Não preciso morrer, já sou um espírito.
Conheça esta verdade
Muito se fala sobre “amor” entre os seres humanos, mas eles mesmos admitem: é difícil definir esse sentimento. Isto ocorre porque existem diversos tipos de “amor”: amor carnal, filial, paternal.
Os amores conhecidos, no entanto, não podem ser o ensinado por Cristo, pois têm objetivos individualistas: amam aqueles que satisfazem. Para buscar a compreensão real do amor amplo e universal, aquele que não possui um alvo específico nem existe apenas como retribuição de ser satisfeito, há a necessidade aprender com quem o vivenciou.
Segundo João, o Evangelista, Cristo foi o “verbo”, ou seja, a ação. O Mestre, cuja missão foi trazer as leis amorosas de Deus, transformou a sua existência carnal na ação do verbo amar. Por isso todos os atos da sua encarnação bem como as orientações deixadas servem como ensinamentos para a ação do amor a toda humanidade de forma incondicional e não apenas a determinados seres de forma condicionada. É nesse exemplo de vida, que devemos, então, buscar as bases para a compreensão do amor universal.
Do que nos foi permitido conhecer de Cristo através dos evangelhos (canônicos e apócrifos) a primeira verdade que nos salta aos olhos é a alegria. No tempo em que as caminhadas eram feitas por caminhos duros e cumpridas apenas com o esforço físico do ser humano, o mestre não parou um segundo a sua peregrinação. Em momento algum temos notícia dele ter acusado sofrimento em seus atos, mesmo quando da crucificação.
Mesmo nos momentos que seu “futuro” lhe causava apreensão, Jesus dizia: “Pai, afasta de mim este cálice, mas se não for possível, cumpra-se a sua vontade”. A alegria de Jesus não se encontrava nos acontecimentos materiais, mas na glória de estar servindo a Deus.
Jesus poderia ter fugido de seus algozes. Demonstrou poder acima do material ao multiplicar os pães e os peixes, em transformar o vinho em água, ao caminhar sobre as águas, mas esquivou-se de utilizar estes poderes para fugir ao seu “destino”. Aquele que caminha sobre as águas certamente saberia levitar e poderia fugir dos seus algozes, mas Jesus não agiu dessa forma.
Esta visão encerra com a ideia sobre a paixão de Cristo como compreendida. O quadro da crucificação não deve ser entendido como uma paixão de sofrimento, mas sim como exemplo do amor maior que o Mestre dedicou a seus irmãos e ao Pai. Jesus entregou-se nas mãos de seus carrascos porque compreendia que essa era a forma determinada por Deus e fez isto alegremente.
Portanto, para amar como ele amou é preciso que o ser humanizado jamais perca sua alegria, mesmo nos momentos de sofrimento. Essa alegria, no entanto, não é vivida com um sorriso no lábio, mas sim com uma paz interior que nasce do sacrifício ao seu prazer pelo amor a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.
Por isso afirmo que a crucificação, a vivência de momentos não prazerosos, é o instrumento utilizado pelos seres humanizados para alcançarem a sua reforma íntima. Por isso é preciso que esse ser também tenha compaixão por si e por outros.
Toda existência carnal do Mestre, daquele que ensinou o amar, foi marcada pela compaixão, ou seja, pela consciência do sofrimento e não apenas pelo “pesar que nos desperta a desgraça, a dor” (Mini Dicionário Aurélio – 3a. Edição).
Cristo viveu com a plena consciência do sofrimento que passam os seres durante a busca da elevação espiritual na carne, mas ao invés de sofrer junto com os sofredores, ensinou que aquele que viver com fé em Deus terá suas lágrimas enxugadas: isto é compaixão (segunda Bem-aventurança).
Em nenhum momento das narrativas evangélicas se encontra Jesus ao lado de outro ser humano lamentando-se da “sorte” desse ou da sua própria. Ele sempre tem uma palavra de alegria e confiança em Deus.
Este é o segundo componente do amor universal: a compaixão. Amar o próximo e a si mesmo não significa consolar com lamentações, mas incentivar a ser feliz, apesar de tudo. Amar a Deus não significa sofrer, mas demonstrar a sua confiança no Pai, apesar dos acontecimentos.
Esta é a forma amorosa de proceder do espírito, mesmo que os atos contrariem os desejos. A felicidade não pode depender do contentamento do “querer” de cada um, mas tem que ser alcançada pela fé em Deus.
Quando Jesus, de chicote na mão, expulsou os mercadores do templo, o fez por compaixão. Apesar de aparentemente não parecer, foi um ato de amor, pois objetivou a felicidade espiritual daqueles seres, comprometida pela intencionalidade egoísta, querer o bom, durante seus atos materiais.
Seu que muitas vezes a compaixão do amor faz com que o ato não pareça caridoso, mas ele é. Cada ação que se prática durante a existência humana está sempre ligada ao objetivo da encarnação, da necessidade de provação do espírito. Isso é o que ensinou o Espírito da Verdade. É por isso que presença da compaixão do amor universal é necessária. Ela faz com que aquele que ama muitas vezes tenha que não contentar os conceitos materiais do outro espírito, mas auxilia-lo a “amar a Deus acima de todas as coisas”.
Para que isto ocorra, no entanto, a compaixão não pode contentar os conceitos de quem pratica o ato, mas sim os ensinamentos divinos. Admoestar outro ser humano porque “eu acho” uma determinada opinião sobre um assunto não é compaixão, mas autoritarismo.
É do autoritarismo egoistico que está presente na intencionalidade durante a vivência do acontecimento que nasce o terceiro ingrediente básico do amor universal: igualdade.
Amor com superioridade é dominação, com inferioridade é submissão. Para se amar outra pessoa é necessário ter a plena convicção de que não se é mestre nem aluno durante a vida humana: é apenas um irmão servindo de instrumento a Deus para ser o “sal da humanidade”.
O gesto do lava-pés que Jesus praticou, por muitos é entendido como de humildade, mas isto provêm do desconhecimento. Quando lavou os pés dos discípulos Jesus quis dar uma demonstração de igualdade e não de humildade. Por este motivo respondeu a Pedro: “Você agora não entende o que eu estou fazendo, mas vai entender mais tarde”! (João – 13,7). Jesus recebeu o mesmo tratamento anteriormente de seus discípulos e não poderia abandonar a carne sem também praticar este ato.
A igualdade do amor tem que dar o direito a cada um agir da forma que quiser, sem que seja julgado ou criticado por qualquer coisa. Um ser não pode se auto proclamar “juiz do mundo” e colocar-se na posição de portador das verdades universais apontando falhas em todos. Isto não é amor.
Jesus nunca afirmou ser o Deus, mas seu Filho. Foi bem claro ao dizer que não julgava ninguém, apesar de ter todo conhecimento das leis de Deus para isso.
Quando os homens de então lhe apresentaram a mulher adultera, o Mestre questionou com que superioridade alguém poderia penaliza-la. Ninguém se achou superior o suficiente, nem o próprio Jesus que simplesmente a mandou ir embora, aconselhando-a a não mais pecar.
Este é o amor de Cristo pelos seus irmãos, o de Deus pelos seus filhos e deveria ser o de cada espírito encarnado pelo outro, principalmente daqueles que se dizem cristãos.
Louvado seja Deus
Estejam em paz.