“028. Disse Jesus: tomei meu lugar no meio do mundo e em carne apareci a eles; encontrei-os todos ébrios e, no meio deles, ninguém encontrei sedento. E minha alma turbou-se pelos filhos dos homens porque eles são cegos em seu coração e não vêem que vazios vieram ao mundo e vazios tentam sair do mundo outra vez. Mas agora estão ébrios. Quando se livrarem do vinho, aí então arrepender-se-ão”. (Evangelho Apócrifo de Tomé)
“tomei meu lugar no meio do mundo e em carne apareci a eles”
“Eu preciso anunciar também em outras cidades a Boa-Notícia do Reino de Deus, pois foi para fazer isso que Deus me enviou” (Lucas – 4,43).
Jesus veio ao mundo para trazer a Boa Nova. Como disse o Mestre, a boa notícia que trazia era o verdadeiro sentido das leis de Moisés (Mateus – 5,17). A informação foi passada quando Ele resumiu todos os mandamentos em dois: amar a Deus acima de todas as coisas e amar ao seu próximo como você gostaria de ser amado.
A missão de Jesus, portanto, foi acabar com o temor a Deus, forma como os seres humanos entendiam as leis mosaicas, e criar o amor a Deus. Aceitar a vida na carne não por medo, mas por amor a Deus, acima de todas as coisas.
“encontrei-os todos ébrios”
Porém, o próprio Jesus afirmou que não conseguiu o intento, pois encontrou todos os seres humanos “inebriados”, ou seja, vivendo uma ilusão criada por eles mesmos. Isto também nos disse João:
“Ele veio para o próprio país, mas o seu povo não o recebeu”. (João – 1,11)
Isto aconteceu por causa da ilusão que o espírito adquire quando encarna: a de que se “transforma em um ser humano”.
“Alguns, porém o receberam e creram nele e ele lhes deu o direito de se tornarem filhos de Deus”. (João – 1,12)
O filho de Deus é o espírito, aquele que compreende e vive uma vida espiritual. Quando este espírito “esquece” esta sua situação e imagina-se um ser humano, ele se inebria com a ilusão de “poder” criada por esta forma e não consegue se subordinar a Deus.
Este é o “vinho” que Jesus afirma que deixou o espírito “ébrio”: o poder.
O poder de “ser”, “fazer”, “querer”, independente da vontade de Deus. Este poder inibe o conhecimento espiritual, pois o espírito passa a se imaginar como “causa primária” das coisas e se esquece que somente Deus, por sua Perfeição, pode causar alguma coisa.
Aqueles que se imaginam seres humanos não conseguem abrir mão do poder. Apegam-se a falsas verdades que criam para si mesmos com a intenção de manter esse “poder” Imaginam que o ser humano é capaz de, por sua própria vontade, ferir outro e que têm o livre arbítrio de praticar tudo o que desejam, sem dar satisfação ao Pai.
Foi assim que o ser humano criou o bem e o mal, a fim de qualificar o que concorda e o que discorda. Intitulou-se o “juiz do mundo” ao inebriar-se de “poder”…
Para ocupar esta posição, criou leis pessoais que são utilizadas para “julgar” os outros. Isto é bom e aquilo é mal, Isto é feio, mas daquela forma é bonito.Se for assim será certo, mas se fizer assim será errado…
Os parâmetros destas leis, entretanto, variam de pessoa para pessoa e cada um tem o seu “limite” para separar o bem do mal, o feio do bonito e o certo do errado.
Uma lei só pode ser considerada perfeita se tiver abrangência universal, ou seja, se for igual para todos. Como as leis pessoais variam, elas são apenas “verdades pessoais” e não leis universais. Por isto não podem servir para “julgar” outras pessoas.
Por este motivo Jesus afirma que estas leis criaram uma ilusão de “poder”, que não permitiu que houvesse o perfeito entendimento da Boa-Nova.
“e, no meio deles, ninguém encontrei sedento”
Para entender plenamente a Boa Nova trazida por Jesus, é necessário que o ser humano abdique deste poder que imagina ter e volte à realidade: DEUS.
Por isto a boa notícia começa por: AMAR A DEUS ACIMA DE TODAS AS COISAS.
