Participante: numa situação real. Por exemplo, a mente nos leva a culpar-nos por algo que fizemos. Como não se subjugar a esta verdade individual?
Esse é um bom exemplo onde podemos utilizar o que já aprendemos.
O que você compreendeu que aconteceu é, na Realidade, uma verdade genérica que a mente lhe disse. O que está acontecendo não se trata de uma ação externa, mas de uma verdade genérica utilizada pela mente a partir de uma percepção de movimentação.
Só que a mente não parou por aí. Além da criação da Realidade ela também qualificou o acontecimento como ação errada utilizando-se de verdades individuais.
É da junção das duas verdades criadas pela mente que nasce a sua realidade: ‘eu pratiquei tal ação e ao fazer isso estou errada.
Agora veja bem. Não importa qual seja a situação onde imagine estar errada, sempre haverá outra pessoa que se julgará não errada ao vivenciar a mesma verdade genérica. Ou seja, sempre haverá uma pessoa que receberá de sua mente verdades individuais que justifiquem a ação de tal forma que deixe de ser errada.
Por isto, independente do que tenha praticado, posso afirmar que essa culpa é só sua e não Real. Isto porque é individual, compartilhada por uns e não por outros, e não universal. Por isso precisa libertar-se dessa qualificação para poder elevar-se espiritualmente.
Mas, fazer isso, como expliquei anteriormente, não é alterar o sentido da afirmação da mente, mas não se subjugar ao que ela fala. Nesse exemplo, dominar a mente não seria achar-se certa, mas não querer saber se está certa ou errada, declarar-se incapaz de julgar-se.
Ao invés de apegar-se a qualquer qualificação que o ego dê para uma verdade genérica, viva sem querer saber se o acontecimento está certo ou errado, se foi bom ou mal. Ao invés de querer qualificar o que está acontecendo, afirme o seguinte: “eu agi dessa forma e não vou aceitar nenhuma qualificação para minha ação. Não quero saber se estou certa ou errada. Ego, não serei escrava do seu julgamento”.
Participante: Mas, o outro nos acusa.
Mas, não é por isso que você precisa sentir-se acusada. Compreenda: o outro age assim porque está escravizado às verdades do ego dele e não porque o seu erro tenha existido realmente. Portanto, a culpa está apenas na mente dele e não na Realidade.
Só que para agir dessa forma, para entender que o erro está na mente de cada um e não na Realidade, é preciso que compreendamos o que é uma acusação, como você se sente acusada e outros aspectos referentes a essa verdade genérica (ser acusada).
Ao longo de nosso trabalho isso é feito justamente para aprendermos a ser senhor de nossa mente. No entanto, deixe-me já explicar uma coisa: ninguém pode fazer nada a você; só você pode decidir o que vai viver.
Se alguém lhe acusar e não se sentir assim, haverá uma acusação? Claro que não.
Por isso afirmo que na Realidade não foi o outro que lhe acusou, mas você que se sentiu acusada, ou seja, acreditou na qualificação de acusação que a mente deu à verdade genérica que aconteceu (o que a outra pessoa falou) e viveu tal realidade.
Isso é bem diferente da compreensão da vida que hoje tem, não? Por que? Porque viver desse jeito, com essa compreensão, é o fruto que colhe aquele que dominou a sua mente, que alcançou a elevação espiritual. Deixe-me contar uma história para compreender o que estou dizendo.
Havia um velho samurai muito sábio. Ele ensinava a arte da luta a alunos jovens. Um dia, um desses jovens, que era muito ganancioso e queria o lugar do velho professor, o desafiou para um duelo. Os demais alunos temeram pelo seu mestre, mas, incrédulos, assistiram o professor aceitar o desafio.
No dia marcado os dois estavam no meio da praça. Em volta os alunos do professor estavam apreensivos, pois sabiam que apesar do velho professor ser e muito sábio e experiente, o jovem era muito mais forte. Temiam pelo destino do seu mestre.
Quando se enfrentaram olho no olho o jovem, para atiçar o mestre e com isso ganhar vantagem, começou a ofendê-lo. Xingava o mestre e seus ancestrais manchando a honra de cada um de uma forma extremamente violenta.
Apesar disso, o velho mestre continuava impassível. Não fazia o menor movimento de ataque ao jovem o que exasperava ainda mais o pretendente à posição do professor. Com isso, os impropérios e ofensas aumentavam cada vez mais.
Os outros alunos do mestre já estavam perplexos e sentiam-se humilhados. “Como, o nosso mestre é ofendido publicamente e não reage. Que humilhação”. Cada vez que as ofensas aumentavam, os alunos mais se ressentiam da apatia do seu professor.
Essa situação durou por longas horas e consumiu todo um dia. O jovem ofendia, o mestre permanecia impassível e os outros alunos sentiam-se humilhados. Até que, cansado de tanto ofender, o jovem virou-se e foi embora sem lutar.
Os demais alunos, então, foram ao seu mestre e demonstraram toda a indignação que estavam sentindo por vê-lo tão humilhado sem reação. Foi nesse momento que o mestre demonstrou toda a sua sabedoria ensinou:
– “Se alguém lhe dá um presente, mas não o aceita, o que essa pessoa faz? Leva-o de volta, não? Então, todos os insultos que esse jovem trouxe de presente e que com a minha passividade demonstrei que não aceitava, teve que levá-los de volta. Eles não estão mais comigo, mas foram levados de volta pelo rapaz. Se reagisse a cada ofensa eu demonstraria que aceitei o presente e aí sim, teria sido realmente insultado”.
Esta história responde à sua pergunta. Domine a sua mente e não aceite os presentes que ela dá e não se sentirá acusado de nada.