Participante: Se tudo está programado, ou seja, se tudo vai acontecer como tiver que acontecer, porque eu tenho que me esforçar para ir neste ou naquele caminho? Se tudo isso é um teatro, porque eu tenho que fazer alguma coisa?
Grande pergunta…
Deixe-me explicar algo: a vida humana não é uma peça de teatro, mas sim um filme. Para vocês as duas coisas não possuem diferenças, mas elas são diferentes. No teatro existe um ator atuando. Sentindo-se como participantes de uma peça vocês ainda querem ser este ator. No filme não existe ninguém vivo, mas apenas uma imagem sendo projetada.
O mundo humano não é um teatro porque não há ninguém fazendo nada: há uma imagem sendo projetada. Como os acontecimentos deste mundo fazem parte de uma filme, posso dizer que você, o espírito, não está num palco atuando, mas sentado numa cadeira na plateia assistindo um filme. Vou tentar lhe explicar isso.
Por favor, segure no seu braço.
NOTA: o participante segura o braço com a mão...
Não é isso. Eu não lhe mandei sentir o seu braço coma mão, mas pegá-lo…
Veja, porque você acha que tem um braço? Porque o vê com os olhos e o sente quando coloca a mão em cima. O que é isso? Uma percepção…
Onde surge a percepção? Na mente. Por isso digo que não foi você quem pegou o braço, mas a sua mente lhe deu a ideia de estar pegando o braço. É assim que a mente cria a projeção do cinema.
Krishna ensina que existe uma coisa chamada maya. Já afirmei muitas vezes que maya é a ilusão que o ser humano vive, mas, na verdade é a força de real que a mente concede àquilo que cria.
Você se olha no espelho e vê uma figura, mas na verdade não está vendo nada: a figura está sendo lhe mostrada pela sua mente. Só que esta amostragem da mente vem acompanhada pela força de maya e por causa disso você vive a ideia de ser real o que está sendo percebido. Por conta da força de maya você acredita que aquela massa que está vendo existe fora de você.
O que estou falando não tem nada a ver com espiritualismo. A própria ciência humana fala sobre a criação das formas externas. Ou será que você não se lembra mais da escola quando era pequeno? Lá era dito que o olho capta energias que são conduzidas ao cérebro e ali a imagem é formada. Sendo assim, o que está sendo visto nasce dentro de você e não fora, segundo a própria ciência humana.
Voltando ao que estava dizendo, você está sentado numa poltrona vendo um filme, que é o que está sendo criado pela mente. O que é projetado é acompanhado de uma força que lhe diz que isso é real, ou seja, que aquelas coisas estão acontecendo no mundo externo. A partir dessa visão sobre a sua vivência, pergunto: o que quer fazer? Que ação pode ter? Imagine-se agora sentado na plateia de um cinema: que ação você pode ter neste momento?
Participante: só assistir…
Não. Assistir você terá que fazer, pois está no cinema e o filme está sendo projetado. Você não pode desligar o projetor ou ir embora do cinema…
O que você pode fazer é gostar ou não do filme que está assistindo.
Isso é, também, a única coisa que você pode fazer com relação à projeção dos acontecimentos desta vida e por isso deveria ser a única coisa que deveria preocupar-se em fazer. Enquanto essa massa humana está percebendo um aqui fora, você que acredita em espírito e encarnação deveria ocupar-se em assistir ao filme e não em viver. Deveria, também, ao assistir, ocupar-se em usar o seu livre arbítrio e optar entre o bem e o mal: ficar em paz e harmonizado com os acontecimentos da vida ou não. Isso é o que pode fazer…
Por isso afirmo que o que você precisa se concentrar nesta vida não é em fazer coisas humanas ou sequer espirituais, não ser para ter ou ter para ser, mas em como vivenciar as coisas que a sua mente cria. Por isso o nome do trabalho da encarnação de um espírito é reforma íntima: reforma do seu íntimo.
Não estou falando em reforma do íntimo mental, mas sim do espiritual. Não o íntimo do ser humano, mas do espírito. Isso porque não se muda a mente, já que ela é o instrumento gerador da prova. Ela não pode ser alterada. Por isso a única coisa que você pode fazer é acreditar nela ou manter-se neutro ao que ela fala…
Participante: é preciso, então, ter resignação?
Não. Krishna chama a isso de equanimidade: ter uma só emoção não importa o que está acontecendo.
Apenas resignando-se você ainda está sofrendo: ‘eu queria ter aquilo e não tenho’, ‘queria ter cuidado melhor dos meus pais e não cuidei’, ‘queria fazer aquilo pelo meu filho e não fiz’. Vivendo este tipo de ideia ainda está sofrendo. Na verdade é preciso que você mantenha-se equânime e chamo isso de apatia ao que está acontecendo. ‘Eu perdi, perdi, e daí’? ‘Eu ganhei, ganhei, e daí’. É esta neutralidade, esta apatia, e não regozijar-se com a vitória ou chorar na derrota, que afirmo que deve ser a sua ocupação enquanto estiver assistindo ao filme da sua vida…
Participante: para chegar nesta neutralidade a resignação é uma etapa?
Sim, a resignação é uma etapa, eu até concordo. Mas, não se fixe nisso, pois se agir assim ao resignar-se vai achar que já fez tudo e não avançará até a apatia.
Saiba que a mente possui armadilhas e uma delas é dizer que você já fez, já conseguiu, quando ainda está no meio do caminho. Aceitando já ter feito, não fará mais nada. Mais: achará que já sabe fazer e por isso não precisa mais estar atento. Neste momento a mente jogará novas ideias e você não fará mais o que precisa fazer ou aceitará o trabalho que ela fizer achando que está se libertando dela.
Só que para chegar esta neutralidade de viver é preciso compreender o sistema humano de vida: a necessidade de ter ou a obrigação de ser. Por isso que estamos conversando hoje sobre isso…