“Eles se tornaram filhos de Deus não por nascimento natural, isto é, como filhos de um pai humano; foi o próprio Deus quem lhes deu a vida”. (João – 1,13)
É preciso que se abra mão do poder de “achar” qualquer coisa e nos submetamos a Deus como CAUSA PRIMÁRIA DE TODAS AS COISAS.
Deus não pode fazer o mal a alguém, pois é o Amor Sublime, mas também não pode fazer o bem porque é a Justiça Perfeita. Se privilegiasse alguém em detrimento de outro, perderia esta característica.
Amar a Deus acima de todas as coisas é pertencer e entregar a Ele o seu poder de “julgar” as coisas. É encontrar em tudo os atributos que transformam Deus em CAUSA PRIMÁRIA DAS COISAS, INTELIGÊNCIA SUPREMA DO UNIVERSO, JUSTIÇA PERFEITA E AMOR SUBLIME.
Quem entrega seu poder de julgamento das coisas a Deus vê sempre a perfeição do ato que está acontecendo, pois uma Inteligência Suprema não comete falhas; encontra sempre a justiça do acontecimento, pois a Justiça Perfeita seria incapaz de privilegiar alguém e só encontra felicidade com o sucedido, pois sabe que foi comandado por um Amor Sublime, muito acima de sua compreensão.
Quem se entrega a Deus está sedento pelas atitudes Dele em sua vida. Enquanto o ser humano permanecer inebriado com o poder de julgar os acontecimentos não terá “sede de achar” a Deus e não entenderá que suas atitudes não condizem com a lei Dele pois não seguem as Verdades Universais.
“E minha alma turbou-se pelos filhos dos homens porque eles são cegos em seu coração e não vêem que vazios vieram ao mundo e vazios tentam sair do mundo outra vez”.
Quando o espírito encarna, vem com a intenção de provar a Deus que aprendeu o Seu mandamento, praticando provas, cumprindo missões e passando por penas. Ele vem vazio da lembrança espiritual para que possa comprovar que interiorizou o Amor Universa, os mandamentos de Deus.
É com a prática da lei de Deus que o espírito recebe mais Amor Universal.
Entretanto, quando fica “ébrio”, ele busca cada vez mais o “vinho” que mantém a sua ilusão e cada vez mais ele se especializa em “criar” leis para reger o comportamento dos outros. Cria leis de sociedade, moral, ética, limpeza, arrumação, estética, para poder inebriar-se cada vez mais no poder de “julgar” e comandar os outros. Define o que é certo ou errado, bom ou mal, feio ou bonito dentro de padrões próprios para poder viver a ilusão provocada pelo “vinho”.
Estes espíritos retornarão à pátria espiritual sem acrescer nada ao Amor Universal, pois não conseguirão provar a Deus a sua submissão aos Seus mandamentos. Como ensinou Jesus na “Parábola dos Três Empregados”, quando chegar a hora da prestação de contas, “…aquele que muito tiver receberá mais, mas aquele que pouco tiver, até este pouco lhe será retirado”.
“Mas agora estão ébrios. Quando se livrarem do vinho, aí então arrepender-se-ão”
Este é o consolo de Jesus: Ele sabe que todo espírito um dia evoluirá. Não importa o grau de envolvimento alcançado pelo “poder”: todo espírito um dia amará Deus acima de todas as coisas. Quando este momento chegar, o espírito se reconhecerá como “filho de Deus” e creditará a Ele a sua vida.
Ficando “sóbrio” o espírito, então buscará o arrependimento da utilização do poder inebriante.
Entretanto, este arrependimento não pode ser alcançado como hoje os seres humanos o buscam. Não será se acusando ou flagelando-se que o espírito conseguirá enxergar Deus. Aquele que assim procede ainda está ébrio com o poder de encontrar o bem e o mal, o certo e o errado.
O arrependimento que Jesus prega é o não julgamento de si mesmo e a não auto acusação por ter agido de forma negativa. O sóbrio entenderá que procedeu daquela forma porque Deus comandou o seu ato daquela maneira, em conseqüência dos seus próprios sentimentos e buscará alterá-los para poder servir a Deus.
Por isto, tornar-se sóbrio é viver com felicidade, atribuindo alegria a tudo e ao que é praticado por ele mesmo, não encontrando em nada motivo para tristeza, infelicidade ou desconforto.