativa aparecer é Deus mostrando ao ser que suas atitudes não estão de acordo com a lei Dele.
O sofrimento não é causado por Deus como punição, mas por escolha sentimental de cada ser às situações que o Pai concede para a evolução espiritual (regeneração). Por este motivo os espíritos sofrem no umbral ou na carne.
Mesmo quando consegue a compreensão do sofrimento que levou outros seres a sentir e consegue a sua regeneração, o espírito ainda encontra-se em débito com os outros. Gerou-se, então, a necessidade da “expiação”, que, no entanto, não será executada na penitenciária espiritual.
Não é com o aprisionamento que o ser quita seus débitos com a sociedade espiritual que feriu, mas sim após alcançar a regeneração. Toda expiação acontece com o trabalho em prol da coletividade, ou seja, em nova encarnação auxiliando o próximo na sua elevação.
Este também deveria ser o sistema penitenciário dos encarnados. O ser humano que comete atos ofensivos à sociedade deveria ter cerceada a sua liberdade até que alcançasse a compreensão da chance que proporcionou aos outros para sofrerem. Depois de alcançada esta compreensão, deveria, trabalhando para a sociedade, buscar o pagamento de suas dívidas para com ela. Infelizmente não é este o proceder.
O prisioneiro não é levado, durante o período de aprisionamento, a buscar a regeneração e por isso, quando sai, volta a cometer os mesmos erros. Mesmo quando alcança a regeneração, lhe é impingido o apelido de “ex-presidiário” que o torna incapaz de trabalhar expiando as faltas cometidas e o torna uma ameaça constante à sociedade.
No universo menos denso é diferente. Primeiro não existe prazo para aprisionamento: o espírito permanece no umbral o tempo suficiente para que alcance a compreensão de seus atos compreendendo a oportunidade que proporcionou a outros espíritos de escolher sentimentos de sofrimento. Quando consegue esta compreensão ele então é libertado, ou seja, vai para o plano espiritual positivo.
Nesse plano vai para os “bancos de escola” conhecer de perto os “erros” que praticou e buscar a compreensão da lei de Deus. Quando está bem ciente de seus atos consegue a chance de uma reencarnação, quando expiará as “falhas” trabalhando em prol da comunidade universal.
A vida na carne serve como expiação, ajudando o ser a reparar os “erros” cometidos contra a sociedade espiritual que ele convive. O processo reformatório espiritual não abrange punições, mas regeneração e futura expiação com trabalhos em prol do coletivo.
Esta nova visão retira do umbral ou do “inferno” a função de pagamento de dívidas e reafirma o já informado sobre as funções da reencarnação: cumprimento de missões, prova dos conhecimentos adquiridos no mundo espiritual e expiação das dívidas oriundas dos erros cometidos na(s) encarnação(ões) anterior(es).